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Música

Crítica

Requiem é o álbum mais curto do Korn - e o seu melhor em 17 anos

Mesmo não inovando, banda mantém evolução dos últimos trabalhos

04.02.2022, às 16H26.

Com apenas nove músicas e pouco menos de 33 minutos, o novo álbum do Korn, Requiem, é o mais curto da carreira do grupo. Para uma banda com quatro lançamentos de mais de uma hora, a duração do novo trabalho poderia indicar uma escassez de material, mas é justamente a concisão que faz do sucessor de The Nothing (2019) um trabalho tão interessante, certeiro e divertido. 

O álbum abre com "Forgotten", segundo single divulgado, que logo na introdução traz uma das características mais marcantes da banda californiana: guitarra filtrada e crescendo de bateria que desemboca em um riff explosivo e sincopado. Aqui, o instrumental é impecável e a timbragem das guitarras de sete cordas, precisa. No verso, somos reconfortados pela voz familiar e icônica de Jonathan Davis, que se agiganta num refrão recheado de oitavas e dobras vocais. Nada foge da fórmula consagrada pelo Korn - mas a música vai tão direto ao ponto que é difícil resistir ao apelo.

O disco segue bom e direto em "Let The Dark Do The Rest", um pouco mais lenta, com refrão pegajoso e encerramento em staccato gutural, "Você me deixa doente" (estaria a banda se referindo à Sars-Cov-2?). A terceira faixa de Requiem é "Start The Healing", que após uma breve introdução instrumental nos apresenta um Jonathan Davis mais suave, reflexivo e maduro. A melodia fantasmagórica faz um convite sinuoso: "Você realmente quer vir comigo? É difícil ver pelos olhos de um estranho". O verso sussurrante de Davis é acompanhado pelo riff sincopado de Munky, Head e Fieldy e a levada de bateria sempre poderosa e frenética de Ray Luzier, membro fixo do Korn desde 2010. Desde que entrou na banda, aliás, Luzier é sempre um show à parte, e suas performances malabaristicas ao vivo são de cair o queixo.

Em seguida, um dos riffs de guitarra mais interessantes, dinâmicos e tortos do álbum abre a excelente "Lost In The Grandeur", canção que já havia sido descartada de álbuns anteriores. Trabalhando no disco durante a quarentena, sem pressão de agenda e a correria das turnês, o quinteto teve o tempo necessário para deixar a faixa no que parece ser a sua versão ideal. Durante o processo, inclusive, Fieldy, o baixista, anunciou sua saída temporária do grupo - mas suas gravações, um pouco discretas no álbum, foram mantidas.

Chegamos na segunda metade do álbum com “Disconnect” e “Hopeless And Beaten”, que apresentam as produções vocais mais bacanas de Requiem e um Jonathan Davis particularmente inspirado: melismas suaves e harmonias sofisticadas intercaladas por berros de alguém que está bravo com algo importante. Aliás, o cantor de 51 anos parece se divertir horrores nessas faixas; Davis revelou em entrevistas que passa por um período muito bom de sua vida, em contraste ao luto pessoal que atravessou antes do lançamento de The Nothing.

O terço final do disco abre com "Penance To Sorrow" e "My Confession", as duas músicas menos marcantes do trabalho, que revelam o ponto fraco do álbum como um todo: a falta de inovação. Após quase 30 anos de banda, é inevitável que as composições e os arranjos optem por clichês já batidos e previsíveis e, nos momentos menos criativos do álbum, o Korn até esboça virar uma caricatura de si mesmo, como em Korn III: Remember Who You Are (2010), pior momento de sua discografia. Mas felizmente o álbum é curto, a escolha do repertório, acertada. A produção de Chris Collier é impecável e a sonoridade,  pesada mas limpa, violenta mas suave, uma dialética sonora que é a própria definição dos pioneiros do Nu Metal. "Worst Is On Its Way" fecha Requiem de forma magistral, com o já clássico rap indecifrável de Davis, presente em faixas antológicas como “Twist” e “Freak On Leash”. Em tempos de fan service arraigado, o Korn não fica para trás e dá uma piscadela às franquias de super-heróis. 

Com Requiem, Korn faz seu melhor álbum desde See You On The Other Side (2005), embora em The Serenity of Suffering (2016) a discografia da banda já houvesse guinado para cima. É um pouco irônico que um álbum com um título mórbido e sacro, associado à obra final e incompleta de Mozart, soe tão despretensioso, mas é justamente essa leveza que faz de Requiem um trabalho agradável de se ouvir sacudindo a cabeça.

Nota do Crítico
Ótimo