Há uma expressão britânica muito utilizada em Hollywood que define um filme, uma série ou uma peça sustentada quase que inteiramente pela atuação de duas pessoas: two-hander. Mesmo sendo uma narrativa utilizada há décadas no cinema e na TV, o sucesso é muitas vezes atingido por se tratar de dois grandes personagens e ótimos atores os representando. Foi o caso do primeiro ano de O Método Kominsky, do mestre das sitcoms norte-americanas Chuck Lorre, que reuniu pela primeira vez em uma produção os astros Michael Douglas e Alan Arkin. Mesmo fora da sua zona de conforto, sem as risadas de fundo e gravação com mais de uma câmera, Lorre mostrou que sabe diversificar seu estilo para contar uma boa história — a prova veio com o prêmio de Melhor Série de Comédia no Globo de Ouro para a produção da Netflix. A questão principal ficou para o que viria depois: a segunda temporada seria capaz de manter o alto nível? Felizmente, tudo que é bom pode ficar ainda melhor.
Os novos capítulos seguem utilizando como tema principal a crise existencial dos protagonistas com suas idades avançadas. Enquanto Norman (Arkin) vê no reencontro com um antigo amor um novo sentido para a vida após a perda da esposa, Sandy (Douglas) continua sem aceitar o fato de que o seu estilo bon-vivant não é mais compatível com os seus 70 e poucos anos.
Também premiado com um Globo de Ouro por seu papel na série, Michael Douglas parece estar ainda mais confortável como o professor de teatro nos novos episódios. A química entre ele e Arkin fica melhor a cada piada e ofensa entre os dois, com o texto abusando do talento de ambos. Assim como no primeiro ano, a dobradinha continua sendo o grande trunfo da produção.
Com 67 anos, Chuck Lorre parece utilizar a série para rir de si mesmo. As situações sobre problemas da terceira idade continuam rendendo os melhores momentos entre Sandy e Norman. Velórios, problemas nas juntas e dificuldades de ereção são assuntos frequentes entre os personagens. Pode não ser uma abordagem totalmente nova – a própria Netflix tem em Grace and Frankie outro sucesso com idosos mudando suas vidas após acontecimentos inesperados – mas a qualidade da série ultrapassa qualquer problema de falta de originalidade.
Mesmo que o foco seja a comédia, o drama passeia nas entrelinhas em O Método Kominsky. Os novos episódios exploram outras camadas dos personagens e os vemos sofrendo com reconciliações familiares e medo da morte com doenças inesperadas. Aqui, Douglas incorpora ainda melhor o seu papel como mentor de aspirantes a atores em sua escola de atuação e entrega duetos de qualidade com quase todos. Como em Hollywood nem tudo são flores, o professor ainda encontra espaço para refletir sobre as dificuldades de um mercado onde uma grande parcela dos artistas sindicalizados está sem emprego. É a crítica à realidade dentro da ficção.
Por estarmos falando de uma produção de Lorre, não podemos nos esquecer da força de seus coadjuvantes. Assim como Berta e Evelyn em Two and a Half Men, e Bernadette e Amy em The Big Bang Theory, que ganhavam mais destaque a cada episódio, a produção da Netflix também conta com o charme de personagens secundários que acrescentam ainda mais humor à trama. A adição de Paul Reiser como o namorado idoso de Mindy (Sarah Baker) é um grande acerto do novo ano, que ainda conta com excelentes participações especiais de Bob Odenkirk, Allison Janney e Kathleen Turner.
Com Sandy e Norman se preparando para o último estágio da vida, O Método Kominsky vai cavando o seu lugar entre as melhores comédias da Netflix por falar das dificuldades sobre o envelhecimento com (muito) bom humor e deixa as portas abertas para que Douglas e Arkin retornem com debates ainda mais engraçados nas mais inusitadas situações.