Quer você goste ou não dos filmes de O Senhor dos Anéis, não dá para negar que Peter Jackson deixou sua marca na Terra Média. Mais do que adaptar uma obra adorada que, por décadas, foi considerada “inadaptável”, o cineasta transformou em imagens os cenários tão minuciosamente detalhados de J. R. R. Tolkien, com uma escala e um esmero técnico que talvez sequer a imaginação dos fãs pudesse alcançar. Pensar nesse universo hoje é, portanto, encarar não só o legado dos escritos do autor britânico, mas também da visão do cineasta neozelandês. Hoje, no imaginário coletivo, eles são quase indissociáveis.
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Nesse sentido, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder chega ao Prime Video com o desafio de se provar não uma obra derivativa eficiente, mas um épico independente, ambientado no mesmo universo. Não necessariamente por um ímpeto criativo ou egoico, mas devido às próprias negociações dos direitos. Os criadores J.D. Payne e Patrick McKay não tiveram escolha e precisaram deixar a separação entre as adaptações muito explícita — muito embora, vale dizer, tenham, sim, convidado Jackson em algum momento para fazer parte da nova produção. Por isso, mesmo que seja evidente que continuem o visual estabelecido nos filmes, os quatro mil anos que separam as adaptações são cruciais. É realmente outra Terra Média.
“Os filmes do Peter Jackson se desenrolam em uma versão apocalíptica da Terra Média”, explicou ao Omelete a atriz Ema Horvath, que interpreta Eärien na série, durante a San Diego Comic-Con. “Então a diferença mais óbvia é que esses são tempos mais coloridos, mais opulentos. Ao menos, no mundo em que vivemos”. A razão para isso é muito simples: se na Terceira Era, período em que O Senhor dos Anéis é ambientado, Sauron já estava no comando, a Segunda Era é quando sua ascensão acontece sorrateiramente (entenda isso mais a fundo no vídeo abaixo). Por isso, a sensação de prosperidade é tão dominante, sobretudo no mundo que Horvath se refere, isto é, Númenor, o maior dos reinos dos Homens.
“Númenor está no auge da sua civilização. Você vê a glória e o esplendor dessa raça”, afirmou o ator Maxim Baldry. Para o intérprete de Isildur — sim, o responsável por cortar O Anel do dedo do Sauron —, esse é o tipo de detalhe que frisa a relação da série com a obra de Tolkien. “Eles [Payne e McKay] leram os livros e esta é sua interpretação do texto. Mas, do mesmo modo que os filmes são muito evocativos e emocionantes, esta produção tem sua própria história sobre o bem versus o mal, e sobre como a coragem e a amizade podem de fato superar muitas adversidades”. Há uma sutil diferença, porém, de acordo com Horvath: “nos filmes, o bem e o mal são bem preto no branco. O legal desse seriado é que, talvez, você entenda os ‘vilões’ um pouco melhor”.
AQUI E AGORA
Por interpretar uma figura bastante conhecida pelos fãs, independente de terem lido o original ou não, parecia lógico que Baldry tivesse que lidar com a carga do final já conhecido do seu personagem. No entanto, o ator preferiu ignorá-la e focar no fato de que ele é, nesse momento, um jovem marinheiro tentando se encontrar. “Não acho que pensar no seu destino seria útil, já que o personagem não sabe para onde vai. E ele está tentando compreender o mundo ao seu redor, onde ele se encaixa. Acho que vocês o entenderão melhor se acompanharem sua dificuldade nessa jornada”.
Esta decisão se encaixa, ainda, com a própria visão da dupla de criadores, como contou Horvath. “Uma coisa que o Patrick me disse foi: o mundo deles é muito pequeno agora. Nos filmes, o que ele [Peter Jackson] faz é estabelecer a cadeia de eventos. Mas, aqui, é literalmente dois irmãos levando sua vida em casa, sabe? Então, ao menos agora, não vale a pena pensar além disso”.
Se isso vale para os humanos, nem se fala para quem não tem lastro algum conhecido pelos fãs, como é o caso dos atores do núcleo dos pés-peludos. Mesmo se, como a atriz Sara Zwangobani, a Marigold Brandyfoot, eles tenham adoração pela adaptação de Jackson. “Realmente senti que [a série] é uma criação nossa, mas com absoluta reverência e respeito ao que veio antes. É surpreendente, porque eu assisti aos filmes tantas vezes, achei que me influenciariam, mas eles genuinamente não tiveram esse efeito. Foi sobre o que estava acontecendo entre nós, ali”.
O ator Daniel Weyman, que vive o misterioso Estranho, revelou ter tido uma experiência semelhante. “Sinto que esse foi o jeito de proteger o mundo para os fãs, isto é, vou me comprometer completamente no aqui e no agora, em vez de se preocupar com como vamos tornar O Senhor dos Anéis a próxima sensação. Então, no mínimo, vocês ganharão uma obra de arte. As pessoas podem gostar ou não, e não tem nada o que ninguém possa fazer a respeito. Mas o maior sinal de respeito que podemos dar às pessoas é o comprometimento coletivo da nossa equipe”.
O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder acabou de estrear e, ao que tudo indica, os espectadores perceberam essa admiração pela obra de Tolkien. Se ela será tão aclamada quanto a trilogia de Peter Jackson, só o tempo dirá. Contudo, independentemente de quais sejam as críticas à temporada, isso não muda o fato de que a Terra Média sempre será um lugar para onde os fãs podem voltar. Seja nas páginas, nas telonas e, agora, no conforto do seu sofá.
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