Até que você dê play em A Garota Invisível na Netflix, é possível acreditar que este é um filme teen americano. Nome, marketing, pôster e até a caracterização dos personagens se assemelham muito a outros títulos na plataforma, como Para Todos os Garotos que Já Amei e O Date Perfeito. Estranhamente, depois de começar a assistir e perceber que se trata de uma produção brasileira, tudo na história continua soando “muito estrangeiro”.
É preciso, primeiramente, reconhecer o esforço do diretor Maurício Eça e de toda uma equipe trabalhando durante uma pandemia e rodando um filme remotamente. A maioria dos cenários são reais - os apartamentos dos atores - assim como as interações, boa parte por telefone ou chamadas de vídeo montadas na história. Como se o cinema nacional já não tivesse suas dificuldades, não é mesmo?
Mas a falta que se sente assistindo a A Garota Invisível é justamente da brasilidade. Não seria preciso nada caricato (na verdade, nunca é), já que a história se passa em torno de adolescentes de classe média-alta, com acesso a internet e vivendo em grandes cidades. Esse é mesmo um público que consome filmes americanos e se influencia pela globalização online.
Inclusive, é online que as confusões começam para a protagonista Ariana (Sophia Valverde, de As Aventuras de Poliana). Ela acaba se declarando sem querer para o crush da escola, Khaleb (Guilherme Brumatti), que acabou de terminar com a garota popular da escola, Diana (Mharessa Fernanda).
Ariana comemora a notícia do término, que obviamente está por todos os cantos das redes sociais, e inicia, sem perceber, uma transmissão ao vivo que mostra toda a sua empolgação com Khaleb. O desastre acaba virando uma oportunidade para ela sair com o carinha dos sonhos, ao mesmo tempo em que não percebe que o amigo Téo (Matheus Ueta) está apaixonado por ela.
O conceito de friendzone já passa como batido e desconexo com a realidade - as garotas das novas gerações já sabem que não têm obrigação alguma de ficar com um garoto porque ele é legal com ela, assim como eles deveriam saber que tratar bem as amigas é o mínimo. Mas esse clichê até pode ser perdoado quando se descobre que Khaleb não é um candidato páreo para Téo.
Há outras estranhezas, como uma personagem mirim que aparece sem ser introduzida e é capaz de resolver muitos conflitos entre personagens, ou ainda números musicais que começam sem nenhum preparo para a audiência.
Mas o que realmente tira A Garota Invisível de um contexto próximo à realidade de jovens brasileiros como os descritos são os diálogos do filme. Tudo parece muito ensaiado - talvez até ensaiado demais - e tirado de filmes dos anos 1980, com uma linguagem forçada e desconexa.
Perto disso, o fato de que o filme termina sem um único beijo acaba não sendo estranho, principalmente considerando o contexto de distanciamento social que estamos vivendo. Mas nada disso deveria justificar a linguagem engessada presente em A Garota Invisível, já que muitas outras produções já vinham usando recursos que reproduzem as interações online em suas narrativas.