Música

Entrevista

De chefe de cozinha a DJ, Matador retorna ao Brasil em setembro

Um dos principais nomes do techno mundial fala sobre música, admiração a Blade Runner, Pink Floyd e mais

16.08.2017, às 12H28.
Atualizada em 16.08.2017, ÀS 15H01

Matador é atualmente um dos principais nomes do techno mundial, ganhador do DJ Awards’ 2016 na categoria de Melhor Performance Live, o DJ e produtor é conhecido por seus live sets que entregam sonoridade única em conjunto com uma apresentação marcante e arrebatadora, detalhes que fazem de Gavin Lynch, seu nome de batismo, sinônimo de boa música e criações focadas em uma audiência que busca por texturas e possibilidades diferentes. O irlandês retorna ao Brasil, depois de um longo período, para apresentação única no dia 30 de setembro e antes do desembarque em terras tupiniquins conversou com o Omelete sobre o início da carreira, a vontade de fazer trilha sonora para filmes e mais - veja abaixo.

Lynch, que durante um tempo foi chefe de cozinha, decidiu trilhar o caminho da música eletrônica após estudar engenharia de som e posteriormente se trancar em um estúdio por um ano para tentar tudo ou nada. A dedicação do produtor em torno de suas criações fez com que Richie Hawtin (quase no final do prazo) ficasse interessado por sua música e, a partir daí, seu som característico passou a fazer parte de alguns dos principais line-ups de música eletrônica ao redor do mundo.

Matador abre a conversa desmistificando seu nome artístico e comenta que a ideia surgiu “Do fundo da minha cabeça” e segue, “Eu senti que o personagem ‘Matador’ seria alguém misterioso e envolto em escuridão que se encaixa no estilo de música que eu estava escrevendo naquele momento. Eu fazia parte de uma dupla e estava convencido que aquele seria o projeto que iria dar certo e esta se tornou a minha pequena parte do projeto”, destaca.

E como um artista de nuances únicas e diferentes, Matador também fala dos desafios de criar e apresentar sempre performances “ao vivo”, já que não pode simplesmente “acessar o Beatport” e baixar novas músicas para sua apresentação no final de semana. “[Live set] é um desafio constante, pra ser honesto. Porque eu tenho que estar de forma consistente no estúdio, semanalmente, escrevendo novas músicas para fazer com que as coisas fiquem frescas tanto pra mim quanto para o público. É desafiador, vamos dizer assim”. O produtor, além de trabalhar com a parte artística da música também iniciou, em 2016, a gravadora Rukus e desde então tem lançado criações muito peculiares como “Haze Moon”, produzida pela DJ e produtora brasileira ANNA.

Sobre essa nova frente de trabalho Lynch comenta que esse novo trabalho tem aberto sua mente para explorar novas ideias, sons e técnicas. “Se eu quero lançar algo que eu sinta ser especial ou não-convencional, eu posso fazer isso”, e segue afirmando que estar em estúdio com essa possibilidade em mente é algo libertador: “[...] você não precisa se encaixar em nenhuma sonoridade particular de um selo ou gravadora o que, muitas vezes, esconde a criatividade original”. Mas, apesar do sentimento de liberdade que ter sua própria gravadora dá, o produtor faz questão de enfatizar que não sente que todo mundo tenha que abrir um selo próprio. Antes disso, “É muito importante conquistar suas técnicas, trabalhar com outras gravadoras, construir sua própria técnica de estúdio e conhecimento de indústria e, o mais importante, construir um bom catálogo musical. Isso faz com que a vida seja bem mais fácil quando você parte para criar seu selo”, pondera. Aproveitando o papo sobre música e gravadora, Matador comentar sobre a presença de ANNA (a primeira artista “outsider” a lançar uma faixa autoral pelo selo) em sua empreitada, afirmando que já estava ligado nas produções da brasileira há algum tempo. “Eu estava prestando atenção na ANNA há alguns anos, já. Ela sempre fez um som que ressoa em mim, com linhas de baixo grandes e fortes e muitos tons sombrios, como não gostar?”. E justifica a entrada da DJ em seu selo ao afirmar que a produtora está em um excelente nível de produção e mantendo a sonoridade sombria que ele ouviu anos atrás, “o que se encaixa perfeitamente na Ruckus”.

E claro, todas as nuances que Lynch presa em sua música e também na música de quem trabalha com ele é fruto de bastante estudo e atenção aos detalhes. O irlandês é conhecido por estudar muito seus equipamentos e dedicar grandes períodos de foco em suas criações. Sobre a fama de nerd dos equipamentos eletrônicos, ele comenta que gosta muito de entender todas as suas peças de forma profunda. “Eu me lembro quando estava no curso estudando engenharia de som e os manuais do Logic e do Ableton eram materiais obrigatórios”. Porém, ele confessa que não é um grande leitor e que se aprofunda nos manuais quando não consegue descobrir algo que precisa ou quando se trata de uma tecnologia muito nova. “É muito importante conhecer seus equipamentos para realmente maximizar o que você consegue tirar deles. É só pensar que meu SH101 cinza foi o equipamento que me tirou do meu quarto e me levou para o palco, então conhecer um instrumento de forma completa pode ser algo realmente poderoso”.

O produtor vive atualmente em Dublin, na Irlanda, (após um período em Berlim) confessa que estar em sua cidade, ter seus amigos e família por perto é algo que o faz se sentir mais forte, “Eu criei um ambiente no qual é incrivelmente fácil fazer música”. “Uma base sólida é muito importante no que a gente faz e sem este tipo de controle, você pode se perder facilmente”.

Lynch, além de nerd dos equipamentos eletrônicos também tem uma forte ligação com diversos segmentos musicais e filmes. O produtor já confessou que sua infância foi cercada por música negra, Motown, que seus pais ouviam muito, e sempre que pode comenta sobre sua paixão por Dark Side of The Moon, seja pela sonoridade do disco, seja pela história contada por meio das músicas. Mas, dessa vez, quando perguntado sobre que outro disco, mais recente, seria capaz de gerar nele sensações parecidas com as da criação do Pink Floyd, ele vai segue para uma sonoridade um pouco mais dançante e menos contemplativa. “[...] se for um disco como um todo, uma jornada, uma viagem, com uma narrativa muito clara e que eu tenha ouvido centenas ou até milhares de vezes seria Plan B - The defamation of Strickland Banks. Esse álbum tem diversos hits que foram muito bem nas rádios, mas existe uma linha que liga todo o disco, algo muito puro, com músicos incríveis, muitos metais (do que eu sou um grande fã, meu avô era trompetista) e faz com que esse projeto seja uma grande audição pra mim”.

Sobre filmes, e trilhas sonoras, Matador é categórico ao responder para qual filme gostaria de criar músicas: “Essa é fácil, Blade Runner!!!”, e confessa que já deixou o novo trailer de Blade Runner 2049 no mudo para criar algumas coisas. “Este é um campo pelo qual sou fascinado. Eu sempre fui muito aficionado por filmes desde muito novo, então, com certeza, esta é uma área que eu irei explorar em um futuro próximo”.

Fechamos a conversa com duas indicações do DJ para quem gostaria de conhecer um  pouco mais do trabalho desenvolvido pelo irlandês que, de entrada, sugere uma faixa de seu primeiro EP, “Kingswing”, e complementa com outra de um momento um pouco mais recente, a colaboração com Felix Da Housecat, “The Enemy” - ouça abaixo.

Matador vem ao Brasil para apresentação única na Laroc Club, no dia 30 de setembro.