Carla Diaz espera que A Menina Que Matou Os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais, filmes lançados pelo Amazon Prime Video sobre o Caso Von Richthofen, abram portas para que mais que adaptações fictícias de histórias de crimes reais sejam produzidas com maior frequência no Brasil. O Omelete conversou com a atriz, bem como com o co-protagonista Leonardo Bittencourt, o diretor Mauricio Eça e o co-roteirista Raphael Montes, e pediu opiniões sobre as polêmicas acerca da espetacularização de tragédia e até romantização de criminosos que ainda insistem em cercar produções do gênero, no país.
"O true crime ainda é muito recente no Brasil, né? A gente quase não vê produções do gênero, mesmo que a gente esteja acostumado a consumir filmes de terror, suspense, ação. Inclusive, vindas lá de fora, a gente tá acostumado a assistir a várias produções que abordam casos reais e crimes que aconteceram, então eu acho que cada vez mais as pessoas têm interesse para saber mais do que se passa na mente humana", afirmou Diaz. "Então por que não produzir aqui no Brasil também?", questionou.
"Eu já consumo o gênero desde adolescente, mas muita gente tem essa desconfiança, achando que por ser um filme vai glamourizar, vai exaltar o ato. Pelo contrário: a gente está ali para contar a história e colocar a discussão novamente em pauta para que isso nunca se deixe de lado, como se fosse algo menos importante", adicionou Bittencourt. "A nossa preocupação é trazer de volta essa discussão porque achar que já está tudo resolvido é um erro. É a partir do nosso passado que a gente entende o nosso futuro e pode fazer diferente", afirmou.
Famoso pelos seus romances policiais, como a obra homônima que inspirou a série da Netflix Bom Dia, Verônica, o escritor Raphael Montes é ainda mais categórico na sua defesa das produções de ficção sobre crimes reais. "Você revisitar crimes, de maneira alguma é você homenagear os crimes, ou você fetichizar os crimes, assim como não é isso quando se faz filmes de guerra", disse o co-roteirsta de A Menina e O Menino. "O que eu acho que é sempre muito importante, e a gente teve esse cuidado, foi se perguntar o que interessava em contar essa história. Era só pelo crime? Não. A gente queria contar essa história por abordar muitas dinâmicas que a gente se interessa por ver. Ela se trata de relações de poder, relações de classe, que são coisas muito brasileiras", concluiu.
O diretor Mauricio Eça ecoa essa opinião. "A gente contou uma história sobre dois pontos de vista dos envolvidos, que são réus confessos que já foram condenados, baseada nos próprios depoimentos oficiais deles. Eu acho que o true crime é um gênero que está começando no Brasil, mas o cinema tem esse poder de discutir, criar visões, conexões com coisas importantes e gerar discussões. Eu acho que o true crime, ele ajuda a trazer essas discussões à tona", analisou.
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Cada longa tem aproximadamente 80 minutos de duração e conta um ponto de vista diferente da história do casal de namorados. Os roteiros têm como base informações contidas nos autos do processo que terminou com a condenação dos dois pela morte dos pais de Suzane.
Segundo a equipe criativa do filme, a decisão de lançar duas produções foi a solução encontrada para que o material seja fiel ao que é narrado nos documentos. O plano inicial era que ambos os filmes fossem exibidos em sessões alternadas nas mesmas salas de cinema, o que foi descartado com a pandemia da covid-19.
A produção dos filmes não têm nenhuma relação com Suzane Von Richthofen e Daniel Cravinhos e se baseia inteiramente nos depoimentos que estão nos autos do processo. Com isso, eles não receberam dinheiro da produção e não receberão nada após o lançamento.
A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais têm direção de Maurício Eça (Apneia e Carrossel) e roteiro assinado por Ilana Casoy, criminóloga, escritora e maior especialista em serial killers do Brasil, juntamente com Raphael Montes, escritor brasileiro de literatura policial.
O elenco traz ainda Allan Souza Lima, Kauan Ceglio, Leonardo Medeiros, Vera Zimmermann, Augusto Madeira, Debora Duboc, Marcelo Várzea, Fernanda Viacava, Gabi Lopes e Taiguara Nazareth. Para o papel de Suzane, Carla Diaz afirmou que se inspirou em produções como Laranja Mecânica e O Silêncio dos Inocentes.