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Crítica

Castlevania - 3ª Temporada

Anime da Netflix retorna mais maduro e compensa falta de Drácula com retomada de temas importantes

12.03.2020, às 20H00.
Atualizada em 13.03.2020, ÀS 11H37

Conhecida como uma das mais celebradas franquias dos videogames, Castlevania ganhou em 2017 uma adaptação em anime pela Netflix. Curto e apressado, o primeiro ano da produção serviu como uma espécie de cartão de visitas, garantindo uma segunda temporada que, com o dobro de episódios, é muito mais madura e até comovente. Com a conclusão do arco de Drácula no segundo ano, restou a dúvida a respeito de qual direção a produção seguiria sem a presença de seu grande vilão. Investindo em tramas paralelas que ampliam sua mitologia, a animação manteve o bom nível em um ano que retomou temas importantes.

Um mês após derrotar Drácula, o trio formado por Trevor Belmont, Sypha Belnades e Alucard seguiu caminhos opostos. Belmont e Belnades decidiram aproveitar a experiência adquirida no embate para ganhar a vida como caçadores de Criaturas da Noite. A jornada os leva a Lindenfeld, cidade que passou a temer os sacerdotes liderados pelo misterioso Prior Sala após o contato com um demônio. Já o Dampiro - nome dado ao híbrido entre vampiro e humano - permaneceu no Castelo de Drácula, lidando com o peso de ter matado seu pai. Sua solidão acaba após o surgimento de Taka e Sumi, caçadores de vampiros que buscam ensinamentos sobre caçar monstros.

As forças do mal também foram afetados pela queda de Drácula. Isaac, seu mais fiel lacaio, busca uma forma de retornar a Valáquia enquanto reúne um grande exército para concluir o plano de seu mentor e se vingar de seus traidores. Por fim, a vampira Carmila retorna para Estíria decidida a usar o Mestre da Forja Hector para construir um novo exército e instaurar um novo império vampírico.

Com quatro tramas principais, o terceiro ano de Castlevania busca ao máximo se afastar da dependência de Drácula apostando em alternativas interessantes que resultam em uma expansão desse universo. Novos personagens, como as irmãs de Carmila ou a dupla de caça-vampiros Taka e Sumi, não apenas movem a trama para frente, como também ajudam a contextualizar melhor algumas questões deixadas por temporadas anteriores. Porém, a meta não é completamente atingida, já que a sombra de Adrian Tepes alcança praticamente todos os núcleos da temporada, seja através da melancolia de Alucard ou da devoção de Isaac.

Outro ponto positivo da produção está no retorno de temas que deixaram de ser foco durante o impressionante clímax de seu ano anterior. Ainda que ambientado em um mundo dominado por forças sobrenaturais, Castlevania faz questão de debater o significado de humanidade através de diferentes perspectivas. Voltam à pauta a vocação dos homens em provocar suas próprias desgraças, seja por medo, arrogância ou luxúria, assim como a capacidade em superar as próprias trevas em prol de um bem maior. Através de pequenas vitórias e derrotas, a produção propõe reflexões que utilizam metáforas para refletir não só o que o ser humano é, mas o que poderia se tornar a partir de determinados estímulos.

Nesse sentido, é Isaac quem se destaca ao propor o maior número de discussões em uma só jornada. Sua natureza questionadora estabelecida em temporadas anteriores é explorada de uma forma interessante quando o Mestre da Forja revê seus conceitos e examina suas motivações. No espectro oposto está Alucard, que quase sobra na temporada. Ainda que os desdobramentos de sua relação com os novos aprendizes sejam tematicamente importantes para colocar em jogo suas crenças, sua participação soa protocolar ao se arrastar por muito tempo até chegar em uma conclusão apressada.

Novamente escrito pelo quadrinista Warren Ellis (Planetary), o roteiro por vezes é didático para que o público não se perca no emaranhado de enredos que se sobrepõem. Com diálogos afiados, o texto se apropria de clichês, mas os usa em favor da trama evitando armadilhas comuns. Alguns dos enredos se desenham contando com a familiaridade do público com lugares-comuns do gênero de horror, proporcionando uma falsa previsibilidade que surpreende e dá novo fôlego à trama. É perceptível a evolução do ritmo da produção, que aprendeu a usar a estrutura dos serviços de streaming ao seu favor, contando a história de uma forma que seria impraticável em outros veículos.

É uma pena que a animação não acompanhe a evolução do texto. Ainda que o design seja competente e o visual não perca a qualidade ao longo de seus 10 novos episódios, as cenas de ação sofrem com instabilidade. Em uma temporada cheia de batalhas, é perceptível a diferença entre as que a produção considera triviais e as que decide caprichar. Com pouco brilho, alguns embates falham em causar no espectador o impacto esperado, comprometendo parte da experiência de uma produção que constantemente convida o espectador a se colocar no lugar de seus personagens.

Mesmo com essa questão técnica, o futuro parece promissor para Castlevania. Promovendo reflexões e combates empolgantes, o anime aponta para um futuro ainda mais sangrento e surpreendente. Ainda que pareça anticlimático, o encerramento da terceira temporada é uma falsa calmaria que prenuncia embates ainda maiores. Ainda sem uma quarta temporada confirmada oficialmente, resta à Netflix investir na parte visual para que a animação acompanhe o alto nível de seu texto.

Nota do Crítico
Ótimo