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ANIME SONGS - O som dos heróis japoneses

ANIME SONGS - O som dos heróis japoneses

31.01.2003, às 00H00.
Atualizada em 15.11.2016, ÀS 10H03

Ichirou Mizuki

O imperador das anime songs

JAM Project

Mari Iijima - a musa de Robotech

Hironobu Kageyama - o número 1

Megumi Hayashibara

No Japão, mais do que em qualquer outra parte do mundo, as trilhas sonoras têm um lugar de destaque no mercado fonográfico. Tratadas como um gênero independente, as anime songs ocupam um lugar próprio nas prateleiras das lojas de CDs na Terra do Sol Nascente. Termo usado para abranger músicas de animações, o anime song ou anisong (forma abreviada) engloba também as músicas criadas para filmes e séries live-action, temas cantados de games e até músicas inspiradas em personagens que ainda não saíram da mídia impressa.

Nos últimos anos, as anime songs têm sido o primeiro contato de muita gente de fora do Japão com o mundo da música japonesa. O gênero é o responsável por uma grande divulgação dessa produção musical no ocidente, e cada vez mais valores de renome deixam as anime songs sem nada a dever aos grandes nomes da música pop ocidental.

Mesmo com as famigeradas versões em português tão em moda atualmente, muitas trilhas já mostradas no Brasil foram mantidas intactas, fazendo com que fãs cantarolassem as músicas de seus heróis sem entender uma palavra do que diziam.

CANÇÕES HERÓICAS

O gênero surgiu entre os anos 50 e 60, junto com os primeiros seriados de TV. No entanto, foi somente na década de 70 que o segmento anime song passou a ser identificado e reconhecido como tal, ganhando seções próprias em lojas e magazines. Um dos responsáveis por isso foi o cantor Ichirou Mizuki, sucesso nos anos 70 com os temas de Mazinger Z e Captain Herlock. Tendo conseguido reconhecimento para si e para o próprio gênero, Mizuki é chamado de o Imperador das Animesongs. Gravou mais de mil músicas, cuja a maioria foi cantada ao vivo numa maratona que durou mais de vinte horas seguidas. Conhecido no Brasil por ter interpretado o vilão Dr. Bio na série Jaspion 2 - Spielvan (1986), Mizuki também integra o conjunto JAM Project, ao lado de grandes nomes especializados nesse segmento.

Com o passar do tempo, o anime song, que, no início, tinha o estilo similar ao de marchas militares ou cantigas infantis (o tema do primeiro Ultraman é um bom exemplo disso), foi incorporando elementos de música enka (ritmo tradicional japonês) e sons ocidentais, como a disco music (até hoje presente), o technopop e toda a diversidade do rock. Nessa salada de estilos, até baladas em ritmo de bossa-nova já apareceram em trilhas sonoras.

Com tantas influências quase incompatíveis entre si, o que caracteriza uma anime song não é seu ritmo (já que não existe um específico), mas sua finalidade. No conteúdo, além de letras óbvias com detalhes da história e das personagens, as anime songs mais características também têm letras que valorizam temas como amizade, liberdade, amor, justiça, vitória e esperança.

Uma das músicas que marcou época foi o tema da Patrulha Estelar (Uchuu Senkan Yamato), cantada pelo vozeirão de Isao Sasaki, um intérprete dos mais respeitados e que também cantou os temas de Metalder e Galaxy Express 999. A versão em inglês, Star Blazers (também tocada quando a série foi exibida no Brasil), foi uma das poucas traduções a manter o mesmo pique da original. Seguindo a mesma linha, o tema de Speed Racer é uma versão bastante fiel ao original e empolgou várias gerações de fãs.

Para muitos, as anime songs mais reconhecíveis como tal são músicas de batida forte, ritmo vibrante, refrões grudentos e letras heróicas. Nesse aspecto, os temas de Dragon Ball Z e Jaspion encaixam-se perfeitamente. Todavia, isso não representa a essência das anime songs em sua totalidade.

A POPULARIZAÇÃO

Nos anos 80, a explosão do movimento J-pop (pop-rock japonês) deu novos ares às anisongs. Saindo do estereótipo das músicas heróicas e quase sempre voltadas ao público infantil, o mercado impôs baladas românticas e músicas dançantes dentro das trilhas sonoras. Deu certo, com esse tipo de música combinando mais com animês e séries voltadas ao público juvenil e atraindo consumidores de música pop em geral. O ponto inicial desse movimento foi a série Macross (adaptada nos EUA como Robotech), com as canções da personagem Lynn Minmei (e sua dubladora Mari Iijima) ganhando lugar nas paradas de sucesso em 1982 e detonando uma nova fase para as anime songs, que passaram a englobar açucaradas músicas de grande apelo popular.

Com maior variedade de sons e propostas, alguns nomes emergiram, com destaque para Megumi Hayashibara, dubladora e cantora de inúmeras produções. Elevando dubladores-cantores à categoria de astros pop, as anisongs embaladas pelo J-pop também marcam a estréia de um grande número de novas apostas das gravadoras a cada ano. Em outros casos, nomes consagrados do cenário musical levam seu prestígio (ou tentam recuperá-lo) no mercado de trilhas sonoras.

Com o J-pop, as anime songs extrapolaram o público otaku e de fãs em geral e ganharam a atenção de gente que sequer gosta dos animês. Exemplos disso não faltam, como as músicas das aberturas de Samurai X (Sobakazu, canção do grupo Judy and Mary), Street Fighter Victory (Kaze fuiteiru, de Yuki Kuroda) e Ultraman Tiga (Take me higher, do grupo V6). Intimamente ligado com a milionária indústria do J-pop, o mundo das anime songs ainda tem espaço de sobra para os cantores especializados nesse nicho de mercado, que não pára de crescer. Nos últimos anos, são constantes os lançamentos de versões de trilhas clássicas, seja em versões remix, com batidas eletrônicas ou até em estilo heavy metal, trazendo anime songs para todos os gostos.

JAM PROJECT: De volta para o futuro

Como que contra-atacando as armações do mundo do J-pop, um grupo de cantores de anisongs resolveu lançar por conta própria uma grande jogada de marketing. Cinco dos maiores nomes do gênero montaram um conjunto pra marcar época: o JAM Project (Japan Animationsongs Makers). São eles: Hironobu Kageyama (talvez o mais famoso cantor de anisongs, ele cantou temas de Dragon Ball Z, Changeman e Maskman, entre outros), Rica Matsumoto (Pokémon, Kamen Rider Ryuuki), Masaaki Endo (Cybuster, Street Fighter Victory), Ichirou Mizuki (Spielvan, Mazinger Z) e Eizou Sakamoto (ex-vocalista da banda Animetal, famosa por covers de animesongs em versão roqueira). Depois, juntou-se a eles o ainda novato Hiroshi Kitadani (One Piece e Kamen Rider Ryuuki), completando um dos melhores conjuntos vocais do Japão.

O objetivo desse grupo ao se reunir pela primeira vez em 1999 foi captar a essência das anime songs tradicionais (sem o lado tão meloso do J-pop), acrescentando uma pegada mais roqueira e moderna nos arranjos. O JAM Project tem como principal cabeça Hironobu Kageyama, que mostra seus dotes como compositor depois de anos cantando anime songs. Explorando as diferentes combinações de vozes poderosas, o repertório do JAM Project é capaz de empolgar até mesmo quem acha que música de seriado de super-herói é coisa de criança.