Ragnarok/Netflix/Divulgação

Netflix

Crítica

Crítica: Ragnarok dá enorme salto em qualidade na 2ª temporada

Série nórdica da Netflix compensa ano inicial medíocre ao enfim abraçar a fantasia e entregar bons dramas

28.05.2021, às 15H28.

Quando Ragnarok estreou na Netflix, no início de 2020, não era uma boa série de TV. Apesar de ideias interessantes e uma ambientação linda de morrer, o programa norueguês da Netflix tinha ritmo inconsistente e um desenvolvimento bastante questionável. Felizmente, a parte boa da televisão é como as produções conseguem ouvir o público, fazer ajustes e dar a volta por cima em um curto espaço de tempo. Na segunda temporada, Ragnarok enfim atinge seu potencial ao expandir o que funcionou, e melhorar bastante o que precisava de uma atenção especial.

A principal mudança é que já não se trata mais de uma história de descobrimento. O jovem Magne (David Stakston) descobriu ter os poderes de Thor, e que a pequena cidade de Edda, na Noruega, é comandada por gigantes de gelo, que usam como fachada a poderosa e rica família Jutul, dona de uma das maiores (e mais poluentes) empresas do país. A ideia de recontextualizar a eterna batalha entre deuses e as criaturas do caos sob um viés ambientalista é um dos acertos do ano um, mas a leva inicial se focou muito na jornada pessoal de Magne, que não é lá um personagem muito interessante. Agora, com todas as regras estabelecidas, a série melhora ao enfim abraçar os aspectos mais fantasiosos de sua premissa.

A segunda temporada mergulha de cabeça na missão de modernizar a mitologia nórdica. Magne entende seus poderes e seu papel em confrontar os antagonistas, e parte em busca de encontrar outras pessoas com poderes dos deuses para lhe ajudar na batalha. Ainda que continue como o protagonista, a produção deixa o rapaz apenas como fio condutor da narrativa, mas preenche o restante do universo com personagens mais interessantes e conflitos surpreendentemente intrigantes.

É o caso de Laurits (Jonas Strand Gravli), irmão de Magne - e reencarnação de Loki - que já roubava a cena no ano um, mas que agora enfim assume os holofotes ao integrar os arcos mais importantes da leva inédita, como a revelação de sua verdadeira identidade, e as intrigas trazidas por estar dividido entre sua família de criação e os gigantes. O mesmo vale para Saxa Jutul (Theresa Frostad Eggesbø), antagonista que era uma das partes irritantes da temporada anterior, mas que aqui brilha ao bater cabeça com os costumes antiquados da própria família. Ambas as subtramas se misturam e complementam o restante da narrativa, aumentando a tensão interna entre as famílias, e entre todos os personagens da pequena cidade.

Sem perder tempo nos corredores do colégio ou em Magne tentando esconder seus poderes dos colegas, a série demonstra todo o seu potencial de grandeza e entretenimento. Esse teor juvenil não foi totalmente retirado da produção, mas foi reduzido ao ponto de que a sua dose não é mais cansativa e enfadonha. Magne e Laurits continuam tendo problemas comuns da juventude, como amores não correspondidos e uma maior participação no ativismo estudantil, mas dessa vez a dosagem é mais equilibrada, e serve apenas para dar um gostinho de normalidade que contrasta com os embates entre deuses e costumes mitológicos em que os dois estão mergulhados.

Se a primeira temporada de Ragnarok cansou pela inconsistência, a segunda surpreende. A produção demonstra a capacidade de ouvir, melhorar nas fraquezas, e investir nas qualidades, como os personagens secundários interessantes, o choque entre culturas do passado e do presente, e o belíssimo ambiente natural. Com o lado fantástico se tornando cada vez mais forte no cotidiano da pequena cidade, é esperado que as coisas só fiquem mais absurdas daqui para frente. Não dá para prever se a série terá fôlego e ousadia para chegar em um embate épico, mas pelo menos soube se colocar no caminho certo.

Nota do Crítico
Ótimo