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Ozzy Osbourne - Uma breve história do príncipe das trevas

Ozzy Osbourne - Uma breve história do príncipe das trevas

31.05.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

Ozzy e Sharon

Black Sabbath

O reality show The Osbournes colocou novamente Ozzy Osbourne no centro das atenções. O programa, que mostrava seu cotidiano ao lado da esposa Sharon, os filhos Kelly e Jack, a governanta Melinda e um bando de gatos e cachorros, quebrou todos os recordes de audiência da MTV americana. Foi a primeira vez que o Madman conseguiu virar assunto de toda uma nação, a ponto de ser convidado de honra do presidente George Bush num jantar para os correspondentes da Casa Branca.

Antes de The Osbournes, a imagem de Ozzy Osbourne era a do satanista - coisa que nunca foi - comedor de morcegos. Depois da série, que já tem uma segunda temporada planejada, tudo mudou. Claro que nem todos gostaram de ver um dos ícones do tripé Sexo, Drogas e Rock And Roll estrelar um programa no qual, dentre outras coisas, ele alerta seus filhos para o perigo das drogas, álcool e sexo desprotegido. Você sabe o que as drogas e o álcool podem fazer a uma pessoa. Olhe para mim, alertou Ozzy ao seu caçula, Jack, num dos episódios. Alguns fãs mais radicais dizem que o roqueiro se vendeu; outros louvam o lado careta do Madman. Afinal, de que adiantaria se hoje Ozzy engrossasse a lista de estrelas do rock que sucumbiram ao álcool e às drogas?

DROGAS, BUZINAS, MATADOURO, CADEIA, SEXO E ROCK AND ROLL

De roqueiro maluco a pai de família careta, a vida de Ozzy Osbourne pode ser considerada uma montanha-russa que, depois de muito tempo, finalmente desacelerou. Aos 52 anos de idade, fora dos palcos, o cara só quer saber de sossego. Mas é claro que as coisas em sempre foram assim...

Apesar de dizer que é Ozzy desde que se lembra, o nome verdadeiro do Madman é John Osbourne, nascido a 3 de dezembro de 1948 em Birmingham, Inglaterra. Aos vinte anos, montou sua primeira banda, a Earth, que, a princípio, tinha o repertório voltado inteiramente para o blues. No entanto, já havia um conjunto de mesmo nome. Assim, o grupo adotou o nome de um filme de terror dos anos 60, Black Sabbath. Agora, Ozzy e Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria), estavam prestes a tomar o mundo de assalto e mudar a cara do rock and roll.

Antes disso, no entanto, o futuro Príncipe das Trevas havia trabalhado como afinador de buzinas de automóveis, empregado de um matadouro e de um crematório. Chegou, inclusive, a cometer furtos a residências, tendo sido pego em flagrante, o que lhe rendeu dois períodos de detenção de dois e três meses. Anos mais tarde, já com 32 anos, foi preso mais duas vezes; numa delas, por ter agredido um policial. Aliás, as letras que formam a palavra OZZY tatuados nos dedos de sua mão esquerda foram traçadas pelo próprio Madman numa dessas ocasiões usando agulha e pó de grafite.

A GLÓRIA, A DEMISSÃO E FIM TRÁGICO DE UMA PARCERIA

Entre 1969, ano de lançamento do primeiro disco do Black Sabbath, e 1979, quando Ozzy foi demitido do grupo devido a abuso de drogas e álcool, a banda e seu vocalista viveram anos de glória. Foram gravados os principais álbuns do Sabbath: Black Sabbath, Paranoid, Master of reality, Vol. 4, Sabbath bloddy sabbath, Sabotage - com a capa do espelho, que causou furor na igreja católica da época, pois provava a tendência satanista da banda - Technical ecstasy e Never say die, trabalhos que garantiram a legião de fãs que tanto o Sabbath quando Ozzy mantém até hoje e plantaram a semente do que viria a ser o heavy metal.

Em 1979, demitido do Black Sabbath, Ozzy decidiu seguir em carreira solo. Para tanto, contou com a ajuda de Sharon Arden, filha do empresário que levara o Black Sabbath ao estrelato. Logo ela iria se tornar mais do que empresária de Ozzy e assumiria o nome de Sharon Arden Osbourne. Não foi a primeira mulher do Madman, mas sim a última. Graças a ela, o cantor livrou-se das drogas e, anos mais tarde, do álcool. Ao longo dos anos, foram necessárias quatorze internações para tratamento da dependência química.

No começo dos anos 80, Ozzy conheceu o jovem Randy Rhoads. Com apenas vinte anos, o garoto revelou-se um guitarrista dos mais competentes. A química entre ambos foi tão perfeita que gerou dois dos melhores álbuns do vocalista, Blizzard of Oz e Diary of a madman. Infelizmente, a promissora parceria teve um fim súbito e trágico. Em 1982, Randy perdeu a vida em um acidente de avião, mas até hoje é presente na vida de Ozzy. Não existe um dia sequer que eu não pense em Randy Rhoads. Eu tenho uma foto dele comigo em meu camarim; E ainda converso com o cara em minha mente. Você nunca percebe o que possui até o dia em que isso vai embora, declarou, certa vez, o Madman.

POMBAS, MORCEGOS, SAPOS E BEBÊS

Nesta época, também houve fatos que marcariam a vida de Ozzy e contribuiriam para a imagem de Príncipe das Trevas. O primeiro foi o episódio das pombas. Tudo aconteceu quando da assinatura do contrato para o lançamento de Blizzard of Oz. A fim de comemorar a assinatura do contrato, uma das executivas da gravadora resolveu soltar pombas brancas. A coisa não saiu como planejada e algumas das aves não saíram voando. Num momento de loucura, ou inspiração divina, como queiram, Ozzy pegou uma das pombas em suas mãos, acariciou a bichinha... e cravou-lhe os dentes, arrancando-lhe a cabeça. Ozzy, Sharon e Randy foram expulsos do prédio e o contrato, ameaçado de ser cancelado. A repercussão do fato foi tão negativa - há fotos de Ozzy com a pomba decepada numa das mãos e sangue escorrendo da boca - que Blizzard of Oz conseguiu quatro discos de platina em pouco tempo.

A pomba com a cabeça arrancada, no entanto, foi menos marcante do que a clássica mordida na cabeça do morcego. O que nem todo mundo sabe - e nem a mídia preocupou-se em divulgar durante anos - é que aquilo que se tornaria uma das marcas registradas do vocalista não passou de um acidente.

Tudo aconteceu durante uma das turnês do Black Sabbath. Nos shows, Ozzy costumava morder a cabeça de um morcego de plástico. Certa vez, alguém da platéia jogou, no palco, um morcego morto. Pensando ser falso, o cantor recolheu o bicho e, numa dentada, arrancou-lhe a cabeça. Como resultado, o show foi encerrado às pressas e o Madman teve de tomar injeções anti-rábicas. Além disso, sofreu choques anafiláticos e problemas de saúde devido às mesmas, o que fez com que cancelasse dezenas de apresentações. Mais tarde, num dos espetáculos do Sabbath, ainda com a famosa mordida repercutindo, um fã mais exaltado jogou um enorme sapo no palco. Anos depois, Ozzy confessou que, naquele momento, pensou que o sapo fosse um bebê. Decidiu, então, parar de morder animais no palco. A fama de maluco, no entanto, projetou mais ainda o nome de Ozzy.

INCITAÇÃO AO SUICÍDIO

A imagem de doido, em contrapartida, revelou-se um tanto prejudicial quando pais de garotos que haviam se suicidado acusaram Ozzy incitá-los por meio da música Suicide solution, do Blizzard of Oz. Entidades evangélicas contrataram um tal Institute for Bio-Acoustics Research que supostamente encontrou mensagens subliminares na música, provando que a mesma fazia apologia à auto-eliminação. No fim, o músico foi absolvido de todas as acusações por um simples motivo: a letra da música não tem nada a ver com suicídio. A solution do título não é solução e sim mistura. Suicide solution seria algo como mistura suicida e a letra falava de alcoolismo. Não seria a primeira vez que suicídio estaria relacionado a Ozzy. Em 1971, uma enfermeira matou-se enquanto escutava ao álbum Paranoid, do Sabbath. Não se sabe, porém, se o ato foi motivado pelo disco ou se tudo não passou de uma coincidência macabra.

REMEMBER ÁLAMO E INTERNAÇÕES

A década de 80 foi bem movimentada para Ozzy. Durante uma de suas turnês, que a aquela altura passava pelo Texas, ele estava de porre e precisava esvaziar a bexiga. Decidiu urinar no primeiro lugar à sua frente. Aconteceu desse lugar ser nada mais, nada menos do que o Álamo, um dos mais importantes monumentos históricos dos Estados Unidos. Por conta disso, além de ser preso, o Madman foi banido dos Estados Unidos e proibido de voltar. Por pouco tempo, felizmente.

Ainda no início dos anos 80, um Ozzy Osbourne descontrolado e dependente de álcool e drogas tentou esfaquear Sharon. Ela prestou queixa contra o marido e exigiu o divórcio. Depois de muita conversa, ficou acertado que o casamento seria mantido desde que ele se tratasse. Disso, ainda se extrai outro fato engraçado na sua vida. Quando foi internado no renomado Betty Ford Center, o vocalista não sabia que se tratava de uma clínica de desintoxicação. Assim sendo, a primeira pergunta que fez ao chegar ao local foi onde fica o bar?

SE ALGO ESTÁ ERRADO EM SUA VIDA...

Após a morte de Randy, Ozzy gravou Speak of the Devil, um álbum ao vivo contendo composições suas para o Black Sabbath. Em seguida, outro disco ao vivo, Tribute, com músicas da carreira solo, gravado em homenagem póstuma a Randy Rhoads.

Em meio a acusações de satanismo, incitações à violência e problemas com o álcool, Ozzy seguiu fazendo sucesso e criando confusões durante toda a década de 80. Nessa época, cogitou imprimir e distribuir centenas de camisas com a inscrição Se algo está errado em sua vida, a culpa é de Ozzy Osbourne. Em 1986, teve que arcar com 172.000 dólares de prejuízo provocados devido a uma confusão generalizada em um de seus shows em Meadowlands, Estados Unidos.

O FIM DE CARREIRA QUE FOI SEM NUNCA TER SIDO

A década de 90 começou mais tranqüila. Finalmente livre das drogas, em 1991, ele anunciou que encerraria sua carreira após o lançamento de No more tears. A turnê do álbum, inclusive, foi batizada como No more tours.

Para a alegria dos fãs, no entanto, Ozzy Osbourne é uma daquelas figuras que, a exemplo de Gene Simmons (Kiss) e Alice Cooper, dentre outros músicos da mesma geração, tem o rock nas veias e só conseguem abandoná-lo definitivamente quando mortos. Assim sendo, quatro anos depois, o vocalista retornou com Ozzmosis, um álbum diferente do que havia feito até então, taxado pela crítica como um trabalho bastante pessoal. Antes disso, em 1993, foi lançado Live and loud, outro ao vivo, como o próprio nome diz.

Em 1997, foi lançada a coletânea The Ozzman cometh, com os maiores sucessos de Ozzy, tanto do seu período no Black Sabbath quanto da carreira solo. No mesmo ano, a tão esperada volta do Black Sabbath original reuniu Ozzy aos seus antigos parceiros. A turnê, obviamente intitulada Reunion, excursionou por todo o mundo e gerou um álbum de mesmo nome. Depois de um tempo em lua-de-mel, porém, os problemas de relacionamento voltaram e o Black Sabbath desfez-se novamente. Se é definitivo, só o tempo dirá.

NINGUÉM QUER SABER A VERDADE

Para Ozzy, no entanto, as coisas continuaram bem. Além de prosseguir seu sucesso individual, Ozzy e Sharon comandam hoje o Ozzfest, um festival que acontece regularmente nos Estados Unidos e reúne principalmente bandas de pouca expressão ou que começam a aparecer no mundo do rock Na verdade, Sharon comanda. Ozzy participa.

Ano passado, o Madman lançou seu último CD, Down to earth, um dos mais pesados de sua carreira.

Depois de mais de trinta anos de estrada e cerca de 35 milhões de discos vendidos, sua imagem continua intacta. Para algumas pessoas, ele ainda é Ozzy Osbourne, o cara que arrancou a cabeça do morcego a dentadas. Talvez seja esse um dos motivos por que tenha topado mostrar seu cotidiano em The Osbournes. Como disse nos idos de 1989: Eu cheguei à conclusão de que as pessoas não querem saber da verdade... que eu sou um cara casado e feliz, com três filhos que eu adoro, e que o que faço é divertir as pessoas. Eu não sou um porra de um Drácula.

Em The Osbournes, o que se vê é exatamente isso. Ozzy é um cinqüentão não muito inteligente, disléxico e com baixo nível de concentração. O andar desengonçado, os olhos sempre arregalados, a gagueira e o raciocínio, às vezes, lento são conseqüências dos anos de drogas legais - bebidas - e ilegais - maconha, cocaína, LSD. Apesar de tudo, no palco, Ozzy ainda é o Príncipe das Trevas, o homem que ajudou a mudar os rumos do rock and roll e ainda hoje uma das figuras mais influentes no mundo da música.