O Depeche Mode está na estrada desde 1980 (a década e o ano) com uma carreira repleta de sucessos e é, sem dúvida, uma daquelas bandas responsáveis por mudanças e inovações musicais que poucas conseguiram alcançar de forma tão expressiva. Com tudo isso em jogo, não dá pra negar que ao contrário de muitos grupos considerados clássicos que ainda estão na ativa, os ingleses não vivem de saudosismo e nem da reciclagem do que poderia ter sido sua grande fase.
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Em turnê mundial para divulgar seu disco mais recente, Spirit (Leia a crítica), o grupo mostra que está afiado e que não tem feito músicas novas somente para matar tempo. Com faixas como “Cover Me”, “Where's the Revolution” e “Going Backwards” (três do novo disco que fazem parte do show) cantadas a plenos pulmões pelo público, o trio mantém seu papel de influenciador sonoro, sem perder a qualidade.
Na única apresentação realizada no Brasil, depois de 24 anos sem passar pelo país, Dave Gahan, Martin Gore, Andy Fletcher (membros da formação original) e os músicos de turnê - Christian Eigner e Peter Gordeno - entregam o show ideal para quem ama música. Realizando a, já esperada, mistura perfeita entre a sonoridade eletrônica e a pegada rock n’ roll, dá pra afirmar que não há um minuto na apresentação em que a audiência não esteja conectada com o que acontece no palco.
Grahan - atualmente com 55 anos - arrepia desde o primeiro momento. Com sua movimentação grandiloquente e sem freios, sua presença é absurda e sua voz está impecável. Sem dúvida, o tempo tem feito bem ao frontman. Vê-lo se movendo no palco é a certeza de querer conseguir fazer o mesmo em algum momento da vida.
O show tem boa dinâmica, e já na trinca de abertura - “Going Backwards”, “It´s No Good” e “Barell Of Gun” - ganha o jogo graças a mistura entre uma boa entrega sonora e, possivelmente, a vontade dos fãs de rever os ingleses em um bom momento depois de tantos anos longe. Assim, seja nos momentos menos agitados ("Home", "Insight" e "Strangelove") cantados por Martin, ou nas horas mais rock n´roll, não dava pra negar que um bom show estava acontecendo, mesmo depois de uma chuva de outono.
Na apresentação tudo funciona muito bem, além da banda, os vídeos exibidos durante algumas das músicas são potencializados em conjunto com a luz que parece milimetricamente pensada para garantir as nuances perfeitas em cada momento das mais de duas horas de show. Nota-se aí a mão de Anton Corbijn, diretor de filmes e clipes, responsável por pensar em toda a estética do novo trabalho do DM e também do show. E claro, também têm os clássicos, que chegam no final pra deixar o sabor de quero mais. “Everything Counts”, “Enjoy the Silence”, “Strangelove” e “Walking in My Shoes” funcionam muito bem pra lembrar de onde o grupo veio e que não à toa estão onde estão.
Por fim, é a entrega perfeita de um show de rock de estádio (daqueles que todo fã gosta e sente falta) misturado com um bom evento de música eletrônica (cheio de cores, efeitos e som calibrado). A união do melhor dos dois mundos. Agora, depois dessa experiência, só resta torcer para que o grupo dure tanto quanto os Rolling Stones, continuem criando em alto nível e coloque o Brasil na rota mais vezes em breve, já que um bom show não faz mal a ninguém.
Gui Boratto: Com tempo curtíssimo, produtor mostrou um pouco de sua sonoridade para um novo público
Gui Boratto é um dos principais nomes da música eletrônica brasileira. Com trabalhos respeitados e dignos de nota em qualquer parte do planeta, o produtor brasileiro foi o responsável pela abertura do show do Depeche Mode em São Paulo. Boratto, mesmo com uma apresentação curta - aproximadamente 35 minutos - conseguiu mostrar um pouco de seu som, mesmo sem poder construir as nuances que tanto impressionam em seus sets.
Uma pena que esse momento, possivelmente, não foi o suficiente para apresentar toda a gama sonora de Boratto para uma boa parcela do público que - possivelmente - ainda não conhece seu trabalho e perguntava: “Você conhece esse tal Gui Boratto? Ele é bom?”.