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Crítica

Pássaro do Oriente

Alicia Vikander é a alma de filme sobre paranoias e culpas

23.11.2019, às 10H07.
Atualizada em 23.11.2019, ÀS 10H44

Vivemos na atmosfera da morte, mas estamos vivos”, diz um personagem a outro em Pássaro do Oriente. A frase reflexiva explica muito bem o tom gélido das quase duras horas do novo longa da Netflix que adapta o romance homônimo da escritora britânica Susanna Jones.

 A trama se passa na Tóquio de 1989 e conta a história de Lucy Fly (Alicia Vikander), uma jovem atormentada pelo passado que se mudou para a capital japonesa para se esquecer de seus traumas. Ela conhece Teiji (Naoki Kobayashi), um enigmático e sedutor fotógrafo, e inicia um relacionamento intenso. Quando a amiga de Lucy, Lily Bridges (Riley Keough), desaparece, ela se torna a principal suspeita da investigação.

Conforme os detetives interrogam Lucy, uma sequência de flashbacks mostra como a moça conheceu Teiji e a construção do relacionamento de ambos. A paixão da protagonista vai, aos poucos, se tornando obsessão e a narrativa de suspense psicológico toma forma. Cercada por traumas, a morte sempre esteve presente na vida da Lucy, transformando-a em uma mulher fria e quase sem expressão. Com diálogos em inglês e japonês, Vikander tem uma atuação firme ao refletir as paranoias da personagem em tela com perfeição. Ela venera Teiji e o diretor Wash Westmoreland comprova isso a cada quadro, como quando  Lucy observa o amante por de trás de seu corpo. De costas, Teiji é quase um monumento, uma entidade a qual  reverencia.

O diretor também usa Tóquio para criar um ambiente cada vez mais sufocante. Em parceria com cinematógrafo sul-coreano Chung-hoon Chung, colaborador de longa data do cineasta Chan-wook Park (Oldboy), os espaços se tornam retratos da paranoia da personagem de Vikander. “Diziam que a fotografia tira a alma das pessoas”, diz Teiji para a namorada em certo momento. É o que acontece quando Lucy observa o amado dançar com Lily em uma casa noturna, ou nas cenas em que se despedem do metrô, cada close up no rosto da protagonista sugere que um pedaço da sua alma se perdeu. 

Sexy e misterioso, a força do thriller está mesmo em Vikander. Sua expressão sóbria muitas vezes beira a loucura, e seu esforço para se tornar fluente em japonês é recompensado com o excelente monólogo na parte final. Lucy carrega culpa por diversos momentos de sua vida e é nítido o peso em seus ombros. O espectador pode acabar comparando o longa a outros filmes do gênero, como Atração Fatal e Instinto Selvagem, mas Pássaro do Oriente se sustenta com sua originalidade. Tal como nas paisagens frias do Japão, é um ótimo entretenimento para aquela tarde chuvosa de Netflix.

Nota do Crítico
Bom