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Crítica

From Zero é mais uma das reinvenções do Linkin Park

Novo álbum entrega familiaridade, mas experimenta novos territórios

18.11.2024, às 19H24.
Atualizada em 19.11.2024, ÀS 16H47

É fácil se acomodar no argumento de que Linkin Park é uma banda previsível. Os dois primeiros álbuns, afinal, têm sonoridade muito similar, e não coincidentemente são os mais conhecidos da banda. Escutando com mais calma, entretanto, as nuances de cada trabalho de Mike Shinoda e cia. são bem distintas entre si — From Zero, álbum que joga o Linkin Park de volta aos holofotes após sete anos, é mais uma prova disso.

Do som mais limpo do Minutes to Midnight à melancolia do One More Light, passando pela narratividade do A Thousand Suns, é nítido perceber pequenos experimentos e evoluções ao longo da trajetória da banda. Muito disso passa pelas mãos de Mike Shinoda e, especialmente, do DJ Mr. Hahn, que é o grande responsável pelo tom dos oito CDs de estúdio do Linkin Park.

A adição de Emily Armstrong, com a difícil responsabilidade de substituir Chester Bennington, adiciona ainda mais à mistura, e é fácil perceber que existe um pouco de sua personalidade em Stained e Over Each Other. Esta última, inclusive, é a única que conta com participação instrumental da vocalista durante a turnê de divulgação do From Zero.

Ambas soam bem diferente do que se espera do Linkin Park, mas isso não é exclusivo de Armstrong. O próprio Shinoda se arrisca em novos territórios: Cut the Bridge e Casualty mostram o rapper mais agressivo, praticamente gritando. Quem já escutou várias de suas apresentações até conhece um pouco dessa "versão” de Mike, mas ela não é tão frequente no estúdio.

Enquanto isso, Mr. Hahn é aquele que parece ter levado mais ao pé da letra o nome do álbum. A introdução até brinca com From Zero fazer referência a "sair do nada", assim como Hybrid Theory e Meteora fizeram, e não é à toa que Two Faced parece ter saído direto de um desses dois, com os mesmos scratches que consagraram a banda no início dos anos 2000.

A mesma sensação pode se estender para Heavy is the Crown, com versos de rap que também lembram os trabalhos iniciais de Shinoda. Ainda que sua letra esteja mais ligada ao mundial de League of Legends, campeonato que a usou como música tema, o subtexto de Emily tentando se provar frente a uma fanbase que idolatra Bennington está ali — e seu screamo de 17 segundos é um ótimo argumento para provar que ela merece essa posição.

Mas talvez a maior familiaridade com o começo da banda esteja nas letras, bastante ligadas a relacionamentos frustrados e saindo um pouco da política tão abordada em Minutes to Midnight, The Hunting Party e principalmente A Thousand Suns.

Há espaço para discutir se caberia uma música sobre Chester na tracklist, que tem apenas 11 faixas somando pouco menos de 30 minutos. Por um lado, Mike Shinoda já compôs o álbum Post Traumatic, focado especificamente na morte de seu melhor amigo, e seguir em frente com Emily Armstrong pode ser o caminho mais sensato. Por outro, Dave Farrell, Hahn e Brad Delson também poderiam estar envolvidos em um trabalho que homenageia o antigo amigo — no fim, a decisão fica nas mãos da banda como coletivo.

From Zero mostra que, sete anos depois, o Linkin Park segue inventivo enquanto ainda consegue ser familiar para quem acompanhou o trabalho da banda após o Meteora. O novo álbum não fica devendo nada aos fãs, que têm muito a comemorar e escutar depois de praticamente sete anos sem grandes novidades.

Nota do Crítico
Ótimo