Música

Entrevista

IZA: “Eu quero, através do meu trabalho, conseguir oportunidades para que todas as mulheres negras tenham lugar de protagonismo”

Cantora dona dos hits “Ginga” e “Pesadão” se apresenta em festival na Barra Funda neste domingo (10)

08.06.2018, às 16H55.
Atualizada em 08.06.2018, ÀS 20H02

IZA é uma estrela pop em ascensão no mercado musical brasileiro. Com dois bons hits - “Ginga”, com Rincon Sapiência, e “Pesadão”, com Marcelo Falcão - a cantora já mostrou a que veio entregando músicas que passeiam por sonoridades diversas (“hip hop, capoeira, pop, R&B, jazz, blues, rap e até um pouco de samba”) e conversam com um público cada vez maior.

Isabela Lima, a mulher que saiu de Olaria, no Rio de Janeiro, para chegar aos palcos do Brasil, já se mostra como uma força artística que desde o momento em que abandonou a carreira publicitária para se dedicar ao sonho de ser cantora transpôs as adversidades da arte e da vida - cantando em barzinhos e postando covers de Sam Smith, Djavan e Rihanna no Youtube até que sua versão de “I Put a Spell on You”, de Nina Simone, chamou a atenção da Warner Music e a conduziu à carreira que almejava.

Entre a decisão de seguir seu sonho, sua apresentação com Cee Lo Green no Rock in Rio e a entrega de seu primeiro disco, Dona de Mim - lançado em abril - o caminho foi pesado, mas funcionou como um balizador necessário para que ela hoje seja capaz de entregar clipes com estéticas originais, faixas com assinatura sonora e também expressar por meio de sua música e sua voz, opiniões sobre temas como racismo, preconceito e representatividade de forma direta e natural.

A cantora se apresenta no 22º Festival da Cultura Inglesa, neste domingo (10) e contou ao Omelete um pouco da sua história, as escolhas de seu novo disco e também sobre seus posicionamentos.

Omelete: O disco Dona de Mim tem uma gama sonora bem ampla. Dá pra dizer que é o Pop em seu melhor estado: Uma combinação de ritmos que geram movimento. Com isso em mente, como foi o processo de concepção das faixas (a escolha do que iria estar no disco), e a busca pela sonoridade que você queria imprimir para o projeto?

IZA: A gente trabalhou nesse álbum por quase um ano e meio. Ele é o retrato de muito trabalho, muita dedicação e muita pesquisa. As músicas com participações foram feitas pensando em cada um dos convidado, por exemplo.

Quando criamos esse disco eu quis colocar tudo o que eu mais gosto de cantar. E pensei nas pessoas que eu mais admirava pra isso (Ivete Sangalo, Rincon Sapiência, o DJ e produtor Ruxell, Marcelo Falcão, Carlinhos Brown, Glória Groove e Thiaguinho). Eu sabia que cada uma das músicas tinha que ter aquele convidado específico.

Quando cada um deles aceitou eu fiquei feliz demais porque eu admiro demais todos eles. Eu queria muito falar sobre black music nesse disco. E apesar dele ser muito diverso - hip hop, capoeira, pop, R&B, jazz, blues, rap e até um pouco de samba - ele ainda é black music.

Omelete: Como funciona pra você estar em início de carreira e abordar temas tão importantes como racismo, a luta da mulher negra e outros tópicos que nem sempre são mostrados em grande escala na mídia?

IZA: Na verdade eu nunca tive a intenção de abordar esses temas. Eu acho que são coisas que acontecem na minha vida, são minhas vivências e meu ponto de vista, e isso se reflete no meu trabalho.

Eu lembro a menina que eu era e sei da importância de me ver nos lugares, de me sentir representada, ter uma mulher forte me dizendo todos os dias que eu posso e que quem sabe sou eu. Então, sempre que eu puder, quero passar essas mensagens através do meu trabalho.

A gente só tem noção do papel que exerce na vida das pessoas quando elas nos retornam as vivências delas com a nossa música, as experiências que elas tiveram lendo uma entrevista nossa ou o que elas sentiram quando viram a gente na TV, por exemplo.

Eu quero, através da arte, do meu trabalho, conseguir oportunidades para que todas as mulheres negras tenham lugar de protagonismo também, seja onde quiserem estar.

Omelete: E como você acredita que a sua música pode ajudar a conscientizar o público sobre esses temas?

IZA: Através do meu trabalho, quero mostrar para cada um que a gente pode estar onde quer estar. Que a gente pode ser quem quer ser. Quem toma as rédeas da nossa vida somos nós, não interessa o que a sociedade diz contra nós, o que falam do nosso corpo, da nossa maneira de ser e de pensar.

Omelete: Um detalhe que chama a atenção em suas entrevistas é a forma como você conta o processo que passou para entender sobre a sua beleza. E, agora, após esse processo, como é estar na vitrine - como alguém que mostra o poder da beleza negra brasileira, para as mulheres brasileiras -. Qual foi o fator/momento mais importante para que você compreendesse e fosse capaz de superar esse conflito tão presente na vida da população negra brasileira?

IZA: Eu me incomodava muito com minha aparência quando era mais nova. Com meu cabelo, minhas formas. Hoje eu entendo que tudo isso é muito lindo. Foi uma longa caminhada até entender que eu não precisava da aprovação da sociedade para me sentir bonita, desejada ou poderosa.

Foi um processo de autoconhecimento longo, que eu acho que todo mundo passa. Comecei a me olhar no espelho e amar o que eu estava vendo. Como eu disse, ver que algumas meninas e mulheres se sentem representadas por mim é muito gratificante.

Omelete: Falando sobre o momento em que você tomou a decisão de ser cantora, você já comentou que sua mãe - que também é ligada às artes - te deu apoio incondicional e que pra ela essa escolha era óbvia. Mas o que te deu o click para sair em busca da carreira de cantora?

IZA: Eu trabalhava com publicidade, a área que eu tinha me formado, mas estava muito infeliz. E comecei a refletir sobre o que eu queria fazer da minha vida mesmo que de graça. E foi aí que a resposta imediata foi a música.

Omelete: Sobre o show que você irá fazer aqui em SP no domingo, o que podemos esperar? Você está planejando algo diferente do que você tem apresentado em sua turnê?

IZA: Estamos em processo de transição para o show novo. Mas com certeza algumas músicas novas do Dona de Mim já farão parte do repertório desse show.

Vale lembrar que IZA é uma das atrações do 22º Festival da Cultura Inglesa que acontece no domingo (10) no Memorial da América Latina, a partir das 15h.