Encontrar um álbum com mais de uma hora, produzido pela sua banda favorita, quase sempre é uma boa notícia. E, possivelmente, essa é a sensação dos fãs do Metallica ao dar o primeiro play em 72 Seasons, trabalho mais recente da banda. Porém, logo de cara a pergunta que surge é: será que os aficionados por uma das bandas de metal mais famosas do planeta querem mais do mesmo?
Na jornada auditiva do décimo segundo projeto dos estadunidenses (contando Lulu, projeto com Lou Reed), não se demora muito para entender que as faixas são longas por serem longas. Parece não existir um objetivo, a não ser dar tempo para que James Hetfield (vocalista), Lars Ulrich (baterista), Kirk Hammett (guitarrista) e Robert Trujillo (baixista) possam curtir o que estão fazendo. Isso não é necessariamente ruim. Mas com boa parte do disco parecido, recheado de timbres semelhantes e inventividade limitada, são raros os momentos que lembram a banda que tinha como destaque a busca por novos caminhos.
Claro que ter um grupo de músicos produzindo há tanto tempo (40 anos de estrada) e mantendo uma pegada intensa faz diferença. Eles podem trabalhar a história musical que criaram e explorar até onde podem chegar, mas a que custo? Talvez a intensa repetição de 72 Seasons seja simplesmente o resultado de um processo de gravação tranquilo, como destaca Lars: “possivelmente, este é o disco com menos atrito que nós já fizemos”.
A falta de conflito parece ter garantido espaço para que todos tentem algo, mas isso também pode ser a chave para que ideias não sejam discutidas e caminhos mais simples sejam traçados pela vontade de paz. Apesar da mesmice musical, no entanto, existem sim alguns momentos de brilho que podem gerar suspiros em um primeiro momento.
A tríade de abertura acelerada - “72 Seasons”, “Shadows Follow” e “Screaming Suicide”-, gera uma boa expectativa para quem aguardou sete anos pelo novo projeto dos quase sexagenários. “Sleepwalk my Life Away”, “You Must Burn” e “Lux Aeterna”, fazem a vez de mostrar que todos ainda têm intensidade, entregando timbres e riffs que recordam o início da carreira, e uma pequena - bem pequena - pitada de novidade. Isso, sem dúvida, agrada quem está em busca de recuperar o momento do encontro com a banda, mas a iniciativa não parece ir além disso. E é nesse ponto que o disco parece estagnado: sem entregar algo complementar ao que já foi visto anteriormente, 72 Seasons soa mais como uma repetição de fórmulas do que como um mundo de possibilidades.
Quando tudo parece caminhar para um mesmo lugar, no entanto, duas faixas da sequência final entregam um pouco do que 72 Seasons poderia ter sido se um desvio maior em relação ao passado tivesse acontecido. “If Darkness Had a Son” surpreende com uma camada rítmica diferente de tudo até o momento, chamando a atenção por suas síncopes, quebrando a tendência com uma jornada em um fluxo único. É uma boa faixa, que destaca como o Metallica pode fazer algo diferente e interessante, mesmo apostando em elementos familiares.
Mais adiante, a brutalmente delicada “Inamorata” encerra bem o projeto, entregando uma balada que explora um pouco de tudo que cada músico consegue fazer. Com mais de onze minutos de duração, a faixa lembra uma jam session que coloca os vocais de James em seu modo mais melódico. Durante tudo isso, cada um dos instrumentos recheia a jornada mais trabalhada, nos lembrando o brilho de pontos clássicos do grupo, com seus discos menos acelerados.
É claro que nenhuma banda, ou melhor, nenhum artista precisa ser perfeito sempre, mas não se entregar ao básico é um bom ponto. Fica o pensamento: se o Metallica, ao invés de 77 minutos, tivesse colocado um EP na rua, será que não teríamos algo mais interessante?
O conceito dos 18 anos
De qualquer forma, entre os pontos positivos, vale a pena mencionar o conceito que amarra as faixas: 72 estações, ou 18 anos, algo que Hetfield coloca como o momento que nos molda para o resto de nossas vidas. É a partir desse ponto que suas letras seguem referenciando as dores que passou quando jovem e o que elas acarretaram na forma como ele encara a vida atualmente: um senhor, que já foi uma jovem estrela do heavy metal, viciado em fama e que ainda tem uma relação complexa com as bebidas.
Compreender esse ponto deixa a arte da capa mais clara e impactante como parte da jornada que cada ouvinte presencia a partir do primeiro play. E aqui entra o destaque principal: apesar de caminhar em círculos, tudo leva a crer que os quatro membros da banda se divertiram nesse processo que teve início na pandemia e trouxe aos fãs alguns elementos importantes da sonoridade que tornou o Metallica a banda de metal mais famosa do planeta. Por fim, se a jornada criativa foi boa para o grupo, que eles continuem felizes. Mas se podemos pedir algo, é que isso esteja aliado à vontade de buscar caminhos desafiadores.