Netflix/Divulgação

Netflix

Crítica

The Umbrella Academy – 2ª temporada

Série inspirada em HQ de Gerard Way e Gabriel Bá discute assuntos importantes sem perder atmosfera maluca e divertida

Nico
27.07.2020, às 14H46.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H48

Poucas pessoas sabiam o que esperar de The Umbrella Academy, adaptação da HQ de Gerard Way e Gabriel Bá pela Dark Horse, quando a série estreou na Netflix. Elogiada pela crítica, a revista passou batida por muitos leitores casuais, acostumados a prestar mais atenção em títulos das gigantes DC e Marvel. A produção, no entanto, fez sucesso ao compreender e traduzir o tom incomum da obra original, tomando algumas liberdades necessárias para conquistar o público sem desagradar fãs dos quadrinhos. A tática deu certo e o título foi rapidamente renovado pela plataforma, que garantiu os retornos de Ellen Page, Tom Hopper, Emmy Raver-Lampman, Robert Sheehan, Aidan Gallagher, David Casteñeda e Justin H. Min, intérpretes dos Irmãos Hargreeves, que formam a equipe que dá nome à série.

Tomando os momentos finais da temporada de estreia como ponto de partida, os novos episódios mostram os Hargreeves aparecendo em Dallas, nos Estados Unidos, em diferentes momentos da década de 1960. Separados, os irmãos constroem novas vidas na cidade do Texas, sem saber onde está o resto da família. A reunião só acontece quando Cinco (Gallagher) descobre que o apocalipse que tentava evitar na temporada anterior “seguiu” os Hargreeves na viagem temporal e agora está programado para acontecer cerca de 50 anos mais cedo.

Após o primeiro ano adaptar alguns elementos mais básicos de Dallas, segundo livro da série de Way e Bá, os roteiristas liderados pelo showrunner Steve Blackman tiveram liberdade para levar a história para novos lugares. Sem a necessidade de reapresentar conceitos, como o papel da Comissão ou o envolvimento de Cinco com a polícia temporal, a segunda temporada seguiu por caminhos surpreendentes, mais focados no desenvolvimento de seus protagonistas.

O cenário sessentista se mostra perfeito para explorar a diversidade do elenco. Alisson (Raver-Lampman), por exemplo, se une ao movimento norte-americano de reivindicação dos direitos civis para a população negra, enquanto Vanya (Page) cria um laço romântico proibido com Sissy (Marin Ireland), em uma época em que a homossexualidade é vista como doença. Mesmo que discutam temas extremamente atuais, como preconceito e violência policial, essas tramas ajudam muito no desenvolvimento das irmãs, aprofundando características apresentadas no ano anterior.

Embora conte praticamente sete histórias ao mesmo tempo e apresente novos personagens, como Lila (Ritu Arya) e Raymond (Yusuf Gatewood), o roteiro de The Umbrella Academy nunca parece inchado ou desconexo. Diálogos rápidos e tiradas inteligentes tornam mesmo cenas meramente expositivas em pura diversão e retratam com impressionante realismo o amor e a rivalidade naturais entre irmãos.

Esse mesmo dinamismo pode ser encontrado na direção dos episódios. Armada com uma trilha sonora poderosa que passa por canções do Queen, The Cordettes e Billie Eilish, cada cena de ação da segunda temporada é pensada como um sangrento videoclipe. Da abertura, que faz referência ao primeiro Vingadores, às lutas clandestinas que Luther (Hopper) participa para ganhar dinheiro, The Umbrella Academy atinge um patamar de qualidade de dar inveja a muitos blockbusters, mas sem perder a aura indie que domina o material original.

As atuações do elenco principal também mantêm o alto padrão estabelecido na primeira temporada. Os atores navegam com facilidade e brilhantismo por diferentes emoções, alternando momentos pesados com cenas hilárias, potencializadas pela ótima química entre eles. Raver-Lampman e Min, em especial, têm mais espaço para desenvolver seus personagens e se destacam do restante ao lado de Arya, que traduz toda a instabilidade e trauma de Lila de maneira memorável.

Madura e divertida do começo ao fim, a segunda temporada de The Umbrella Academy traz um importante ar de novidade em um mercado cercado de fórmulas prontas. Mesmo que não seja uma adaptação literal do material original, a série reproduz fielmente o clima anárquico criado nas páginas de Way e Bá com episódios inteligentes e elenco carismático. Deixando um gancho para uma terceira temporada, a produção tem potencial para entreter espectadores por mais alguns anos na Netflix.

Nota do Crítico
Excelente!