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Os 50 anos do Surfista Prateado | As curiosidades das HQs, do cinema e da TV

Listamos 23 fatos sobre a história do arauto que se tornou ídolo cult

29.03.2016, às 17H54.
Atualizada em 12.11.2018, ÀS 16H02

Prova de que não dá para prever o que vai fazer sucesso nos quadrinhos, o Surfista Prateado completa 50 anos este mês seguindo um conceito que é praticamente o mesmo desde sua origem: um cara pelado, pintado de prata, que voa pelo espaço numa prancha de surfe enquanto filosofa sobre a vida.

Não era para ser assim. Jack Kirby tinha outros planos para o Surfista quando o desenhou pela primeira vez. Stan Lee acabou adotando-o como porta-voz da sua filosofia poética sobre as agruras da existência. Os leitores adotaram-no como ídolo lisérgico. A Marvel tentou fazer dele líder da sua linha cósmica, de anjo alien, de personagem cômico. Mas o princípio nunca muda: é um cara pelado, pintado de prata, surfando no espaço numa prancha (que inclusive tem quilhas).

Na galeria abaixo, relembramos a história e algumas curiosidades sobre o Surfista Prateado:

 

As fundações da Casa das Idéias

Primeiro é preciso entender que, nas cento e poucas primeiras edições de Quarteto Fantástico, Stan Lee e Jack Kirby criaram o Universo Marvel e colonizaram-no com ideias magnânimas. Em 1966, quando estavam perto do número 50, Lee queria uma ameaça à altura do número comemorativo: Galactus, um alien que literalmente devora planetas. É o começo da famosa "Trilogia Galactus", de Fantastic Four #48 a #50.

Da prancheta de Kirby

Stan Lee não escrevia roteiros. Ele passava uma resumão da história para Jack Kirby e Kirby desenhava a narrativa do jeito mais bombástico que pudesse imaginar. Com os desenhos na mão, Lee acrescentava narração e falas. O esquema de trabalho deu certo durante anos. No caso de Fantastic Four #48, edição de março de 1966, quando Lee recebeu as páginas de Kirby, encontrou um personagem que não estava no seu resumo: um alien careca e nu que voava numa prancha de surfe.

Batedor

Ao ver o personagem pela primeira vez nos esboços de Fantastic Four #48, Stan Lee perguntou para Jack Kirby: "Quem é esse?". Kirby, sem tirar o charuto da boca: "Esse tal de Galactus tem que ter tipo um batedor, alguém que vai na frente conferir se o planeta é um prato bom e anunciar a chegada do chefe. Ah, e cansei de desenhar nave, então botei ele numa prancha". Nasce o Surfista Prateado.

Café da tarde

Recém-chegado na Terra, ainda sem dar um pio, o Surfista leva uma porrada do Coisa e acaba caindo, por coincidência, no apartamento da namorada do herói, a escultora cega Alicia Masters. A bondade de Alicia - que até prepara um café da tarde para o Surfista - faz ele repensar se devia ter trazido Galactus à Terra. "Nunca havia tido sensação como esta... o que alguns chamam de... piedade!"

Condenado à Terra

Depois de Surfista Prateado chegar à Terra e se apiedar dos humanos em Fantastic Four #48, a história é conhecida: ele se une ao Quarteto Fantástico contra Galactus e juntos impedem que o gigante devore a Terra. Pelo atrevimento, Galactus condena o Surfista a nunca mais deixar a Terra. Ele ainda tem seus poderes, mas vira mais uma figura zanzando pelo Universo Marvel entre as tantas que Lee e Kirby foram deixando ao longo dos anos 1960.

Intensivão

O Surfista fez sucesso inesperado tanto entre leitores quanto na cabeça de Stan Lee, que viu no alien de prata uma boca para toda a poesia que queria derramar sobre a existência, sobre como a humanidade não consegue viver em paz, sobre a beleza do mundo e a inexplicável vilania do homem. Cinco meses depois de sua primeira grande história, o Surfista voltava à revista do Quarteto anunciando que tinha viajado por todo o planeta e aprendido "tudo o que há para aprender".

John Buscema

Depois de repetidas participações na série do Quarteto e uma curta história solo, o Surfista ganhou sua primeira revista em 1968. Stan Lee chamou seu Michelangelo pessoal, John Buscema (1927-2002), para pegar pesado na dramaturgia: poses e expressões faciais rebuscadas que mostrassem como doía no alienígena entender a humanidade e, por outro lado, o quanto ele se irava com aqueles que se opunham a planeta tão belo.

Shalla-Bal

É na série solo iniciada em 1968 que ficamos conhecendo a origem do Surfista. O paradisíaco planeta Zenn-La seria devorado por Galactus; Norrin Radd, um zennlaiano sonhador, resolve oferecer sua vida em troca da sobrevivência do planeta - sobretudo de sua amada Shalla-Bal. Galactus aceita Norrin como seu arauto, o lacaio imbuído de poder cósmico para singrar o espaço à procura de planetas para o chefe devorar - e nunca mais voltar a Zenn-La. Nem a Shalla-Bal.

Fosforescente

A revista do Surfista começou saindo num formatão avantajado, maior que os outros gibis Marvel dos anos 1960. A ideia era diferenciá-la para alcançar o público universitário, mais velho. O resultado de vendas não animou, e a revista ficou no formato americano tradicional depois de seis meses. Mesmo assim, diz-se que não havia dormitório universitário nos EUA dos anos 1970 que não tivesse um pôster do Surfista Prateado em cores fosforescentes - ideal pra você ficar analisando quando está chapado de LSD.

Pivô da discórdia

Jack Kirby havia criado o Surfista Prateado na sua prancheta sem participação de Stan Lee. Lee fez o personagem tomar rumos próprios, inclusive em uma série solo sem a participação de Kirby. Este, enciumado, pediu para desenhar uma edição da revista do Surfista. Nela, o alien deixa de ser o melhor amigo da humanidade e revolta-se contra tudo e todos. A chamada da próxima edição dizia: "A seguir: o Sensacional e Selvagem NOVO Surfista Prateado". A edição nunca saiu, pois a revista foi cancelada. E Kirby saiu da Marvel.

Defensores

Sem série depois que sua HQ solo durou apenas 18 edições, o Surfista começou a vagar pelas séries dos outros. Contracenou com Thor, voltou a se meter com o Quarteto Fantástico e acabou caindo nos Defensores, uma superequipe curiosamente formada apenas por heróis que trabalham melhor sozinhos: Dr. Estranho, Hulk, Namor e ele. A equipe durou anos, mas digamos que o Surfista nunca foi um membro muito presente.

Beach Boy

No início dos anos 1970, Stan Lee foi encarregado de vender o Universo Marvel a Hollywood. Depois de infinitas reuniões com executivos, diretores e atores, saía na mídia dizendo que tinha filmes "confirmados" com vários personagens Marvel. Um deles seria justamente O Surfista Prateado, que teria Dennis Wilson (1944-1983) - baterista dos Beach Boys e grande fã de gibis Marvel - no papel principal. Nem o filme nem a carreira cinematográfica de Wilson aconteceram.

Os fãs no cinema

Em A Força de um Amor (1983) - remake americano do famoso Acossado (1968) de Jean-Luc Godard - Richard Gere interpreta um ladrãozinho cuja maior inspiração na vida é... o Surfista Prateado. Gere recita trechos dos discursos grandiloquentes do herói para sua namorada e briga com quem não gosta do super-herói. Foi a consagração do status cult do Surfista. Outro filme em que o Surfista é fruto de debate de fãs: Maré Vermelha (1995), com Denzel Washington.

Fim da maldição

Após quatro anos praticamente sem dar as caras nos gibis, o Surfista foi ressuscitado para uma nova série titular em 1987. O roteirista Steve Englehart e o desenhista Marshall Rogers fizeram a primeira coisa que não se fazia com o personagem em 20 anos: tiraram-no da Terra. A revista durou mais de dez anos com aventuras do Surfista principalmente nos vários confins galáticos do Universo Marvel.

Surfing with the Alien

Enquanto o personagem voltava aos gibis, também aparecia nas lojas de discos. O guitarrista Joe Satriani inspirou-se no Surfista a ponto de colocá-lo na capa de seu segundo álbum e compor uma música instrumental em sua homenagem: "Surfing with the Alien" (também título do disco). A ilustração era uma reprodução de uma HQ do Surfista com desenhos de John Byrne e Tom Palmer.

A preferida de Lee

Enquanto o personagem voltava às revistas mensais, um encontro de gigantes acontecia em Los Angeles: Stan Lee e o francês Jean "Moebius" Giraud decidiram fazer uma HQ juntos, e um amigo achou que o Surfista Prateado era ideal para ambos. Lee vez por outra diz que Parábola, a minissérie em duas partes publicada entre 1988 e 1989 (e depois republicada como graphic novel) que resultou da parceria, é sua HQ preferida.

Arauto da Marvel cósmica

Quando Jim Starlin assumiu a série do Surfista, em fins dos anos 1980, seu primeiro ato foi ressuscitar o grande vilão cósmico da Marvel: Thanos (criação, aliás, do próprio Starlin nos anos 70). A revista do Surfista virou ponta de lança para a grande saga cósmica Desafio Infinito e toda uma linha de revistas com a temática cósmica, que fez sucesso nos primeiros anos da década de 90.

Arauto das capas cromadas

Um dos chamarizes que os quadrinhos dos EUA criaram nos anos 90 foram as "enhanced covers", ou capas especiais, com algum efeito gráfico que justificasse preço mais alto - e virasse item de colecionador. Silver Surfer #50 foi uma das primeiras, em 1991: o personagem-título e o título ganharam alto-relevo com revestimento laminado. O chamariz se repetiu no Brasil em Superaventuras Marvel n. 153 (editora Abril) embora a moda não tenha pego por aqui.

Kirby na TV

Se você lembrar, com sinceridade, que o Surfista Prateado teve uma série animada só dele, você merece poderes cósmicos. Produzida pela Saban para o canal Fox Kids em 1998, a série teve apenas 13 episódios cujo destaque foi a boa intenção de reproduzir o traço de Jack Kirby (bastante estilizado).

Anjo alien

A série do herói criada nos anos 1980 durou quase 150 edições. Depois disso, o Surfista Prateado só voltou a ser titular numa série em 2003, com proposta bem diferenciada: o casal de roteiristas Dan Chariton e Stacy Weiss tratou-o como um anjo alien, uma figura quase muda que aparentemente estava raptando crianças superdotadas na Terra. Embora inovadora, a série durou só um ano.

Réquiem

Enquanto o Surfista finalmente dirigia-se para as telonas - em Quarteto Fantástico e o Surfista Preateado, de 2007 - a Marvel apostou em várias minisséries com o personagem. A melhorzinha delas, Requiem, por J.M. Straczynski e Esad Ribic, trata do herói sofrendo uma espécie de câncer. Grant Morrison chegou a propor Surfista Prateado: Ano Zero, na qual o surfista seria o arauto selvagem, aniquilador, que Jack Kirby queria - mas o projeto não foi para a frente.

Comédia e experimentalismo

A última série mensal do personagem estreou em 2014. Dan Slott e Michael Allred deram uma parceira de viagens/par romântico ao Surfista, a terráquea Dawn Greenwood, e aventuras principalmente fora da Terra. Fora o tom cômico, a série também tem várias experimentações gráficas, como uma edição em que a história segue as dobras da Fita de Möbius e cria uma narrativa com vários finais possíveis.

E a bendita quilha?

Jack Kirby desenhou a prancha do Surfista Prateado com uma quilha nas primeiras aparições do personagem. Logo depois se deu conta que, para surfar no ar, você não precisa da pontinha que ajuda os surfistas de praia a se prender na onda. Desde então, a decisão é do desenhista: às vezes o Surfista tem uma prancha com quilha, às vezes sem. (O desenhista da série atual, Mike Allred, prefere com.) Fãs sugerem que a recente descoberta das ondas gravitacionais finalmente deu razão aos primeiros desenhos de Kirby.