Esperar 4 anos para lançar um (esperado) segundo disco na era da superinformação - onde tudo tende a ser esquecido rapidamente sem ser absorvido direito para que o próximo "gênio" apareça - é uma jogada ousada no mundo da música. Mas as irmãs HAIM sabem muito bem o que elas podem ou não fazer e, se esperaram esse tempo, foi justamente para deixar todo mundo com a ansiedade no ponto certo pra devorar Something To Tell You com a empolgação que ele merece.
E a empolgação tem tudo para ser correspondida. Danielle, Este e Alana estão ainda mais soltas e assumidamente mais pop-stars no novo disco. Desde Days Are Gone muitas águas passaram, e encontros com outros pop-stars também (Calvin Harris e Taylor Swift, por exemplo) - o que nitidamente as influenciou nas composições e principalmente no clima do segundo disco.
Ainda que elas tenham estreitado mais sua relação com a sonoridade rock dos anos 70 e 80 e com a soul music, elementos “modernos” pipocam o tempo todo em Something To Tell You, meio que querendo dizer que sim, elas são dessa época e estão conscientemente deixando isso bem claro com muitos efeitos sonoros e trucagens de estúdio. Surpresas muito bem-vindas, diga-se de passagem.
Com a ajuda do superprodutor Rostam Batmanglij (Vampire Weekend) e de Ariel Retschshaid, as irmãs HAIM se distanciam (um pouco) do pop fácil e chiclete para uma produção claramente mais preocupada e cerebral. Não quer dizer que elas vão virar o Radiohead, mas sim que há um capricho redobrado nas composições e um refinamento nas melodias. As músicas são agradáveis sem ser necessariamente óbvias ou rasas. O que faz de Something To Tell You um grande mérito do trio.
"Want You Back" e "Walking Away" são excelentes amostras do tempero soul que elas adoram usar, e se a técnica ou a produção podem parecer meticulosas demais à primeira vista, logo logo elas deixam transparecer toda a emoção por trás das músicas. "Little Of Your Love" também é outro grande acerto do disco: refrão matador e um arranjo que não poderia ser mais cool: elementos modernos misturados com as melhores referências do passado, para mostrar que ninguém aqui deixou de fazer sua lição de casa.
"Kept Me Crying" e "The Wire" também soam poderosas e talvez só "Nothing’s Wrong" seja um dos pouquíssimos momentos em que algo parece sair de controle. A música é boa e esbanja vocais poderosos, mas a produção transborda no final e o que se ouve vira uma grande bagunça sonora, ainda que cativante.
Mas mesmo isso só mostra o quanto elas estão se divertindo e curtindo o momento, tendo se preparado para impressionar no segundo disco (geralmente a prova mais difícil para qualquer artista) sem se deixar sufocar por ele. Aqui elas estão trabalhando muito sim, mas com leveza e malandragem. Pode não ser um disco pop perfeito, mas acredito que essa nem era a intenção delas. A intenção era provar que estão mais juntas do que nunca e prontas para viver uma das melhores fases de suas carreiras, esbanjando um som contagiante para quem quiser ouvir - ouça o disco na íntegra.