Esquadrão Trovão/Netflix/Reprodução

Netflix

Crítica

Esquadrão Trovão abraça com coração a farofa dos filmes de super-herói

Comédia da Netflix conquista com seus exageros e humor pastelão

09.04.2021, às 15H15.

Em um mundo em que superpoderes são sinônimo de vilania, ser comum é também ser impotente. Esse é o drama da Chicago de Esquadrão Trovão desde os anos 1980, quando a Terra foi atingida por raios cósmicos que transformaram pessoas com tendências sociopatas em seres com habilidades extraordinárias. Reinando soberanos, esses “felizardos”, conhecidos como Meliantes, cometiam todo o tipo de atrocidade e saiam impunes. Entre roubos, agressões e assassinatos, a jovem prodígio Emily Stanton (Octavia Spencer) perdeu seus pais e jurou para si mesma que encontraria uma forma de transformar cidadãos ordinários em heróis capazes de deter as transgressões dos poderosos.

Quase 30 anos depois, Emily finalmente encontrou as fórmulas da superforça e da invisibilidade. Mas, por causa de Lydia (Melissa McCarthy), sua amiga de infância curiosa e impulsiva, o que era para ser um trabalho solo se transforma em uma missão em dupla.

Esquadrão Trovão então se apresenta como a típica comédia que McCarthy usa como veículo para coprotagonizar em dupla ou par, mas com uma premissa tão fundamentada na história de origem de Bingo (codinome adotado por Emily), é irônico que ela seja mais uma sidekick de McCarthy do que propriamente uma heroína de igual importância. Desempenhando o papel de cérebro da dupla, a personagem de Spencer tem dificuldades de equilibrar suas responsabilidades com momentos de descontração e, por isso, fica muito fácil para McCarthy roubar a cena. Está no DNA da personagem mais irreverente fazer antes e pensar depois. Logo, não faltam oportunidades para a experiente comediante se destacar, seja investindo na comédia física nas cenas de ação, seja com comentários tão idiotas que é difícil conter o riso.

A entrada do “vilão” meio-homem, meio-caranguejo vivido por Jason Bateman escancara ainda mais esse desequilíbrio. Mesmo servindo como um coadjuvante na história, sua performance cômica, assim como sua presença em tela, têm mais expressão que as de Spencer. Em partes, é compreensível, dada a óbvia química de Bateman com McCarthy - com quem, inclusive, contracenou em Uma Ladra Sem Limites. No entanto, é inegável que Spencer é uma figura destoante na farofa que o filme se propõe a ser. Ela é talvez a figura mais ancorada na realidade em um mundo habitado por caricaturas, como o político de ombreiras avantajadas de Bobby Cannavale e a antagonista hiperdramática de Pom Klementieff. Nesse sentido, a invisibilidade é realmente sua marca registrada, porque o arco da cientista Emily é o menos memorável.

É uma pena que uma atriz tão carismática como Octavia Spencer tenha ficado em segundo plano, mas esta é apenas uma das incongruências da história escrita e dirigida por Ben Falcone - comediante que é mais conhecido por ser o marido de Melissa McCarthy Há conveniências demais na trama, sobretudo no caminhar lento dos planos do personagem de Cannavale, que poderia ter colocado um ponto final no conflito central pelo menos duas vezes antes da última hora de filme, e no próprio ato de heroísmo que efetivamente o faz.

Entre uma ou outra piada, que dão um misto de aflição e vergonha alheia, e hits dos anos 1980 e 1990, o humor pastelão envolve o espectador de tal maneira que não é preciso muito esforço para se deixar levar. Como uma boa paródia dos filmes de super-heróis, Esquadrão Trovão segue o passo a passo clássico de uma história de origem e frisa o ridículo de algumas imagens-chave na representação do gênero, como a caminhada em câmera lenta do vilão, ou então a combinação disfuncional de um uniforme estruturado e um carro esportivo. E, por mais que incomode que esse não seja um filme de equipe de fato, a personalidade expansiva de Lydia é contagiante, assim como a obsessão da dupla de amigas por hits dos anos 1980 e 1990.

Talvez Esquadrão Trovão seja de fato mais sobre a heroína super forte do que um filme de equipe. Mas, se Falcone tiver intenção de levar a paródia para outro nível, ele pode corrigir esse desequilíbrio produzindo uma sequência. Há brechas suficientes para que a história continue, com a dupla assumindo um papel oficial na cidade, tendo uma revanche com um dos vilões ou, então, simplesmente encontrando novos inimigos pelo caminho. Quem sabe num Esquadrão Trovão 2 Octavia Spencer e sua Emily tenham mais tempo de tela para se divertir em vez de serem apenas uma voz da razão.

Nota do Crítico
Bom