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Crítica

Por Lugares Incríveis

Adaptação da Netflix entrega personagens interessantes, mas se perde ao tentar desenvolver o drama adolescente

01.03.2020, às 21H06.
Atualizada em 02.03.2020, ÀS 12H21

A sensação de assistir Por Lugares Incríveis é de familiaridade. Dois jovens com algum tipo de problema se aproximam por motivos inusitados e eventualmente se apaixonam. A premissa é bem comum e se popularizou nas últimas décadas, muito por conta de filmes baseados em livros de autores como John Green, que tem como foco essa temática mais teen. Desde Um Amor para Recordar - esse inspirado na obra de Nicholas Sparks – trocaram-se os conflitos sociais ou familiares por problemas de saúde dos mais variados, do câncer à paraplegia. As principais diferenças entre as produções estão nos detalhes, e aqui eles se destacam – positiva e negativamente.

A protagonista da trama é Violet Markey (Elle Fanning), uma adolescente de 17 anos que sofre com o luto pela morte da irmã mais velha após um acidente. Afastada dos amigos, ela sobe no parapeito da ponte onde ocorreu a tragédia com pensamentos suicidas. É nesse momento que aparece Theodore Fitch (Justice Smith), um colega da escola que a ajuda a desistir do ato. A partir daí, o garoto tenta uma aproximação e, após serem unidos por um trabalho escolar, tentam redescobrir juntos os bons momentos da vida.

Baseada no livro homônimo de Jennifer Niven, a adaptação também toca em temas sensíveis e pouco falados entre os jovens. Muitos sofrem com o sentimento de solidão, de ser mal interpretado, o medo de nunca ser amado por quem você realmente é – ou nunca saber quem você realmente é. Apesar de a protagonista ser Violet e sermos introduzidos à trama pelo seu luto, quem atiça a curiosidade mesmo é Finch. No começo, apesar dos aparentes problemas disciplinares e a dificuldade de se abrir com o psicólogo do colégio (Keegan-Michael Key), ele mostra ser um garoto alegre e bem resolvido, no maior estilo Augustus Waters de A Culpa é das Estrelas. Pouco a pouco, vamos entendendo que é um personagem tridimensional, com traumas tão profundos quanto os de Violet, mostrando que ele busca a salvação tanto quanto ela.

Embora não seja definido especificamente um diagnóstico clínico, a aparente depressão maníaca de Finch lança uma longa sombra sobre todos os aspectos de sua vida. Seu comportamento errático - causando destruição e sumiços por longos períodos - lhe rendeu o apelido de "aberração" entre os colegas. Apesar de não reconhecer, o bullying tem grande influência e define a sua personalidade, potencializando cada sentimento negativo que Finch traz em sua bagagem.

Tanto destaque é muito bem sustentado pela atuação de Smith, que vem de filmes mais populares como Jurassic World: Reino Ameaçado e Pokémon: Detetive Pikachu. O ator não decepciona e se iguala a Fanning, que carrega mais experiência em filmes dramáticos. São palpáveis as angústias e alegrias de Violet em sua interpretação. O que não é tão crível, contudo, é o desenvolvimento entre os dois.

Apesar de falar sobre tantos assuntos importantes – nem bulimia e tentativas de autoflagelação ficam de fora – o filme tem dificuldades em provar que construiu uma relação profunda entre o casal. No roteiro, escrito pela própria autora do livro e Liz Hannah, o interesse de Finch em Violet após o primeiro encontro mais parece uma cisma do que atração - para não dizermos obsessão. Tão distante e apática com sua vida, a protagonista também parece sair de seu limbo com certa facilidade, tamanha a velocidade com que a direção de Brett Haley coloca ambos apaixonados. Esses problemas se acentuam conforme a relação ganha conflitos, e as atitudes de Finch dão certa angústia se compararmos aos primeiros momentos do personagem. A impressão é de que nos apresentaram personagens interessantes, mas que foram mal aproveitados.

Com um terceiro ato tão inconstante, o filme parece perder a mão na tentativa de unir a essência da obra Niven com as nuances de produções conhecidas sobre romances adolescentes. É possível imaginar o diretor pensando: “É importante falar sobre temas que são tabus entre os jovens, mas não posso me esquecer do mais importante: fazer o público chorar”.

Nota do Crítico
Bom