Oito ou oitenta: quem compareceu aos braços "de arena" do Tim Festival, em São Paulo e Curitiba, durante a semana, encontrou eventos completamente diferentes no resultado final.
juliette and the licks
bjork
Arctic Monkeys
The Killers
Na capital paulista, a tragédia já começou pela escolha do cenário dos shows: o chão de cimento do Anhembi, notório destruidor de platéias. O festival repetiu o erro dos outros anos, quando suas edições locais foram um poço de reclamações - mas caiu também na pegadinha da cidade, que dispõe de raríssimos lugares adequados para shows de grande porte.
Desde o começo os problemas se acumularam. Shows super-atrasados (The Kilers, a última atração, só entrou no palco três horas depois do marcado, mais de 4h da madrugada em plena segunda-feira), problemas técnicos (o show do Hot Chip ficou fora do ar por meia hora, acabando com a pouca animação que conseguia arrancar do público) e de infra-estrutura (em certo momento da noite, era impossível conseguir comprar uma singela garrafa d'água, já que os bares não tinham mais fichas!).
Isso sem mencionar o já velho conhecido problema de acústica do lugar, que nunca dá conta do tamanho do público a céu aberto, além da gigantesca área VIP em frente ao palco, afastando o público "normal" (que desembolsou R$ 200) para longe dos músicos.
No setlist das apresentações, o que se pôde perceber foram shows ensaiadinhos, com quase o mesmo repertório, mesmo discurso, e mesmas poses (principalmente no caso de Juliette & The Licks) da temporada carioca. Profissionalismo extremo, quase sem espaço para improvisações.
Björk foi a que se deu melhor, no quesito espetáculo visual. A islandesa veio com energia extra para o segundo show brasileiro da tour, estreando seu uniforme de Rainha-Cogumelo e aproveitando para resgatar a bela "The anchor song", de Debut, seu primeiro álbum. Uma pena que o carnaval ficou restrito aos abastados VIPs.
Os blasés Arctic Monkeys também surpreenderam - arrancando um público mais intenso do que os Killers, teoricamente atração principal da noite. Já o coletivo Spank Rock, que fez um dos melhores shows do Rio de Janeiro, passou completamente despercebido em SP. Teriam se dado melhor em um palco menos megalomaníaco, talvez em algum Sesc da cidade.
Três dias depois, em Curitiba, a história foi completamente diferente. A fórmula é fácil: troque o Anhembi pela Pedreira Paulo Leminski e você ganha um dos lugares mais bonitos e intensos para shows ao ar livre do país inteiro.
Ao contrário da contra-parte paulistana, no Paraná tudo correu perfeitamente: shows começando no horário, som bem dimensionado para o lugar (que favorece a acústica), preços razoáveis nas barracas de alimentação, área VIP inteligentemente colocada ao lado da multidão e platéia mais feliz, por ter pagado um terço do preço do sudeste para estar ali. Até a chuva, promessa garantida para aquela noite, passou longe da Pedreira. Assim fica fácil montar um evento histórico.
Mais uma vez, Björk brilhou, depois da rápida abertura do Hot Chip. Mesmo visivelmente cansada, atendeu aos apelos dos fãs e encaixou uma música a mais no setlist - "Oceania", composta para a abertura da Olimpíada de 2004, apareceu no bis em versão mais animada que a original.
Mas a islandesa não foi a grande estrela da noite, dividindo os louros com Brandon Flowers e seus Killers. A banda de Las Vegas ganhou em Curitiba sua redenção final, depois do show deslocado que fez nas tendas do Rio de Janeiro.
Mais uma vez, o mérito é do lugar: os Killers não fazem o tipo de apresentação que funcione perfeitamente entre quatro paredes. Se fechada, toda a carga kitsch da megaprodução acaba acumulada e descaracterizada. Em espaço aberto, como na Pedreira, tudo funciona a contento, dando espaço para a vazão da cafonice, que se desdobra em show eletrizante. Aí fazem sentido os arranjos gigantes das músicas de Sam's Town, a teatralidade exagerada de Flowers e até a fantasia de Merlin do baterista. Show de arena, puro e maciço.
Só não deu pra entender a falta de vontade do público curitibano, o mais morno de todas as três paradas do festival. Não dançou com o Hot Chip, não atendeu aos apelos de coro de Björk, não se empolgou com os Arctic Monkeys e gritou pouco para os Killers. O sul do país já foi mais animado.