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Crítica

O Método Kominsky – 2ª Temporada

Química entre Michael Douglas e Alan Arkin continua sendo o trunfo de uma série que fala sobre envelhecimento com (muito) bom humor

26.10.2019, às 11H32.

Há uma expressão britânica muito utilizada em Hollywood que define um filme, uma série ou uma peça sustentada quase que inteiramente pela atuação de duas pessoas: two-hander. Mesmo sendo uma narrativa utilizada há décadas no cinema e na TV, o sucesso é muitas vezes atingido por se tratar de dois grandes personagens e ótimos atores os representando. Foi o caso do primeiro ano de O Método Kominsky, do mestre das sitcoms norte-americanas Chuck Lorre, que reuniu pela primeira vez em uma produção os astros Michael Douglas e Alan Arkin. Mesmo fora da sua zona de conforto, sem as risadas de fundo e gravação com mais de uma câmera, Lorre mostrou que sabe diversificar seu estilo para contar uma boa história — a prova veio com o prêmio de Melhor Série de Comédia no Globo de Ouro para a produção da Netflix. A questão principal ficou para o que viria depois: a segunda temporada seria capaz de manter o alto nível? Felizmente, tudo que é bom pode ficar ainda melhor.

Os novos capítulos seguem utilizando como tema principal a crise existencial dos protagonistas com suas idades avançadas. Enquanto Norman (Arkin) vê no reencontro com um antigo amor um novo sentido para a vida após a perda da esposa, Sandy (Douglas) continua sem aceitar o fato de que o seu estilo bon-vivant não é mais compatível com os seus 70 e poucos anos.

Também premiado com um Globo de Ouro por seu papel na série, Michael Douglas parece estar ainda mais confortável como o professor de teatro nos novos episódios. A química entre ele e Arkin fica melhor a cada piada e ofensa entre os dois, com o texto abusando do talento de ambos. Assim como no primeiro ano, a dobradinha continua sendo o grande trunfo da produção.

Com 67 anos, Chuck Lorre parece utilizar a série para rir de si mesmo. As situações sobre problemas da terceira idade continuam rendendo os melhores momentos entre Sandy e Norman. Velórios, problemas nas juntas e dificuldades de ereção são assuntos frequentes entre os personagens. Pode não ser uma abordagem totalmente nova – a própria Netflix tem em Grace and Frankie outro sucesso com idosos mudando suas vidas após acontecimentos inesperados – mas a qualidade da série ultrapassa qualquer problema de falta de originalidade.

Mesmo que o foco seja a comédia, o drama passeia nas entrelinhas em O Método Kominsky. Os novos episódios exploram outras camadas dos personagens e os vemos sofrendo com reconciliações familiares e medo da morte com doenças inesperadas. Aqui, Douglas incorpora ainda melhor o seu papel como mentor de aspirantes a atores em sua escola de atuação e entrega duetos de qualidade com quase todos. Como em Hollywood nem tudo são flores, o professor ainda encontra espaço para refletir sobre as dificuldades de um mercado onde uma grande parcela dos artistas sindicalizados está sem emprego. É a crítica à realidade dentro da ficção.

Por estarmos falando de uma produção de Lorre, não podemos nos esquecer da força de seus coadjuvantes. Assim como Berta e Evelyn em Two and a Half Men, e Bernadette e Amy em The Big Bang Theory, que ganhavam mais destaque a cada episódio, a produção da Netflix também conta com o charme de personagens secundários que acrescentam ainda mais humor à trama. A adição de Paul Reiser como o namorado idoso de Mindy (Sarah Baker) é um grande acerto do novo ano, que ainda conta com excelentes participações especiais de Bob Odenkirk, Allison Janney e Kathleen Turner.

Com Sandy e Norman se preparando para o último estágio da vida, O Método Kominsky vai cavando o seu lugar entre as melhores comédias da Netflix por falar das dificuldades sobre o envelhecimento com (muito) bom humor e deixa as portas abertas para que Douglas e Arkin retornem com debates ainda mais engraçados nas mais inusitadas situações.

Nota do Crítico
Ótimo