A Netflix lança amanhã (21) o grande finale de sua franquia de animação Contos de Arcadia. Intitulado Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs, o longa-metragem coescrito pelo criador da saga, Guillermo Del Toro (A Forma da Água, Hellboy), chega como a culminação de uma narrativa construída ao longo de cinco anos e três séries de TV diferentes.
Se você “perdeu o bonde” da franquia quando ela começou e está um pouco perdido, não se preocupe: o Omelete te ajuda! Abaixo, reunimos as séries na ordem cronológica em que devem ser assistidas, e trazemos algumas informações essenciais sobre cada uma delas, para ajudar quem quiser pular direto para o filme.
1. Caçadores de Trolls (3 temporadas, 2016-2018)
O início da franquia - e também o coração de sua história - está aqui, com a introdução do protagonista Jim Lake Jr. (que, em inglês, ganhou a voz de Anton Yelchin até a morte do ator, depois substituído por Emile Hirsch), um adolescente que encontra um amuleto perdido em seu caminho para a escola.
Quando ele recita as palavras gravadas na relíquia, uma armadura brilhante e uma espada que o rapaz mal consegue levantar aparecem do nada, sinalizando sua nova posição como o lendário Caçador de Trolls. É mais ou menos aqui que Jim e seu melhor amigo, Toby (voz de Charlie Saxton), descobrem um mundo povoado por trolls, criaturas de aparência monstruosa que se transformam em pedra ao serem expostas ao Sol, escondido no subterrâneo da cidadezinha onde vivem, Arcadia.
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Nem todos os trolls apresentam perigo, no entanto. A maioria, de fato, só quer viver em paz sem a influência dos humanos. Blinky (Kelsey Grammer) e AAARRRGGHH!!! (é esse mesmo o nome dele, gente!) logo se tornam mentores de Jim, ensinando-o a lutar e cumprir seu destino de proteger os trolls de elementos malignos como Gunmar (Clancy Brown), que quer mergulhar o mundo da superfície em uma noite eterna e conquistar os humanos.
Outra parte chave da série é Claire (Lexi Medrano), apresentada como o “crush” de Jim na escola, que eventualmente se envolve nas aventuras dele e de Toby e se mostra hábil nas artes mágicas com o Cajado das Sombras, arma que ela rouba do vilão Angor Rot (Ike Amadi). O uso frequente do Cajado, no entanto, faz com que Claire seja possuída pela feiticeira Morgana (Lena Headey), que quer ajudar Gunmar em seus planos diabólicos.
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A 3ª temporada de Caçadores de Trolls traz todas essas narrativas às suas conclusões quando os protagonistas conseguem alistar a ajuda de Merlin (David Bradley) - ele mesmo, o das lendas arturianas - e derrotam os vilões, cujo plano acaba revelando a existência dos trolls para os humanos. No finale, Jim usa um elixir mágico para se transformar em uma criatura metade troll, metade humana, a fim de proteger melhor os dois mundos, e deixa a sua cidade com um grupo de trolls que quer encontrar um novo lugar para viver.
As três temporadas de Caçadores de Trolls são onde a série faz uma metamorfose importante: começando como uma história de fantasia para jovens adultos que segue a cartilha da jornada do herói de muito perto (até perto demais, é possível argumentar), ela aos poucos se mostra uma trama de amadurecimento ousada e brilhante, com uma noção mais complexa dos sacrifícios e transformações necessários no caminho para “aceitar o seu destino”.
Como Jim diz no capítulo final: “O destino é um presente. Alguns passam suas vidas inteiras, existências de quieto desespero, sem nunca descobrir a verdade: o que parece um fardo em nossos ombros, na verdade é um senso de propósito que nos permite alcançar novas alturas. Nunca se esqueça que o medo é um precursor da coragem, e que persistir e triunfar na face do medo é o que te faz um herói. Não pense. Torne-se”.
2. Os 3 Lá Embaixo (2 temporadas, 2018-2019)
Parte da trama da 1ª temporada de Os 3 Lá Embaixo se passa durante a 3ª temporada de Os Caçadores de Trolls, mas o melhor mesmo é vê-la depois de terminar a série anterior, para pegar os detalhes dos poucos encontros entre os protagonistas de ambas.
Aqui, a história acompanha Aja (Tatiana Maslany) e Krel Tarron (Diego Luna), irmãos alienígenas que fogem de seu planeta natal, Akiridion-5, quando o maligno General Morando (Alon Abutbul) aplica um golpe militar e mata os pais dos dois, o rei Fialkov (Andy Garcia) e a rainha Coranda (também Maslany). Como herdeiros do trono, eles representam uma ameaça para a soberania de Morando, que envia caçadores de recompensa de toda a galáxia para onde a espaçonave na qual os irmãos fugiram caiu: a Terra - mais especificamente, Arcadia.
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Esta sequência tem um tom mais cômico do que Caçadores de Trolls, concentrando-se bastante na adaptação de Aja e Krel, que são capazes de se disfarçar como humanos (nós chegamos a conhecê-los nesta forma durante a 3ª temporada da série anterior), na comunidade de Arcadia. As trapalhadas do cachorro Luug e do guarda-costas dos irmãos, Varvatos Vex (Nick Offerman), que como humano toma a forma de um senhor de idade bem avançada, mantêm o ritmo agradável da série.
No fim das contas, essa é também uma oportunidade para Del Toro e seus colaboradores falarem sobre imigração e pertencimento. Aja e Krel são a literalização do termo “aliens ilegais”, usado de forma pejorativa para se referir a imigrantes nos EUA, mas Os 3 Lá Embaixo vai contra essa retórica ao mostrar como os dois são acolhidos na comunidade de Arcadia, que até os protege da ambiciosa Coronel Kubritz (Uzo Aduba), sempre buscando provar a existência de alienígenas na Terra e cooptar suas tecnologias.
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A série ainda traz de volta alguns personagens coadjuvantes de Caçadores de Trolls: Toby se torna um aliado importante para Aja e Krel, além de engatar um namoro com Darci (Yara Shahidi); enquanto a dupla Steve (Steven Yeun) e Eli (Cole Sand) deixa a dinâmica de bullying de lado para unir forças quando descobre a existência de trolls e alienígenas em Arcadia - eventualmente, Steve até se torna o novo namorado de Aja, em uma narrativa de “redenção” bem aplicada.
O clímax de Os 3 Lá Embaixo envolve a chegada de Morando à Terra, a descoberta de um artefato lendário de Akiridion-5 no subterrâneo de Arcadia (os alienígenas e os trolls, aparentemente, tinham um acordo milenar), e a eventual derrota do vilão com a união entre humanos, trolls e extraterrestres. Aja retorna para Akiridion-5 como a nova rainha, enquanto Krel decide ficar em Arcadia, que define como seu novo lar.
3. Magos (1 temporada, 2020)
Jim e Claire retornam como protagonistas neste terceiro capítulo da franquia, que serve também para esclarecer algumas dinâmicas e temas da narrativa antes de chegarmos ao finale. Nossa porta de entrada para a trama é Douxie (Colin O'Donoghue), um antigo aprendiz de Merlin que hoje vive em Arcadia, disfarçado como garçom em um bistrô comum - ele fez aparições eventuais tanto em Caçadores de Trolls quanto em Os 3 Lá Embaixo, sem que soubéssemos de sua verdadeira identidade.
Quando seu antigo mestre entra em contato, Douxie reúne Toby, Steve e AAARRRGGHH!!! e todos são levados para Camelot, a antiga corte do Rei Arthur, que foi preservada por Merlin como um castelo mágico voador. Lá, eles encontram o corpo de Jim “preservado” dentro de uma resina, que Blinky explica ser necessária para impedir que os estilhaços de uma arma mágica cheguem ainda mais perto de seu coração.
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É neste momento, no entanto, que Camelot é atacada pela Ordem Arcana, um grupo de divindades que pretende destruir o mundo dos humanos e das criaturas mágicas, após passar séculos buscando, de forma infrutífera, uma forma de manter a paz entre eles.
No meio da confusão, Douxie, Claire, Jim e Steve são puxados por um portal temporal e acabam caindo no meio da corte do rei Arthur (James Faulker) no século XII, sem nenhuma forma de voltar para a sua época. Nesta versão da história, o monarca não é exatamente uma figura benevolente, mantendo trolls e outras criaturas mágicas em seu calabouço (incluindo, em certo momento da série, o próprio Jim) - para o desespero de Morgana, a quem somos reapresentados como uma anti-heroína.
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A ideia de Magos é mesmo complicar a moralidade da franquia, que até aqui tinha se mostrado bem simples. A temporada única da série ainda nos reintroduz a Gunmar, o grande vilão de Caçadores de Trolls, como uma figura ambígua que, no início, só estava buscando proteger os seus contra um líder autoritário dominado pelo medo daqueles que eram diferentes dele.
Nossos heróis voltam ao século 21, após testemunharem momentos cruciais para a história da saga, e descobrem que a Ordem Arcana está atrás de relíquias chamadas Selos de Genesis - que, se reunidas, podem causar uma “explosão de magia” que destruiria o mundo dos humanos. Uma das integrantes da Ordem, Nari (Angel Lin), não está feliz com os planos de seus colegas, e acaba se juntando aos protagonistas (incluindo Krel, que retorna à trama após descobrir sobre a existência da magia) na corrida para encontrar os Selos antes dos vilões.
A trama maligna é mais uma vez derrotada pela junção de heróis de várias origens, que formam o que fica conhecido como os Guardiões de Arcadia. No processo, Jim perde o seu amuleto e volta à forma humana, enquanto a espada Excalibur é tirada das mãos do rei Arthur por Morgana, que a crava em uma pedra de onde apenas alguém “digno” de empunhá-la poderá retirá-la (soa familiar, né?).
4. A Ascensão dos Titãs (filme, 2021)
Apesar de ter seu “plano A” frustrado, a Ordem Arcana sobrevive no final de Magos para aterrorizar o mundo novamente. Em A Ascensão dos Titãs, descobrimos que o grupo de divindades pretende despertar criaturas gigantes e monstruosas do âmago da Terra para seguir a sua missão de apagar a existência humana do planeta.
No trailer (veja acima) já podemos ver que Jim é o novo dono da Excalibur, e que os alienígenas de Akiridion-5 voltarão para a Terra para ajudar os Guardiões de Arcadia a protegê-la. De fato, o confronto entre os titãs controlados pela Ordem e os robôs gigantes do mundo extraterrestre lembra muito Círculo de Fogo, outro filme de Guillermo Del Toro.
Prometendo cenas de ação épicas, mas também uma mensagem valorosa sobre o significado do heroísmo, e como ele está intrinsecamente conectado à aceitação da diversidade e da força que ela traz (como Krel diz no trailer, amamos um “discurso motivacional”), o longa-metragem promete fechar uma franquia que, por todo o seu sucesso, merecia ser ainda mais vista do que já foi.
Em um cenário midiático ainda carente de exemplos verdadeiramente positivos e inclusivos de heroísmo, Arcadia vai fazer falta.