Agosto, mês do desgosto? Não para o fã de música! O infame mês está se aproximando do final, e com isso chega a nossa tradicional lista de lançamentos musicais imperdíveis, que como sempre inclui uma seleção eclética de ritmos irresistíveis: tem k-pop com BLACKPINK, NCT e Jihyo; música brasileira com IZA e Jaloo; rock com The Hives e Suzi Quatro; R&B com Halle, Xolo Maridueña (ele mesmo, o Besouro Azul) e Charlie Puth; balada country com Miley Cyrus; e aquele pop rock machucado de Olivia Rodrigo. Confere tudo isso, e mais um pouco, aí embaixo.
“I Got You” - INFINITE
Parte da segunda geração do k-pop, o INFINITE segue empunhando seus sintetizadores como armas afiadas - e “I Got You” é o melhor exemplo dentro do álbum mais recente do grupo, 13egin. Sem exagerar na produção, a canção lança mão de tons graves e agudos, todos perfeitamente polidos dentro da lógica elegante dos veteranos artistas (depois de certo tempo de carreira, certas extravagâncias não caem bem nem para os k-idols), para ladear uma melodia ousada, que transmite perfeitamente aquela sensação de desinibição que todos queremos na pista de dança. Junto da faixa de abertura “Intro: 13”, “I Got You” prova que o tempo desses artistas está longe de passar.
“Angel” - Halle
Não restava mais nenhuma dúvida da potência vocal de Halle Bailey depois do remake de A Pequena Sereia, mas ainda estávamos para descobrir o caminho que ela seguiria em sua carreira musical solo, após fazer nome ao lado da irmã no duo Chloe x Halle. “Angel” responde essa questão com uma combinação explosiva de liricismo teatral e produção polida de R&B, da linha de piano radiofônica que cerca os vocais desde o início da canção aos toques de harpa e a percussão bombástica que entram no refrão.
“Passion Fruit” - The Boyz
“Passion Fruit” é uma daquelas músicas que me lembram do motivo pelo qual eu acompanho o k-pop. Construída em uma acumulação de ganchos melódicos irresistíveis e produzida com uma atenção de detalhes na acumulação sonora que simplesmente não existe mais no pop ocidental, a b-side do The Boyz tem um refrão que já começa delicioso e só vai crescendo com o passar das repetições. As referências ao hip hop noventista dos versos dão um sabor especial à culminação eletrônica do pré-refrão, o que por sua vez só faz a entrada da batida programada do refrão ainda mais catártica. Pop feito com conhecimento de causa e joie de vivre raríssimos deste lado do Atlântico.
“Uma Vida é Pouco Pra te Amar” - IZA
Em meio às referências intrincadas do álbum AFRODHIT, é impossível negar que “Uma Vida é Pouco Para te Amar” chama a atenção. A canção fecha o disco com um fórmula de balada romântica R&B que parece simples no início, mas combina filtros de voz, violões, cordas e sintetizadores para uma química sonora única que, nem por isso, tira o holofote de sua inspiração lírica. Entre subidas e descidas de tom no instrumental, IZA surge com um vocal íntegro e expressivo que carrega as variações melódicas com brilhantismo - não é qualquer vocalista que conseguiria conduzir o público por tantos gêneros na base do carisma (e da afinação, claro).
“Lemonade” - BBGirls
As BBGirls continuam fazendo jus à reputação de “zebras” favoritas do k-pop. Elas já foram contra as expectativas ao alcançar sucesso estratosférico com “Rollin’”, depois de uma década trabalhando em relativa obscuridade - mas nem os fãs mais otimistas esperavam que o grupo, então conhecido como Brave Girls, sobreviveria à decisão de sua própria gravadora de encerrar os contratos das quatro integrantes. Pois então: agora rebatizadas e agenciadas pela Warner Music, as veteranas lançaram um delicioso single duplo intitulado One More Time, que esconde na b-side “Lemonade” o suprassumo do que as faz insubstituíveis. Teclados tropicais, trompetes travessos, e um gancho irresistível no refrão - perfeito para qualquer fã de pop da “velha guarda”.
“Smoke & Mirrors” - The Hives
Não é à toa que o The Hives passou mais de dez anos sem lançar um álbum completo: os suecos sabem muito bem que o seu estilo agressivamente simples de rock n’ roll de garagem funciona muito melhor em doses pequenas e espaçadas. A energia de “Smoke & Mirrors” não pode ser negada, especialmente com seu violão acústico frenético, os corais do refrão e as palminhas ajudando na percussão, que adicionam sabores diferenciados essenciais para fazer a faixa se destacar dentro do (bom, mas cansativo) disco The Death of Randy Fitzsimmons. Voltem sempre, queridos - mas sempre no tempo certo.
“Horizon” - Jaehyun
Os lançamentos solo dos integrantes do NCT, dentro do projeto NCT LAB, continuam impressionando: Jaehyun aproveita sua vez na fila para entregar a voz expressiva a uma mistura charmosa de bossa nova e dream pop, ditado tanto pelo violão travesso que marca o começo da canção quanto pelos sintetizadores viajantes que a elevam aos seus momentos de clímax. Sem a potência vocal de um Baekhyun (mas, sejamos justos: poucos cantores a têm), Jaehyun mostra que sabe utilizar seus talentos na medida certa - e a serviço de uma produção esperta que os merecem.
“Damage” - Suzi Quatro & KT Tunstall
Com menos de 2:30 de duração e energizada por violões rítmicos e gaitas remanescentes do outlaw country, “Damage” lembra clássicos como “House of the Rising Sun”, especialmente com sua abordagem ousada da temática religiosa. E daí entra o timbre rouco de Suzi Quatro entoando com bom humor indisfarçável que “quando Deus fez o homem/ Ela estava só brincando”, e estamos vendidos. A canção é a melhor do álbum Face to Face, que une a lenda viva do rock com a escocesa KT Tunstall para dez duetos indefectíveis - vale dar uma ouvida em “Good Kinda Hot” e “Illusion” também.
“Don’t Wanna Go Back” - Jihyo feat. Heize
O espetacular álbum de estreia de Jihyo, fazendo seu primeiro voo solo após anos como integrante do TWICE, guarda inúmeros prazeres sonoros para quem se mostrar receptivo a eles - mas nenhum mais saboroso que “Don’t Wanna Go Back”, dueto da cantora com Heize, que tira proveito máximo de um refrão de R&B noventista (dá para imaginar o Destiny’s Child gravando essa sem muito esforço), do violão delicado que marca a produção dos versos, e do contraste entre os tons diametralmente opostos das cantoras. Enquanto Jihyo traz força expressiva e caráter com seus vocais graves, Heize viaja pelos agudos com a fragilidade que complementa perfeitamente a canção.
“On My Way” - Xolo Maridueña feat. Adriana Padilla
Declaradamente inspirado pelo hip-hop noventista (a canção até começa com um “can I kick it?”, em homenagem ao clássico do A Tribe Called Quest), o astro de Besouro Azul, Xolo Maridueña, mostrou que seu carisma não se limita à tela grande. “On My Way” tem uma batida de R&B irresistível e uma participação certeiramente sensual de Adriana Padilla para ajudar a nos vender seu clima de veraneio bem calculado, mas são os versos ágeis e bem colocados de Maridueña que dão a ela a leveza que claramente está procurando. Pode mandar o álbum, Xolo!
“RadioVision” - JO1
Um dos melhores representantes do j-pop na atualidade, o JO1 acertou de novo com “RadioVision”, que abusa de guitarrinha à la Nile Rodgers para carregar um refrão viciante, ladeado por versos dinâmicos que nunca deixam a energia da canção cair. Ah, e o clipe estiloso, que não tem vergonha de mostrar a coreografia bem ensaiada dos integrantes, ajuda muito. Enfim, nada que chegue aos picos de criatividade de uma “SuperCali”, pérola que o grupo lançou no ano passado, mas ainda é um bom sinal para o próximo álbum do JO1, intitulado Equinox, que tem lançamento marcado para 20 de setembro.
“Lipstick” - Charlie Puth
Reza a lenda (mentira, foi o próprio cantor que contou) que Elton John disse a Charlie Puth que “suas músicas não eram boas” quando os dois foram gravar o dueto “After All”, em 2019. Pode ter sido rude, mas difícil negar que deu muito certo: desde então, a produção do artista estadunidense melhorou absurdamente, com “Lipstick” servindo como a mais recente (e mais sexy) prova. O faro para melodias redondinhas continua o mesmo, mas Puth tem se afastado do R&B insípido de seus álbuns anteriores e se entregado cada vez mais ao blue eyed soul que é sua vocação natural. Elton deve estar orgulhoso.
“Picture” - HYO
A máquina de dança residente do Girls’ Generation continua enfileirando acertos pop em sua carreira solo. “Picture” coloca HYO em um território de sensualidade que já é familiar - mas, por outro lado, surpreende ao emprestar a batida e as cadências melódicas do reggaeton. Trata-se também do primeiro single da cantora depois do álbum Deep, que emergiu de forma surpreendente como um dos melhores lançamentos do k-pop no ano passado - um bom lembrete de que vale (sempre) ficar de olho nela.
“Used to Be Young” - Miley Cyrus
Navegando nas guitarras metálicas de suas raízes country, e acertando em cheio no timing para o lançamento do single (exatamente 10 anos depois de sua polêmica apresentação no VMA 2013, ao lado de Robin Thicke), Miley Cyrus se declara uma mulher adulta que superou a fase das loucuras e extravagâncias pop - dessa vez, de verdade mesmo! - em “Used to Be Young”. Se a gente acredita que essa reinvenção é definitiva ou não… bom, não importa. Não quando a canção é tão belamente melódica e tão bem encaixada no timbre único da cantora.
“The Girls” - BLACKPINK
Quem diria que a melhor música do BLACKPINK em anos viria da trilha sonora do aplicativo para celular temático The Game. Carregado nas costas pelos raps certeiros de Lisa, o single “The Girls” traz a retórica rasa de ostentação do grupo para o seu hábitat natural: uma canção bem produzida de hip-hop eletrônico, com menos de 3 minutos de duração, um gancho melódico grudento no refrão e nenhuma ambição de ser mais do que um bom passatempo. Simples e certeiro.
“Bad Idea Right?” - Olivia Rodrigo
Olivia Rodrigo encapsulou o espírito das comédias românticas adolescentes dos anos 1990 em "Bad Idea Right?", segundo single do seu aguardado Guts. Cantando sobre a clássica recaída com um ex, a cantora criou uma faixa chiclete, que dominou as redes sociais neste mês. Por isso, quer você seja fã ou hater, não dá para falar de lançamentos musicais de agosto sem lembrar dos versos "Seein' you tonight, it's a bad idea, right?". Até porque, depois de três plays, você acaba se juntando ao coro. (Por Mariana Canhisares)
“Bubble” (Sped Up) - StayC
Longe de mim endossar a tendência tiktoker de aumentar a velocidade de reprodução das canções para fazê-las mais “viralizáveis” - mas, se há uma música que se beneficiou disso em um sentido expressivo, é “Bubble”. O single mais recente do StayC, que já no começo do ano (com “Teddy Bear”) tinha se estabelecido como o grupo embaixador da “musiquinha de videogame” no k-pop contemporâneo, vai ainda mais longe na euforia cor de rosa. E o fato é que a batida acelerada por cima dos sintetizadores ardidos e pacotes de cordas quase estratosféricos simplesmente funciona melhor quando parece que a turma de Alvin e os Esquilos está nos vocais.
“Mau” - Jaloo
Quatro ano depois do ft. (part. 1), uma das vozes mais originais do pop contemporâneo brasileiro - o paraense Jaloo - está de volta com uma mistura tipicamente imprevisível de ritmos regionais, synthpop, funk e discurso contemporâneo. Com uma letra que celebra o hedonismo de forma dúbia (reconhecendo a sua superficialidade sem julgá-la), Jaloo mostra porque fez falta em um cenário nacional que cada vez mais parece disposto a se encaixar em caixinhas radiofônicas à revelia da criatividade e do discurso pop. O álbum (sem título ou data revelados) não pode chegar cedo o bastante.
“Call D” - NCT U
A melodia hipnotizante que forma os versos principais de “Call D” (“Anything you neeeeeeeeeeeed/ Any fantasyyyyyyyy”) já seria quase o bastante para declará-la uma das melhores canções do mês, mas a produção deliciosamente fraturada da faixa do álbum Golden Age é o que a coloca como um dos melhores lançamentos de k-pop do ano. Dos efeitos imitando telefones e cronômetros ao pianinho que surge meio sem aviso no segundo verso, passando pela batida que pega o refrão no contrapé e a multiplicidade de sintetizadores que formam o universo sonoro do NCT, tudo aqui é absurdamente fascinante.
“Damage Gets Done” - Hozier feat. Brandi Carlile
Grande parte do álbum Unreal Unearth mostra um Hozier demasiado confortável em sua posição de trovador folk-rock-soul, tentando replicar a magia de uma “Take Me to Church” através de experiências instrumentais tímidas. Mas, em “Damage Gets Done”, a parceria com Brandi Carlile (sempre um prazer de se ouvir com seu timbre esvoaçante) desperta no cantor e compositor algo de diferente, um pendor para a harmonização vocal épica de um Florence + the Machine, tocando em um território pop até então inexplorado. Taí um caminho adiante para Hozier, se sua base de fãs tradicionalista permitir.