Quando foi divulgada a produção de Yasuke, um anime sobre a história do único samurai negro que se tem referência, logo me empolguei. Levado ao Japão durante o século 16 pelos jesuítas, ele chamou atenção pela sua altura, força e tom da sua pele. Diz a lenda que o daimyô Oda Nobunaga (equivalente a um senhor feudal), chegou a pedir que o lavassem, imaginando que ele havia sido pintado. Oda acabou se tornando o senhor deste "gigante negro", que ganhou, então, o nome de Yasuke, treinamento e se tornou o primeiro samurai estrangeiro que se tem registro.
Ele serviu Oda Nobunaga até 1582, quando foram emboscados por um general rebelde que servia ao próprio Oda e o daimyô foi forçado a se matar. Yasuke passou a seguir o herdeiro, Oda Nobutada, que também acabou sendo derrotado. A vida do samurai negro foi poupada e ele deveria ser levado de volta aos jesuítas e isso é o que se sabe de Yasuke.
A animação produzida por LeSean Thomas conta um pouco da história acima, mas prefere imaginar o que aconteceu depois, jogando a trama 20 anos para frente e, principalmente, misturando MUITOS elementos fantásticos à trama. Eu adoro robôs gigantes (claro!), mas não era bem isso o que eu estava esperando ver na série. Imaginava algo mais histórico, mostrando a relação entre Yasuke e Oda, falando de respeito, honra, código de conduta dos samurais e como um estrangeiro via tudo aquilo. Acabei com um Yassuke já aposentado, vivendo como um barqueiro de um pequeno vilarejo e atendendo pelo nome de Yassan.
Entre um copo e outro no fim do dia, ele aceita a missão de ajudar uma mãe a levar sua filha doente até o médico que mora rio acima. No caminho, eles são atacados por um bando de mercenários contratados por um padre que é meio Papa Bento XVI, meio Palpatine. O grupo tem um outro africano, uma russa que vira urso, um robô de bom coração e uma versão adulta da Ladybug. É neste momento que descobrimos que a menina pode ser "a escolhida que vai trazer equilíbrio para a Força", ou algo parecido com isso (talvez por isso o padre Palpatine). Ah, já mencionei que a trilha sonora de Flying Lotus tem um quê do trabalho de Vangelis em Blade Runner - O Caçador de Andróides, misturada com as músicas de John Carpenter?
Sim, Yasuke é uma mistura de tudo. Literalmente TUDO! Parece que não há uma só ideia que foi dada nas reuniões de brainstorming que não foi utilizada e isso torna a série uma bagunça, algo sem identidade definida. Mas é uma bagunça linda. Os cenários, o design dos personagens e as lutas são o ponto forte - trabalho do estúdio MAPPA, que também está encarregado da última temporada de Attack on Titan, além de ter no catálogo Jujutsu Kaisen e Banana Fish, entre outros animes.
Mas se você quer entender como é que os robôs gigantes de origem mongol chegaram ali, de onde vêm aqueles seres poderosos ou qualquer outro tipo de resposta coerente, esqueça. A fantasia corta a realidade com a facilidade com que a lâmina de Hatori Hanzo corta carne - ah, não à toa a série tem indicação etária 18 anos. O que não falta é sangue jorrando na tela. Não deixe seus filhos pequenos verem isso. Principalmente se eles gostam de história do Japão Feudal e querem saber mais sobre Yasuke.