Tornar-se a próxima grande bailarina exige sacrifícios, e isso nunca foi um mistério para a jovem e promissora Neveah (Kylie Jefferson). No entanto, quando foi aceita na Archer School of Ballet, mal sabia ela que se juntar à elite do balé de Chicago poderia implicar também em arriscar sua vida. Além de enfrentar os preconceitos dos seus colegas e o ambiente altamente competitivo, a rotina pesada de ensaios a obrigaria ainda a conviver com um criminoso. Afinal, a adolescente só conseguiu sua bolsa de estudos porque Cassie (Anna Maiche), a melhor aluna da turma, foi empurrada de um prédio e agora está em coma. Mais que abrir uma vaga na escola, a tentativa de homicídio deu início a um verdadeiro jogo de desconfianças e não tem como Neveah fugir dele.
Se a premissa de O Preço da Perfeição parece melodramática é porque realmente é. Seguindo uma fórmula bem-sucedida em produções adolescentes e investigativas, como Elite e How to Get Away With Murder, a série da Netflix usa e abusa de cenas de sexo e incita rivalidades entre seus personagens a todo momento para instigar a curiosidade do espectador e fazê-lo suspeitar até mesmo dos professores da escola. Não é de surpreender, portanto, que tantas pessoas tenham maratonado os 10 episódios da primeira temporada. Mas há algo de diferente em O Preço da Perfeição. Enquanto Elite tem personagens carismáticos e o sucesso da ABC tem um elenco de peso encabeçado por Viola Davis, O Preço da Perfeição é deliberadamente ruim. Não há outra explicação para tantos furos no desenvolvimento do mistério que norteia a temporada.
As picuinhas entre os adolescentes surgem e se desfazem em questão de uma troca de cena. Embora essa objetividade seja estranha e longe do ideal, ela não seria tão problemática se a rivalidade não reaparecesse no episódio seguinte como se nada tivesse acontecido. Um exemplo claro disso é o ódio de June (Daniela Norman) por Neveah. Primeiro, ela culpa a amiga por perder o papel principal. Depois, age como se nunca tivesse desconfiado da sua amizade. No momento seguinte, a colega de quarto sempre foi a vilã da história, e June nunca duvidou disso. Essa falta de continuidade do roteiro é tão gritante que chega a ser difícil acompanhar a série, muito menos entender os dramas dos personagens.
Curiosamente é esse descuido que torna O Preço da Perfeição hipnotizante. Ao mesmo tempo que a série desperta aquela vontade de juntar as peças do quebra-cabeças - e aqui me refiro tanto à investigação do caso de Cassie, quanto ao que raios está acontecendo -, os episódios te deixam com vontade de gritar com a sua televisão, e isso é incrivelmente catártico. Em outras palavras, assistir à série com um olhar irônico talvez seja a melhor saída.
Entre as atuações mornas e o esgotamento de recursos narrativos - em O Preço da Perfeição, estar diante de um problema é sinônimo de ter um pesadelo com Cassie e sapatilhas de balé -, o ponto alto da série mesmo são os números de dança. Belas e desafiadoras, as performances têm o mérito de expressar os sentimentos em cena quando as palavras do roteiro são tão falhas e mais: propor uma interessante imersão no mundo do balé para espectadores que talvez sejam leigos.
Essa proposta bem-sucedida não salva o seriado de todos os seus problemas. É ainda notável como a investigação policial é descartável, assim como a narração ao estilo Gossip Girl. No entanto, talvez seus problemas sejam realmente a melhor parte. Apresentando mais um crime nos corredores da Archer School of Ballet, O Preço da Perfeição, como seus personagens, tem grandes ambições. E será divertido acompanhá-las.