O terceiro dia do C6 Fest aproveitou o sol e toda a beleza da área externa Metlife para homenagear a música brasileira. Com uma programação que privilegiou o fim de tarde no parque, o show de abertura do espaço foi uma homenagem ao seminal ano de 1973 e contou com Kiko Dinucci e Juçara Marçal mais participações de Arnaldo Antunes, Giovani Cidreira, Jadsa, Linn da Quebrada e Tulipa Ruiz. Uma apresentação repleta de homenagens e músicas essenciais que pavimentaram esses 50 anos de história da música brasileira.
Seguindo a linha das homenagens aos artistas e às sonoridades brasileiras, Tim Bernardes foi o responsável por trazer à tona toda a emoção das canções cantadas por Gal Costa. Com uma performance intimista, com voz e violão, o artista conduziu a plateia por uma jornada através dos grandes sucessos de uma das cantoras mais emblemáticas da música brasileira. Uma homenagem digna de grandes estrelas e que rendeu uma profunda troca entre público e artista.
Na Tenda Heineken, pouco antes de Caetano Veloso dominar o palco da área externa, os britânicos do Black Country, New Road, realizaram uma das apresentações mais inspiradas do festival. Com uma sonoridade que bate muito forte ao vivo, paixão e viagem musical foram o combustível para uma plateia atenta e responsiva. Durante a quase uma hora de show, cada virada, mudança de ritmo ou pausa, era abraçada com muitos gritos e aplausos. Talvez essa reação se deva à sonoridade quase espiritual da banda, que prolonga suas faixas com temas instrumentais e variações que remetem aos melhores elementos sonoros de bandas como Arcade Fire, The Magic Numbers e Dave Matthews Band.
Foi uma belíssima apresentação, apaixonante e emocionante, energia que corrobora com o conceito descrito por Felipe Hirsch, um dos curadores do C6 Fest, para o terceiro dia do evento: em um palco, “homenagens a sonoridade brasileira”, e no outro, “paixão”, quesito que ficou em total evidência.
Retornando às sonoridades brasileiras, Caetano Veloso foi o nome escolhido para encerrar o palco da área externa. Um dos nomes que, nesses 50 anos, nunca deixou de organizar e buscar caminhos como parte da música brasileira, chegou com muita vitalidade e vontade. Cantando para um público composto por famílias e pessoas de diversas idades, o músico baiano entregou uma performance perfeita para potencializar ou reconectar toda a audiência com alguns dos principais elementos que a música brasileira tem a oferecer.
E, nesse caso, falar sobre o repertório é quase uma covardia, já que Caetano tem clássicos capazes de preencher muito mais do que a uma hora de show que realizou. Porém, "Menino do Rio", "Baby" e "O Leãozinho", geraram uma bela catarse.
Enquanto Caetano encerrava sua apresentação, a Tenda Heineken recebia o show da artista estadunidense, Weyes Blood. Com o público na mão, a cantora optou por começar com algumas das suas faixas mais famosas e seguir alternando sonoridades e atmosferas. Acompanhada de uma banda ágil, toda sua dramaticidade foi muito bem empregada em uma performance delicada e impactante. Conhecida por alguns como a “Joni Mitchell millennial", Weyes vai muito além disso, com uma voz que remete a muitas outras e, ainda assim, apresenta um frescor que mesmeriza a audiência. Por fim, depois de desfilar sua musicalidade, a artista fez questão de destacar que precisa voltar logo ao Brasil, para tocar músicas dos seus álbuns mais antigos. Sem dúvida, a gente vai aguardar esse retorno.
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Finalizando a programação guiada pela paixão apoteótica, a War on Drugs chegou com tudo que se espera de uma banda de rock que tem, tão latente como parte do seu repertório, a sonoridade do sul dos Estados Unidos e influências como Bob Dylan e Bruce Springsteen. Com guitarras carregadas e um vocal que emula - em diversos momentos - os dois cantores citados, o grupo tem uma performance interessante, mas, apesar de momentos muito bons como em "Strangest Thing" e "Harmonia's Dream", grande parte da apresentação caminha de mãos dadas com uma proposta linear, ponto que agrada bastante quem tem como alicerce musical as guitarras do folk rock estadunidense. Foi um show que poderia, facilmente, ter aberto o palco, funcionando como um ponto de partida para os outros nomes da noite.
Apresentações Pacubra/Tokio e Auditório Ibirapuera
As atrações que passaram por esses espaços, durante os três dias, também merecem muito destaque. A curadoria dessas apresentações, assim como nos palcos maiores, colaboraram para que diversas conexões sonoras diferentes fossem possíveis. Passando por Disco Tehran, Gop Tun, Femini Hi Fi, Deekapz até Samara Joy, Tigran Hamasyan Trio e The Comet is Coming, o C6 Fest conseguiu proporcionar surpresas muito boas para quem pôde explorar todos os ambientes.
A primeira edição do C6 Fest
Sem dúvidas, esse foi um festival para instigar novas possibilidades para quem gosta de música. A curadoria entregou uma programação coesa e que, em diversos momentos, deixou a escolha de qual show acompanhar realmente complexa. Todos os palcos tiveram seus grandes momentos, movendo o público que busca por novas experiências artísticas a ter a chance de acompanhar performances que não contam com uma demanda explícita no Brasil.
No entanto, a dinâmica de ingressos separados para cada palco é algo que pode ser revisto, juntamente com a possibilidade de realizar mais shows em horários que não tenham conflito, seguindo o exemplo da agenda do último dia.
No geral, o C6 Fest trouxe o DNA instigante dos festivais irmãos, realizados anteriormente, e foi certeiro ao apostar em um frescor para a cena que, se perdurar, será responsável por criar uma geração de fãs de música com ouvidos e olhos abertos para vários sons que habitam o mundo.