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Crítica

Um Amor, Mil Casamentos

Nova comédia romântica da Netflix não é nem engraçada e nem romântica

11.04.2020, às 11H38.
Atualizada em 14.04.2020, ÀS 13H18

Se existe um gênero que nunca cairá em desgraça no mundo do cinema é a comédia romântica. Passam-se os anos e a única mudança notável nesses filmes é a do elenco. Para não sermos tão superficiais, vamos dividi-los em dois grupos: os mais engraçados e os mais emocionantes. Enquanto algumas dessas produções são mais voltadas para o riso, outras funcionam melhor em seus momentos mais dramáticos. No final, todas são comédias românticas. O problema de Um Amor, Mil Casamentos, novo longa original do gênero na Netflix, é não se estabelecer em nenhum.

Remake do francês Plan de Table (2012), o filme conta a história do casal Jack (Sam Claflin) e Dina (Olivia Munn), dois solteiros que se conhecem durante uma viagem à Europa por uma indicação da irmã do protagonista e acabam criando uma conexão. Para a infelicidade de ambos, o acaso impede que a despedida seja marcada por um beijo, e os dois retomam suas vidas pensando no que poderia ter acontecido. Logo em seus primeiros momentos, o longa deixa clara a mensagem que quer abordar: “a vida é feita de escolhas e momentos. Se você não aproveitar, o acaso pode ser bem inconveniente”. Três anos depois do encontro, o destino dá uma nova oportunidade aos dois quando Hayley (Eleanor Tomlinson), a irmã de Jack, marca o seu casamento em Roma. O acaso novamente acontece e, por uma mudança na disposição dos lugares na mesa de jantar da cerimônia, tudo dá errado. É aí que enxergamos uma provocação: o que teria acontecido se as pessoas na mesa tivessem sentado em lugares diferentes?

No maior estilo Feitiço do Tempo, o diretor Dean Craig revive todos os acontecimentos do casamento caso os personagens se posicionassem no jantar em diferentes situações. Sua versão da história dos “caminhos que não foram tomados” se torna uma revisão aleatória sobre os caprichos do destino - e o filme é enquadrado enfatizando esse elemento. É a comédia romântica que não sublinha as fantasias de amor verdadeiro de quem procura pelo gênero, dizendo: "Este casal estava destinado a se reunir", tanto quanto diz: "Ah, acho que isso pode acontecer. Tanto faz”.

Tão rasa quanto a mensagem está a atuação de todo o elenco da produção. Clafin, que tenta ser o Hugh Grant da vez com seu charme e sotaque britânico, parece estar perdido dentro do roteiro pobre também escrito por Craig. É um pouco constrangedor vê-lo ao lado de Munn já que ambos mostraram ter talento de sobra em outras produções e, aqui, sofrem para criar um mínimo de química. Se em algum momento torcemos para que o casal principal se beije, é pela angústia de vermos Jack e Dina se olhando com desejo sem tomarem qualquer atitude.

Com os protagonistas sem qualquer desenvolvimento – Munn, por exemplo, vive uma jornalista de guerra que conta sobre sua experiência no Afeganistão como se estivesse cobrindo o Rock in Rio -, os coadjuvantes também pouco acrescentam à narrativa. Com exceção do amigo Bryan (Joel Fry), que rende alguns sorrisos durante uma experiência chapado, os outros parecem tão perdidos na história quanto o casal principal.

Com pouco mais de uma hora e meia de duração, o maior ponto positivo de Um Amor, Mil Casamentos é que, diferente de Feitiço do Tempo, o filme não se alonga na maioria de suas várias versões da história. Se o intuito era passar que não devemos perder uma oportunidade, tudo poderia ser evitado com um simples lembrete: se quiser trocar de lugar com alguém na mesa, não hesite em pedir.

Nota do Crítico
Ruim