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Crítica

Filme da Netflix, Moxie traz discussão do feminismo para as novas gerações

Longa usa linguagem simples do ensino médio para falar sobre descobertas e aplicação de conceitos na vida real

05.03.2021, às 15H39.

Quando falamos de conceitos como feminismo, machismo, preconceito de gênero etc., é comum que muita gente dê as costas porque julga a discussão acadêmica demais, ou distante do seu dia a dia. Por isso é tão gratificante assistir a um filme como Moxie: Quando as Garotas vão à Luta, nova produção da Netflix que pega tudo isso e traduz em uma linguagem simples - mas nem por isso menos poderosa.

A trama acompanha Vivian (Hadley Robinson), uma jovem que começa a despertar o desejo de lutar contra as coisas erradas que acontecem em sua escola - desde um “ranking de garotas” feito pelos rapazes, até a vista grossa dos professores e diretoras diante de assédio e discriminação. Sua maior inspiração são os zines antigos de sua mãe, Lisa (Amy Poehler, também diretora do longa), que a fazem criar o Moxie, um jornal independente da escola que começa a expor tudo o que acontece por lá.

De premissa simples, o longa sobressai nos detalhes e leva o público a pensar fora de sua bolha. Será que os rapazes ainda são beneficiados na escola por conta do esporte? Será que há professores que ainda se abstêm de ajudar alunas quando necessário? Talvez quem more nas capitais ache absurdo repensar essas questões, mas Moxie mostra - a partir do exemplo da cidadezinha fictícia de Rockport - que em muitos lugares, a igualdade de gênero está ainda mais longe de ser uma realidade.

Por ser um filme adolescente, Moxie: Quando as Garotas vão à Luta também fala muito sobre as descobertas dessa fase da vida, pelo olhar de uma garota que está começando a entender como se posicionar. Um bom exemplo é como Vivian se comporta ao testemunhar o maior atleta da escola (Patrick Schwarzenegger) assediar uma aluna nova (Alycia Pascual-Pena). Em um primeiro momento, ela realmente não sabe o que fazer e age da forma mais comum possível: dá as costas e escolhe outro caminho. Vivian, como muitas mulheres até mais velhas do que ela, constrói aos poucos a força para tomar uma ação diante de um ato desses, algo que não é fácil de conseguir.

O filme também acerta bastante ao mostrar como a aplicação de conceitos na vida real pode precisar de adaptações. Quando começa a embarcar realmente nas ideias do feminismo e ver as injustiças em sua escola (como uma garota que precisa trocar de blusa para não “provocar” os meninos), a protagonista começa a sentir uma raiva imensa e, ao não saber como direcioná-la, a joga para todos os lados, magoando inclusive pessoas que ela ama. A raiva de Vivian tem sentido, mas o longa é certeiro ao mostrar que é preciso direcionar este sentimento para uma ação efetiva, e que o feminismo está longe de ser uma raiva generalizada contra os homens.

Talvez o grande defeito de Moxie é que praticamente todas as questões citadas até aqui são apenas pinceladas, assim como acontece no livro. Sem desenvolver seus personagens, o filme começa várias discussões, mas deixa as conclusões a cargo do público. Ainda que isso possa parecer frustrante em alguns momentos (a cena final poderia ter sido melhor trabalhada), o longa cumpre seu papel de ser um bom ponto de partida e gerar dúvidas construtivas em um público jovem, que tem tudo para crescer com essas questões muito melhor resolvidas do que as gerações anteriores.

Nota do Crítico
Bom