Abaixo de Zero/Netflix/Divulgação

Netflix

Crítica

Abaixo de Zero entrega drama violento com toques de horror

Suspense espanhol da Netflix impressiona ao conduzir trama policial como filme de terror

05.02.2021, às 17H02.

A Netflix se tornou uma verdadeira catalisadora de produções espanholas, e os fãs de experiências intensas têm muito para comemorar. Quando se trata de crime, ação ou terror, os espanhóis não costumam decepcionar. Abaixo de Zero não desaponta ao combinar um pouco de tudo.

O suspense de Lluís Quílez acompanha Martín (Javier Gutiérrez), um policial bastante certinho que, em certo dia, assume a função de pilotar um comboio de transferência de presidiários. Mesmo seguindo todos os procedimentos de segurança, com cada um dos detentos em jaulas separadas, a situação rapidamente se torna um inferno quando o veículo é atacado no meio da estrada, durante a madrugada. Entre trocas de tiro e armadilhas, Martín se refugia dentro do veículo blindado e logo descobre que a emboscada é parte da vingança de uma figura enigmática.

Enquanto não há nada de realmente inovador ou excelente, a experiência é marcante pela forma como Quílez brinca com a relação entre espaço e tensão. O longa fica progressivamente mais claustrofóbico a cada nova virada narrativa, e o atrito entre personagens tão distintos, como o policial e diferentes “categorias” de criminosos, apenas aumenta.

O que torna tudo especial é a presença de Miguel (Karra Elejalde), a figura responsável pelo ataque - e é aqui que a direção se destaca. Quílez se inspira tanto em David Fincher quanto em John Carpenter para criar um filme de cerco na intersecção entre o suspense policial e o terror. Quando Martín deixa o comboio defeituoso com arma em punho, em plena neblina de uma madrugada fria na floresta, e descobre que há um assassino fisgando uma vítima por vez do lado de fora, é impossível não lembrar de um slasher, subgênero do horror de serial killers.

O controle de Quílez na direção e no roteiro, escrito ao lado de Fernando Navarro, garante que o longa se desenrole sem pressa, e que a utilização de Miguel na narrativa seja cirúrgica, criando discórdia entre os sobreviventes refugiados. Além disso, esse ritmo mais cadenciado também dá muito mais impacto às inventivas cenas de ação e aos momentos de violência gráfica.

Abaixo de Zero pode não ser um filme verdadeiramente incrível, mas chega perto o bastante com fotografia excelente, personagens carismáticos e discussões interessantes sobre vingança e o papel da lei. Em quase duas horas de tensão e brutalidade, é um bom lembrete de que o cinema espanhol traz algo de especial até em seus exemplos mais modestos.

Nota do Crítico
Bom