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C6 Fest | Dia 2 tem profetas eletrônicos e sonoridades da África como destaque

Festival tem dia com performances essenciais para o repertório de quem ama música

21.05.2023, às 10H01.
Atualizada em 23.05.2023, ÀS 12H31

No segundo dia do C6 Fest, além da programação interessante com novos artistas em conjunto com outros extremamente conhecidos - Jon Batiste, Mdou Moctar, Kraftwerk e Underworld -, também foi o momento de compreender se a dinâmica com palcos separados funcionava bem para o deslocamento do público.

De entrada, apesar dos da proximidade dos espaços, se deslocar da Tenda Heineken para a área Externa Metlife, não foi uma jornada simples. Mesmo com a boa vontade dos assistentes, a travessia de um espaço para o outro leva um tempo considerável.

No entanto, apesar disso, a seleção musical continuou em destaque com trajetos muito bem delineados. Assim, se no primeiro dia, a tônica pareceu ser os desafios sonoros, o foco da curadoria do sábado estava bem delineado entre os profetas da música eletrônica e as sonoridades do continente africano, como contou um dos curadores do festival, Felipe Hirsch.

Com esse norte esclarecido, acompanhar cada uma das apresentações, se tornou uma viagem ainda mais interessante. Abrindo o dia na Tenda Heineken, o artista camaronês Blick Bassy criou uma atmosfera tranquila e encantadora, que se expandiu e cresceu a cada nova música. A voz com nuances melodiosas, acompanhada por um duo de multi instrumentistas, foi um afago na alma. Acalmou e tirou lágrimas de quem chegou a tempo de fazer parte da experiência coletiva criada por ele.

Estreando a área externa Metlife, Model 500 live by Juan Atkins, foi a grande chance de presenciar um dos pioneiros do techno de Detroit mostrando sua sonoridade em um espaço gigante. Uma apresentação forte e que deixou claro como sonoridades criadas para tocar nas pistas, décadas atrás, ainda mantém potência e pegada que reverberam nos corpos e mentes que gostam de dançar. Uma belíssima abertura para as sonoridades que ainda seriam apresentadas durante a noite.

Enquanto os sons eletrônicos dominavam o palco externo, Russo Passapusso, Nomade Orquestra, B Negão e Kaê Guajajara entregavam, na tenda, uma apresentação com sabor de Brasil. O resultado dessa mistura sonora foi justamente o que se esperava: intensidade excepcional. Um baile dançante, quente, para animar a fria noite paulistana, regado a músicas marcantes de cada um dos convidados, com tudo embebido na musicalidade absurda da orquestra que entregou uma performance grandiosa. Uma apresentação para manter sempre viva na memória.

Logo em seguida, depois dessa profusão de sons que fazem parte da rotina brasileira, foi a vez do guitarrista Mdou Moctar, estrear no Brasil. Originário da República do Niger, o músico tuaregue, juntamente com sua banda, entregou uma performance cheia de energia e hipnotizante. Os timbres da guitarra em conjunto com a levada percussiva criaram um momento de intensidade acachapante, de “virtuose sem ser chato” - como dito por uma das pessoas na audiência -, e que permaneceu durante toda a apresentação. Um músico que precisa ser visto mais vezes e que já fica a torcida para retornar logo ao Brasil.

Simultaneamente com o show de Mdou Moctar, acontecia no espaço externo a apresentação do Kraftwerk, gerando um daqueles momentos em que o desapego precisa ser exercitado, afinal de contas, os alemães são responsáveis por boa parte do que a música eletrônica representa hoje.

Eles foram profetas e continuam na ativa, condensando multidões com suas sonoridades cheias de história. São músicas e sons que, mesmo expostos por tanto tempo a complexa dinâmica das pistas, ainda permanecem hipnotizando o público. E claro, presenciar uma performance do grupo, com projeções na imensa parede do Auditório Ibirapuera só aumenta a potência desse momento, que por diversas vezes lembrou uma sessão de cinema com música ao vivo. Clássicos como “Music Non Stop”, “The Robots” e “Boing Boom Tschak”, não perderam a força, mostrando o porquê de terem estabelecido alguns dos caminhos que permanecem relevantes até hoje para a música eletrônica. É um aceno pelo retrovisor que mostra com clareza o caminho pelo qual a música continua seguindo.


Encerrando a programação da área externa, e chegando aos profetas mais próximos do contemporâneo, os britânicos do Underworld apresentaram uma força descomunal. O duo formado por Karl Hyde e Rick Smith impressiona pela apresentação intensa, que transformou todo o espaço em uma imensa pista de dança.


Durante todo o show, cada nova faixa apresentada só dava a certeza de que, por mais que muitas pessoas - os curadores do festival, inclusive - tenham dito que a performance deles é realmente poderosa, compartilhar o mesmo espaço que suas músicas mostra o quão incrível é a experiência criada pela dupla. Justificando o termo utilizado por Hirsch, eles foram profetas que criaram sonoridades capazes de manter pessoas dançando freneticamente por mais de 30 anos… Eles realmente viam o futuro, e isso, no presente, faz com que Underworld seja algo imprescindível para quem ama música.

E fechando os dois caminhos criados pela curadoria do C6 Fest, na Tenda Heineken, Jon Batiste entregou mais um show excelente em solo brasileiro. Pouco antes do cantor conquistar o público com seu show enérgico, sua banda transformou o espaço do festival em uma grande ala de escola de samba, conduzindo a plateia por uma belíssima homenagem às sonoridades brasileiras e encerrando a apresentação nos braços do público, talvez, como uma forma de mostrar o quão próximo ele se sente de cada uma das pessoas que fizeram parte daquele momento apoteótico.

Por fim, no segundo dia do C6 Fest, apesar do deslocamento entre palcos com alguns ruídos, a música prevaleceu. As duas trilhas pensadas pela curadoria funcionaram com ainda mais força para quem pôde estar no Ibirapuera nesta noite fria de sábado, entregando o que se espera de um festival: exposição a músicas e artistas que irão marcar nossos dias por um bom tempo.