Sex Education/Netflix/Divulgação

Netflix

Crítica

Sex Education - 2ª temporada

Série retorna mais difícil e mais profunda, explorando a individualidade de seus personagens

17.01.2020, às 18H31.
Atualizada em 19.04.2020, ÀS 15H17

Um dos elementos que faz de Sex Education uma série tão interessante é sua perspectiva e estética realista da curiosidade sexual adolescente. Em seu primeiro ano na Netflix, a criação de Laurie Nunn se mostrou uma das produções mais genuínas em termos da problemática da juventude. A história do filho de uma terapeuta sexual que auxilia alunos de sua escola com o conhecimento adquirido com a mãe ao longo dos anos é tão divertida quanto honesta, e explorou diversas facetas do tema durante sua primeira leva de episódios. Nada mais natural que, no 2º ano, ela retorne interrogando suas próprias bases, e retirando Otis (Asa Butterfield), um adolescente inexperiente de 16 anos, do papel de sabe-tudo. 

Os alunos de Moordale iniciam um ano letivo caótico que reitera tanto a relevância da série, como a importância da educação sexual. A falta de informação levou à uma histeria coletiva sobre os perigos de DSTs e Jean (Gillian Anderson) é levada à escola para aconselhar os alunos. Com a psicóloga exercendo sua profissão e arriscando os negócios da clínica sexual de Otis, a temporada explora o protagonista mais como um adolescente prepotente do que genial, e coloca Jean em um papel que lhe pertence naturalmente. A inversão de perspectivas de Jean e Otis, no 2º ano, é um dos acertos da produção, e reflete a constante indagação da série sobre a posição de cada um de seus personagens. Infelizmente, o novo cenário também ameaça o desenvolvimento do relacionamento entre Otis e Maeve (Emma Mackey). 

Sex Education/Netflix/Divulgação

A exploração de narrativas individuais é o que traz mais sobriedade ao 2º ano de Sex Education. Desta vez, cada um está por si e tem seu próprio núcleo, em tramas que se entrelaçam conforme o desenvolvimento dos episódios. Enquanto Maeve e Otis tem problemas familiares para cuidar, Eric (Ncuti Gatwa) se envolve com um aluno novo, Aimee (Aimee Lou Wood) lida com uma experiência traumática e Adam (Connor Swindells) está em busca de autoconhecimento. Ola (Patricia Allison), que também passa por uma jornada de descobertas pessoais, é uma das personagens que mais ganha com o novo estilo narrativo, que propositalmente despe sua personalidade de adolescente bem resolvida. Muito por isso, a difusão das narrativas se mostra importante, por mais que deixe a série mais ácida. 

Com cada personagem tendo seu próprio potencial a ser explorado, os episódios caminham bem nas encruzilhadas, mas em detrimento de muito do que fez a primeira temporada tão cativante: o companheirismo. Ao abrir mão do laço entre Maeve e Otis, que tem poucos momentos juntos no 2º ano, e separar Otis e Eric em seus próprios caminhos, Sex Education enfraquece um de seus maiores charmes. A série, no entanto, nunca desliza de sua mensagem, e entrega momentos grandiosos que, embora raros, são ainda mais comoventes do que cenários do primeiro ano. A discussão de assédio que une diversas colegas em um momento de raiva é certamente um dos maiores destaques da série até hoje, e é brilhantemente debatida. Neste, que é um dos episódios finais, Sex Education representa perfeitamente a ideia de que sororidade está acima de amizade feminina, e que não é preciso se amar para se entender. 

A 2ª temporada também se mostra certeira ao desenvolver as histórias sem esquecer aprendizados e experiências do passado, algo particularmente importante para o arco de Eric e Adam, que não pode ter resolução sem tratar do bullying que se passou durante o 1º ano. Além disso, a amizade de Otis e Eric, que já havia passado por turbulências, não precisou ser testada novamente, enquanto a relação de Otis e Jean, que apenas começou a dar seus primeiros passos à algo positivo no passado, retornou mais afiada e pronta para questionar seus fundamentos. Maeve, por sua vez, se desenvolveu para uma mulher mais dedicada e segura de si.

A receita já estabelecida ganhou mais tempero com a formação de novas alianças, como a amizade entre Ola e Lily (Tanya Reynolds) e Jackson (Kedar Williams-Stirling) e Viv (Chinenye Ezeudu), e a exploração surpreendente da personagem da Sra. Groff (Samantha Spiro), que tinha potencial desde o primeiro episódio da série. A adição de novas figuras e o desenvolvimento de tramas pouco explorados em roteiros admiráveis, no entanto, não impediu que Sex Education deslize de um modo que nunca havia feito em seu 1º ano. Na 2ª temporada, soluções fáceis são encontradas apontando vilões, o que pode deixar promessas para um novo ano, mas certamente causa desconforto pelo desfecho superficial.

Mantendo sua tradição de utilizar referências americanas - que no 2º ano passam por Clube dos Cinco e Meninas Malvadas - Sex Education retornou mais séria, e potencializou sua relevância com novos temas, mais profundos e mais difíceis de serem tratados. Apropriadamente, a 2ª temporada funciona bastante como um segundo ano do colegial: com mais potencial e liberdade, as situações ficam mais difíceis, mas abrem portas para um promissor ano seguinte. 

Nota do Crítico
Ótimo