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Crítica

A História do Palavrão

Com algumas informações curiosas e um bom Nicolas Cage, maior legado da série é oficializar o formato da Internet para a Netflix

07.01.2021, às 17H37.

Existem alguns bons elementos em A História do Palavrão, nova série documental da Netflix sobre, bem, a história dos palavrões. Ela é simples, relativamente informativa e nos dá uma boa oportunidade de testemunhar o talento e carisma bizarro de Nicolas Cage. Mas, se há um legado definitivo na produção, é oficializar a linguagem da Internet na plataforma. Seguindo o exemplo de Explicando (em parceria com a Vox), e em colaboração com o Funny or Die (responsável por programas como Billy on the Street e Between Two Ferns) a Netflix solidifica um formato de informação direta e rápida característica do YouTube, entregando, da sua parte, um orçamento que permite um apresentador como Cage.

Episódio atrás de episódio, o programa chama especialistas em etimologia e cultura para explicar a origem de alguns dos termos tabus da sociedade americana: “Fuck”, “shit”, “dick” e mais vão sendo analisados do ponto de vista de sua evolução na sociedade, e diversos comediantes aparecem para embalar a produção com piadas. Enquanto existe certo estranhamento em ver um conteúdo “tão Internet” como este na Netflix, A História do Palavrão funciona bem, principalmente se assistido aos poucos, caminhando no sentido contrário do formato maratonável tradicional da plataforma. 

É curioso perceber, no entanto, que houve uma decisão clara em trazer a nova linguagem à plataforma. Cada um dos episódios passeia em um esquema semelhante, que explica a origem da palavra em inglês, sua popularização através da cultura (em quase todos os casos, os palavrões ganharam nova conotação através da música negra e americana) e sua transformação e seu significado nos dias de hoje. A tese e a estrutura se repetem, então por que a Netflix não criou um único longa-metragem sobre o tema, unindo todos os termos? A resposta parece ser, precisamente, pela intenção de introduzir uma nova linguagem, e ainda prender o espectador episódio após episódio, como nos vídeos recomendados do YouTube. 

Mesmo com ótimas participações - com destaque para os comediantes Nick Offerman, London Hughes e o ator Isiah Whitlock Jr. - a série causa um certo desconforto ao confiar o humor no meme que Cage se tornou e nos participantes presentes para comentar os palavrões em curtos relances. Explico: Nicolas Cage é sempre um deleite de assistir. Mas existe uma contradição na série. Ao mesmo tempo que A História do Palavrão apresenta a tese de que palavrões não são mais tão chocantes, ela confia no uso e repetição de palavras sujas para arrancar risos. E, precisamente porque a tese da série é correta, o choque raramente funciona. 

Onde A História do Palavrão acerta é nos momentos em que entrega um conhecimento trivial realmente interessante. Aprendemos curiosidades como que humanos são mais resistentes à dor quando falam palavrões, ou que Jonah Hill é o ator mais boca suja de Hollywood. Este tipo de conteúdo, espalhado pela série, é seu maior apelo. Fosse lançada no YouTube, A História do Palavrão não passaria por um radar crítico e talvez fosse um conteúdo mais descontraído e bem-vindo. Na Netflix, no entanto, a produção chama mais atenção por seus tropeços e por solidificar o casamento do formato da Internet na plataforma.

Nota do Crítico
Regular