Quando a Netflix anunciou o cancelamento de O Mundo Sombrio de Sabrina, houve certa comoção dos fãs nas redes sociais e o criador da produção, Roberto Aguirre-Sacasa, chegou a dizer que a Parte 5 seria incrível. No entanto, a Parte 4 da série sobre a bruxinha adolescente deixou muito a desejar e os problemas não estão relacionados com o cancelamento. Sem saber o que fazer com seus personagens e focada em fan services, a série esquece de desenvolver uma boa história e encerra sua trajetória deixando um gosto amargo na boca dos fãs.
A temporada começa lidando com a existência de duas Sabrinas (Kiernan Shipka), Morningstar e Spellman, que se dividiram para aproveitar o melhor de cada mundo: o mortal e o inferno. Ainda que a série tenha algumas ideias boas (como as conversas entre as duas Sabrinas), este arco reflete toda a confusão narrativa da temporada. Conceitos apresentados como importantes são deixados pelo caminho, enquanto problemas surgem convenientemente para a trama caminhar para onde os roteiristas querem. O desenvolvimento dos dois lados de Sabrina também deixa a desejar. A série foca bastante na jovem Spellman, que parece ter regredido de todos os seus aprendizados, e mostra pouco da rotina da Morningstar, o que torna difícil entender suas decisões.
Ao tentar criar uma oposição interessante com os Terrores do Sobrenatural, O Mundo Sombrio de Sabrina repete fórmulas. A oposição do Padre Blackwood (Richard Coyle) soa desinteressante, ainda que o personagem tenha tido grandes momentos nas temporadas anteriores; Lucifer Morningstar (Luke Cook) quase não aparece na temporada e, quando o faz, é sem o brilho anterior, tomando decisões que não condizem com o personagem; Roz (Jaz Sinclair) tem sua história alterada sem muita explicação e até Ambrose (Chance Perdomo) teve seu desenvolvimento próprio deixado de lado, tornando-se apenas o personagem que serve ao roteiro explicando tudo o que está acontecendo para a história continuar.
O seriado tentou inovar em alguns momentos, mas esbarrou em conceitos pouco criativos: uma realidade alternativa no episódio 4, o autoritarismo de Blackwood (algo já abordado antes, quando ele dirigia a Academia) e um universo paralelo em que Morningstar se encontra com as tias (e o Salem) da série de comédia da Sabrina dos anos 90. Parece que os produtores estavam tão preocupados em entregar uma temporada cheia de referências aos fãs, que a criação de uma narrativa coesa ficou de lado. Prova disso são os capítulos finais da série, que tiram conceitos e problemas do nada (com Ambrose explicando tudo, claro), para entregar um clímax sem o impacto necessário para despertar o interesse do público.
Terrores e musicais
Como não poderia ser diferente, a Parte 4 de O Mundo Sombrio de Sabrina conta também com alguns números musicais, que embalam momentos importantes entre casais (como uma cena com “Total Eclipse Of The Heart”) e também fazem parte da narrativa, como a chegada da banda Satanic Panic. Porém, ainda que seja divertido ver Harvey e cia. no palco cantando sucessos dos anos 80 e 90, a maioria dos números musicais soa forçado, especialmente quando a própria Sabrina sobe ao palco para cantar “Sweet Child of Mine”.
Levando todos esses pontos em consideração, O Mundo Sombrio de Sabrina entregou uma temporada final extremamente fraca, que não condiz com a qualidade dos primeiros anos do seriado. Se tivesse uma quinta temporada pela frente, o seriado teria muito o que melhorar (e explicar) para consertar parte do que foi feito aqui. Como a série já está cancelada, resta aos fãs considerar apenas os primeiros anos do seriado como uma produção de qualidade e imaginar o que poderia ter sido caso o foco dos produtores fosse no conteúdo da história e não em sua embalagem.