Divulgação/Aardman

Netflix

Crítica

Shaun, o Carneiro, o Filme: A Fazenda Contra-Ataca

Indicada ao Oscar, animação homenageia clássicos da ficção científica com graça e encanto

06.04.2021, às 14H45.

Shaun, o Carneiro se firmou como uma das principais franquias do Aardman, estúdio de animação que ganhou o mundo no início dos anos 2000 com o sucesso de A Fuga das Galinhas e Wallace e Gromit. Anos após o lançamento de seu primeiro filme, o atrapalhado carneiro e seus amigos foram buscar inspiração nos clássicos da ficção científica para a sequência A Fazenda Contra-Ataca. Indicada ao Oscar 2021, a animação lançada pela Netflix aprende com os erros da anterior e entrega uma aventura que encanta crianças e adultos em um belíssimo stop-motion.

O longa acompanha uma atrapalhada invasão alienígena na pacata cidade de Mossingham. Após o avistamento de um disco voador e seu misterioso passageiro, a história se divide em duas frentes. Por um lado, acompanhamos a divertida jornada do ETzinho Lu-La em descobrir a cultura terrestre, enquanto do outro há a trapalhada tentativa do Fazendeiro em lucrar em cima da moda de ETs que tomou conta das redondezas após os relatos da visita alienígena.

Logo no início, este segundo filme deixa claro que aprendeu lições com a primeira empreitada do carneiro nos cinemas. Lançado em 2015, Shaun, o Carneiro: O Filme teve de lidar com o desafio de transformar uma série, cujos episódios têm curta duração, em um longa-metragem. Ainda que muito bela e divertida, a produção esbarrou no caráter episódico de sua história, que mais parecia uma sequência de esquetes.

Já sua sequência tem uma estrutura mais firme, que se sustenta mesmo contando duas histórias paralelas e fazendo pausas pontuais para o humor. As piadas destacam a evolução do trabalho do Aardman no stop-motion, que acerta em praticamente todas as tentativas de trazer humor - seja pelo timing, quebra da expectativa, nonsense ou a soma de todos esses fatores, que enriquecem a experiência de uma comédia muda.

Ainda no lado visual, é impressionante como o filme de Will Becher e Richard Phelan tem o poder de transportar o público para um universo autoral que também encanta por investir em detalhes que lembram o mundo real. Não é raro se pegar prestando atenção em cenários, objetos e texturas que trazem uma espécie de “realismo” a peças que nunca parecem fora do lugar nesse mundo cartunesco e colorido.

Porém, de nada valeria um visual encantador sem uma boa história para contar, e A Fazenda Contra-Ataca acerta em cheio ao levar Shaun para o espaço. Ou melhor, trazer o espaço até Shaun. A “invasão” do simpático ETzinho Lu-La é divertida por si só, celebrando como o planeta Terra é cheio de maravilhas mesmo nas pequenas coisas. Mas ela fica ainda melhor para o espectador mais antigo, que vai pescar as várias referências que o filme faz a clássicos do cinema de ficção científica.

Não é de hoje que Hollywood percebeu que apelar para a nostalgia do público dá certo, o que dá origem a produções rasas que apenas se apoiam nas famosas referências. O estúdio britânico, por outro lado, encaixa esses vários tributos em prol da narrativa de uma forma que só poderiam ser feitas dentro deste universo. Assim, os momentos que acenam para E.T. - O Extraterrestre, 2001 - Uma Odisseia no Espaço e Arquivo X soam orgânicos, constantemente engraçados, e surgem mais como uma cereja no bolo do que como o grande foco da produção.

Essa carta de amor à ficção científica é traduzida em cada passo de A Fazenda Contra-Ataca, que mira nesses clássicos para resgatar a aura de aventura e deslumbramento que eles causaram décadas antes. É de uma esperteza ímpar utilizar a estrutura de cinema mudo da franquia para contar uma história de descobrimento através da vivência. Ao trocar o medo do desconhecido por uma amizade interplanetária, Shaun, o Carneiro resgata o sabor de tempos mais ingênuos sem abrir mão da comédia sem noção e autorreferente que faz rir no mundo irônico de hoje.

Nota do Crítico
Excelente!