Certas coisas só se percebem de verdade quando vistas de perto. Esse é o caso do sucesso do "movimento de franquia" do Rock in Rio - festival de Roberto Medina que ganhou o mundo ibérico na virada dos 2000 e já contabiliza cinco edições em Lisboa e três em Madri, a última realizada entre os dias 5 e 7 de julho.
Pitbull
Incubus
rock in rio madrid
Red Hot Chili Peppers
Gogol Bordello
David Guetta
Apesar das piadas óbvias relacionadas ao nome e a localização do evento, a ideia da produção tem suas vantagens. Sem querer se firmar como lançador de tendências ou descobridor de caminhos musicais, o RiR aposta no certo e seguro, e se impõe como boa opção de festival de massa ao público latino.
Tanto que, além de Portugal e Espanha, já tem marcada sua primeira parada em Buenos Aires para 2013, meses depois de voltar à terra natal. Além disso, há boatos de edições no Peru e México para 2014.
A fórmula certeira e pouco arriscada é composta por artistas de primeira linha das rádios FM - que, sabe-se bem, segue um padrão de medalhões por boa parte do Ocidente. Basta olhar o line-up dos dois últimos dias desta terceira edição do RiR Madri, que o Omelete conferiu in loco, no verão espanhol de 35º C. A banda californiana Red Hot Chili Peppers foi a estrela de encerramento, ao lado de Incubus e Gogol Bordello - que não é hit, mas diverte qualquer público mais animado.
A noite anterior - acerto da organização - foi customizada para aproveitar a boa fase do eletrônico pop e o gosto dos espanhóis pelas batidas (estamos na terra de Ibiza, afinal). O palco principal contou com um line-up de DJs liderado por David Guetta e Pitbull.
Em comparação à versão brasileira, o RiR Madri é menos gigantista e tem público mais comportado (alguns usariam o termo "civilizado"). Assim como no Brasil, acontece também em um complexo construído especialmente (la Ciudade del Rock) em Arganda del Rey, a 30 quilômetros de Madri - com direito a tirolesa, roda gigante e grama artificial para segurar a poeira do lugar. Apesar do clima árido, que castiga os presentes, a vantagem do verão europeu é ter um sol a pino até quase dez da noite, o que só aumenta a festa.
Em um clima assim, fica divertido ver a guerra de Guetta e Pitbull pela preferência do público latino.
O primeiro entrou no palco com ritmo do popstar que é, meio a um show de fogos de artifício. Guetta se aproveitou do ritmo de boate criado pelo DJ (também francês) Martin Solveig, um dos parceiros de Madonna no seu último álbum, MDNA.
O produtor leva a vantagem pela sua popularidade e técnica - que gera boatos de que leva sets prontos para seus shows. Pitbull, em contrapartida, abusa da latinidade, sua marca registrada.
De bigodinho safado, com apoio de uma banda, canta e reinventa hits. Alguns são dele (como "I Like I", parceria com Enrique Iglesias), outros parecem inevitáveis e ouvimos até "Ai Se Eu Te Pego", do brasileiro Michel Teló.
Improvisa também sobre "Seven Nation Army", do White Stripes, hino extraoficial da torcida da seleção espanhola ao ganhar a Eurocopa, uma semana antes. Com isso, não há técnica de David Guetta que sobreviva.
No segundo dia, depois do esquenta cigano do Gogol Bordello e um show "para fãs" do Incubus - que foi de "Privilege" a "Sick Sad Little World", passando por "Anna Molly" e "Love Hurts" - o Red Hot Chili Peppers liderou o momento mais animado do festival madrileño.
Prata da casa, os californianos fizeram sua quarta participação na franquia do Rock in Rio - contando duas no Brasil e uma em Lisboa.
Batendo nos trinta anos de carreira, os californianos são hoje o tipo de banda que arruma mais assunto com autobiografias do que com sua música. Mas não por isso fazem um show ruim.
Entre um Kiedis cinquentão e um Flea cada vez mais fora de órbita, o RHCP é escolado e ainda se segura sem virar caricatura. Passam rapidamente pelo último disco (I'm With You) e mergulham de cabeça em outros hits - "Suck My Kiss", "Californication", "Under The Bridge", "By The Way" e "Give It Away".
Assim como o Rock in Rio, os californianos dão certo ao investir no repertório conhecido e seguro. Banda certa, festival certo, público certo.
Eduardo Viveiros viajou a convite do Submarino