Quando eu saí de casa na manhã de sábado (11), não imaginava ir ao encontro do passado. Um passado até recente, considerando a minha idade, mas que após alguns anos parecia distante nas minhas memórias. Pitty e Nando Reis foram os responsáveis por resgatá-las durante sua apresentação no Festival João Rock 2022, o maior show da edição (e isso não é... uma questão de opinião).
O duo abriu a apresentação com um pot-pourri de “Admirável Chip Novo” e “O Amor”, seguido de “Memórias” e “Me Diga”. As quatro letras pareciam ter sido carimbadas na língua do público, que cantou a todo pulmão. Em seguida, eles iniciaram uma sequência de homenagens mútuas. Pitty puxou "Cegos no Castelo", enquanto Nando foi de "Na Sua Estante". Essa sequência foi até o final do sábado, com ele mandando "Temporal" e ela respondendo com "Por Onde Andei". A noite virou com cada um interpretando um hit próprio (Pitty/"Equalize" e Nando/"Resposta").
Esse reencontro, o primeiro na era da pandemia, me reconectou a uma criança que, sem videogame ou computador, dedicava suas tardes sem aula a assistir clipes na MTV e na Mix TV. A performance de Pitty e Nando foi construída apenas com clássicos — e vamos combinar que com esses dois a coisa fica fácil. O show não foi apenas marcado pelos títulos que um dia lideraram as paradas, mas também pela sintonia empolgante que as duas lendas do rock demonstraram no palco.
(A parceria dos dois atinge um lugar que merece atenção: será que não deveríamos dar mais valor aos hits que merecem hitar? E quando eu digo que merecem, por favor, não entenda como se isso já não tivesse acontecido. O que eu estou propondo aqui é que algumas músicas ganhem cadeira cativa nas paradas de sucesso. Posso soar pedante agora, mas no seu coração há uma música que te deixa exatamente assim — no meu caso, todo o setlist do show).
João Rock/Instagram/Reprodução
A apresentação deles no João Rock também destacou que Priscila continua a mesma Pitty que acendia o brilho no olho da família, mas agora conta com a sabedoria de uma artista consagrada que, como ela brinca em "Marvin", "aos 40 e pouquinhos sente todo o peso do mundo nas costas".
Falando em "Marvin", outros fatores alheios a esse show específico o tornam tão especial. Mais cedo, no mesmo palco, o público recebeu os Titãs, grupo do qual Nando fez parte por muitos anos. O CPM 22, que dividiu a era de ouro do rock brasileiro com Pitty, também cantou sob a mesma estrutura. Nem mesmo as várias toneladas de aço que formam o palco são páreas para o peso que essas apresentações representam. Da mesma forma, as centenas de refletores não foram o bastante para ofuscar o brilho que o rock nacional teve nessa noite.
Após a plateia pedir bis, a dupla retornou para fechar o primeiro show de uma das maiores parcerias do rock nacional de todos os tempos (mas isso é só... uma questão de opinião).
*O repórter viajou a convite do Festival João Rock