Depois de listar os melhores filmes e melhores séries de 2022, chegou a vez da lista que é sempre mais polêmica, talvez pelos sentimentos mais acalorados que temos por nossos artistas musicais favoritos. E não teve como, 2022 foi um ano recheado de lançamentos divisivos, que passaram pelo retorno da Rainha do pop até estreias de duos britânicos. Confira os nossos álbuns favoritos do ano:
The ReVe Festival 2022: Birthday - Red Velvet
Pobre de quem subestimou o Red Velvet… O grupo de Irene, Seulgi, Joy, Wendy e Yeri passou um tempo alarmante sem lançar material realmente memorável (na estima deste crítico, pelo menos desde “Psycho”, de 2019), mas The ReVe Festival 2022: Birthday corrige isso com louvor. O disco vibra com uma energia simplesmente ausente dos outros lançamentos recentes do grupo, seja nas notas estratosféricas (“altas” não parece ser um adjetivo apropriado) de Wendy ou na exploração coerente e brincalhona de gêneros e técnicas de produção. O single “Birthday” é um electro-jazz que sampleia George Gershwin; “Bye Bye” (da infalível compositora Kenzie) se aproxima de forma franca do soul mas tem a espirituosidade de brincar com autotune perto do final; “On a Ride” aproveita os toquinhos de caixa de música que são a base do instrumental para construir um quase-funk melódico; “ZOOM” não faria feio na Broadway contemporânea, um hino teatral com uma linha de baixo matadora; e “Celebrate” fecha o disco de forma rápida e doce, sem complicar demais a fórmula. Nenhuma dessas canções (nenhuma) fica sem um clímax apoteótico, um momento de puro e inalterado deleite pop. Fica o recado para o k-pop em um ano um pouco decepcionante: mais disso, por favor. - Por Caio Coletti
Midnights - Taylor Swift
Taylor Swift se propôs a mais do que dar um vislumbre das suas madrugadas ruminativas em Midnights. No fundo, a cantora e compositora se valeu de um prompt criativo simples, mas repleto de possibilidades para celebrar a si mesma e sua carreira. Por isso, ainda que não abra mão da sua sensibilidade aguçada para narrar suas noites em claro, alimentadas por sonhos de amor, vingança e autodepreciação, Swift fez deste trabalho um novo passo na sua jornada de retomar sua obra para si com suas regravações. Isso porque a unidade do álbum vem não só do conceito ou do uso recorrente de certos recursos, como sintetizadores, mas da sua própria jornada de amadurecimento enquanto artista, representada pelos acenos sonoros aos sucessos do passado. Nesse sentido, Midnights funciona como um compilado de inéditas com quê de greatest hits. Por mais que não seja o melhor trabalho de Swift, é inegavelmente símbolo da evolução e consolidação do seu talento como voz de uma (ou mais) geração. - Por Mariana Canhisares
Wet Leg - Wet Leg
É sempre uma ótima surpresa pegar um álbum de estreia e ouvi-lo com admiração do começo ao fim. O Wet Leg fez isso em 2022 e forneceu um dos trabalhos mais refrescantes do ano, unindo uma sonoridade do melhor do som chiclete britânico com influências de punk pop e new wave. Rhian Teasdale e Hester Chambers arrasaram em criar um universo cheio de bom-humor e com letras sempre afiadas, que flutuam por pensamentos modernos com segurança, sem nunca soar irritante. Totalmente coeso, Wet Leg é uma lufada de ar fresco no indie rock, um álbum tão carismático quanto melancólico, e embala muito bem todos os altos e baixos de 2022. - Por Julia Sabbaga
Dawn FM - The Weeknd
Pode parecer favoritismo, mas eu juro: nada define melhor o espírito do Dawn FM, álbum mais recente de The Weeknd, do que os sintetizadores do clímax de “Less Than Zero”, a penúltima faixa do disco. Dançando ao redor uns dos outros, os instrumentos surgem do background da canção, levada quase toda por uma linha de baixo e guitarra reminiscente das baladas rock etéreas dos anos 1980 (os ecos de Pretenders são fortes), e encaminham o disco para sua verdadeira apoteose musical, uma vez que a canção seguinte, “Phantom Regret”, fecha o Dawn FM com uma intervenção falada de Jim Carrey. É uma produção (assinada por Weeknd, o mago pop Max Martin e o ícone da eletrônica Oneohtrix Point Never) que conjuga as referências da carreira prévia do cantor e o espírito esteticamente aventureiro do novo álbum como nenhuma outra - do R&B com sample de city pop japonês de “Out of Time” ao deboche soul de “I Heard You’re Married”, passando pela explosão techno do remix de “Take My Breath”, as peças do quebra-cabeça se juntam todas na conjugação cínico-idealista, oitentista-moderna, dessa última extravagância musical. The Weeknd olhou para a nossa época de sintetização e pasteurização do passado e entendeu que, da artificialidade, poderia tirar algo genuíno - e genuinamente empolgante. - Por Caio Coletti
O Futuro pertence à… Jovem Guarda - Erasmo Carlos
Eu confesso que cometi o erro de ir ouvir esse álbum vencedor do Grammy só quando Erasmo nos deixou, em novembro. Que vacilo. Em O Futuro Pertence à... Jovem Guarda, o Tremendão nos presenteou com algumas das melhores versões de clássicos que tão bem conhecemos. Que lindo é ouvir a voz de Erasmo em "Nasci para Chorar" ou "Devolva-me", faixas absolutamente rasgantes, que chegam de um jeito inédito muito pela produção lindíssima de Pupillo, que encontra o equilíbrio perfeito entre a nostalgia e uma sonoridade tão 2022. É curtinho - são só 8 faixas - e vale sentar para absorver bem tudo que esse disco tem pra oferecer. - Por Julia Sabbaga
INVU - Taeyeon
15 anos depois de estrear como líder do Girls’ Generation, não é exagero definir Taeyeon como uma das figuras emblemáticas do k-pop - o que faltava era uma obra que encarnasse o seu apelo com precisão, e servisse como uma boa introdução às sensibilidades e representações em que ela se especializou durante essa trajetória. “Faltava”, no passado, porque agora temos INVU. A começar pela etérea e machucada canção título, o disco passeia de forma confortável e inteligente pelas fronteiras entre o pop teen e aquele tipo de música que as rádios chamam de “adulto contemporâneo”. Existe sensualidade aqui (na linha de baixo da maravilhosa “Toddler”, por exemplo), assim como ousadia sônica (pense nos sintetizadores rasgados de “Cold as Hell”), mas o drama que Taeyeon e seu time costuram nas letras e produções é familiarmente filtrado pelo denominador comum da música adolescente - as melodias achatadas (vide “Heart”) e instrumentais de pop rock minuciosamente equilibrados entre guitarras e sintetizadores (“No Love Again”, “You Better Not”) não nos deixam mentir. INVU, enfim, é a Taeyeon de timbre claro e experiente, do alto de seus 33 anos, fazendo as pazes com quem ela foi, quem ela é e quem ela sempre vai ser como artista. No passado, no presente ou no futuro, é um prazer ouvi-la. - Por Caio Coletti
Numanice 2 - Ludmilla
Vencedor do Grammy Lantino como melhor álbum de samba/pagode, Numanice 2 foi uma das grandes apostas de Ludmilla. Nascida no funk como MC Beyoncé, a cantora adotou um nome e um estilo próprio, traçando uma bela trajetória que a levou a gravar um dos álbuns de pagode mais importantes do século 21. Com parcerias como “Insônia”, com Marília Mendonça, “Sinais de Fogo”, com Péricles e a regravação dos hits “Por Causa de Você” e “Baby”, da cantora Kelly Key, Numanice 2 é um marco na indústria musical brasileira em 2022. - Por Pedro Henrique Ribeiro
Renaissance - Beyoncé
Após 6 anos desde Lemonade, Beyoncé divulgou em 2022 o aguardado Renaissance e que momento para ser lançado. Antes do disco sair, Queen B chocou o mundo corporativo com o single "Break My Soul", que falava abertamente sobre pedir demissão e a exaustão com trechos como "Work by nine, then off past five. And they work my nerves", a música virou um hino para a Great Resignation (Grande Renúncia), onda de pessoas pedindo demissão após a pandemia de Covid-19.
Renaissance é uma celebração, que fala de curtição e sexo, mas com mensagens política importantes para os dias de hoje marcado pelo resgate da negritude e do caráter queer da dance music anglófona. Singles como "Cuff It", "Alien Superstar", "Virgo's Groove" e "Summer Renaissance" marcam o álbum que será o destaques do Grammy de 2023. - Giovanna Breve
Mr. Morale & The Big Steppers - Kendrick Lamar
Após cinco anos sem lançar um novo álbum, Kendrick Lamar retornou com tudo. O rapper lançou Mr. Morale & The Big Steppers em maio e algumas músicas já ganharam clipes como "Count Me Out", estrelado pela brilhante Helen Mirren. O trabalho é dividido em dois discos, com 18 faixas no total e participações de nomes como Ghostface Killah, Sampha e Baby Keem. - Por Pedro Henrique Ribeiro
Motomami - Rosalía
Motomami é um divisor de águas que separa Rosalía de 2022 da que lançou El Mal Querer em 2018. Se antes, a cantora espanhola era conhecida por misturar o pop com flamenco, agora ela se mostrou ser uma artista cosmopolita que mescla o melhor da música latina - por mais que gere polêmicas devido a sua origem européia.
De fato, não tem como negar que seu novo disco tenha marcado o ano com canções que exploram a potência que possui. Em um tom experimental, acompanhamos os ritmos latinos como a bachata em "La Fama" (em parceria com The Weeknd), salsa e reggaeton mesclado com batidas distorcidas, voz com auto tune e glitch, cortando os respiros propositalmente como em "Saoko", "CUUUUuuuuuute" e "Diablo. Mas, em meio aos experimentos, a cantora mantém sua marca registrada como em "Bulerías" que carrega sua origem no flamenco e hits sagrados que elevam sua voz soprano como "G3 N15", "Como un G" e "Sakura".
Motomami é uma anarquia com visão clara e influências coerentes que Rosalía sabe brincar muito bem enquanto sorri com uma borboleta brilhante nos dentes. - Giovanna Breve