Alguns músicos já surgem lendários. Eddie Van Halen é um deles. Muita gente já havia demonstrado sua habilidade na guitarra quando aquele jovem holandês, criado nos EUA, apareceu com um solo no primeiro disco - homônimo - de uma banda que levava seu sobrenome. A performance ganhou o título "Eruption". Foi como um "cala a boca, ouve isso e treina mais" para todo mundo que se achava o bonzão da guitarra, no rock. O ano era 1978 e muito moleque quis aprender a tocar por causa daquilo. "Eruption" pôs o Van Halen no topo da lista de novas boas bandas do hard rock e seu guitarrista passou a frequentar todas as listas de melhores do mundo.
A curiosidade para ver Eddie - que na verdade se chamava Edward Lodewijk Van Halen -, seu irmão Alex (bateria), o baixista Michael Anthony e o vocalista David Lee Roth ao vivo colocou o Van Halen na estrada em longas e lucrativas turnês. No palco, Eddie exibia toda sua criatividade em solos que deixavam os fãs grudados em seu dedilhado e também na mania de colocar a palheta na boca, vício que, chegou-se a especular, mais tarde teria ajudado a deflagrar o câncer na garganta que o matou nesta terça, 6 de outubro de 2020.
A ânsia mundial de ver um show do quarteto chegou ao Brasil, ainda que tenha demorado. O Van Halen tocou no país em janeiro de 1983, na turnê que promoveu Diver Down, seu quinto disco. Na época, era raríssimo ver um artista internacional por aqui. É possível encontrar a apresentação do Van Halen em São Paulo no YouTube, uma reprodução da que foi exibida pela TV Bandeirantes, na época. A qualidade é ruim, mas suficiente para se perceber que o grupo fez ótima performance.
Kevin Winter/AFP
O Van Halen mostrou um repertório de mais de 25 músicas. O show foi no ginásio do Ibirapuera. A vinda incluiu uma apresentação no Rio de Janeiro, no Maracanãzinho, muito citada como "ensurdecedora" em grupos de fãs; e outra em Porto Alegre, no Gigantinho.
Ficou famosa a frase que o vocalista David Lee Roth soltou na coletiva de imprensa para os shows no Brasil, quando perguntado sobre o que conhecia de música brasileira: "Comprei umas fitas (cassete) virgens e trouxe um (aparelho) estéreo muito bom", falou o cantor.
Na mesma entrevista no Brasil, Eddie Van Halen mandou: "A razão de eu tocar desse jeito é que nunca me ensinaram nada. Acho que a melhor maneira de aprender as coisas é não ser ensinado".
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Foi a única vez que o Van Halen veio ao Brasil, apesar de Roth ter prometido que a banda voltaria. Ele voltou, mas em carreira solo, muitos anos depois.
Eddie e o irmão nem trabalharam mais com Roth por tanto tempo. Três anos depois, Sammy Hagar passou a integrar o Van Halen. A entrada do cantor alimentou a criatividade do guitarrista, mas agora para uma pegada mais pop. Como consequência, o Van Halen tomou as rádios dos EUA e do resto do mundo.
A lista de clássicos que Eddie gravou com o Van Halen é imensa. Além de "Eruption", tem "Runnin' With The Devil", "Panama", "Dance The Night Away", "Jump", "Dreams" e uma versão de "You Really Got Me", do The Kinks, entre outras.
A banda perdeu a força nos anos 1990 e ficou parada na década seguinte, ainda que, em 2007, Eddie tenha entrado para o Rock and Roll Hall of Fame. Em 2012, o guitarrista reuniu o Van Halen, com seu filho Wolfgang no baixo e Roth nos vocais, para A Different Kind of Truth, último disco do grupo.
Oito anos depois do derradeiro álbum, Eddie perdeu sua longa (mais de dez anos) batalha contra o câncer. O músico teve também problemas com o alcoolismo, ao longo da carreira. Nada disso vai impedir que ele esteja agora mostrando o melhor show de rock que já foi feito no céu, alternando solos com Jimi Hendrix.