Ultimamente, nada diz mais “amor moderno" do que se apaixonar durante a pandemia. Enquanto algumas pessoas se viram como podem com aplicativos, fotos e até pix, há quem prefira o romantismo de uma relação analógica, mesmo que isso signifique semanas de antecipação. Ao menos, foi assim para dois amantes passageiros que se conheceram em um trem, indo de Barcelona para Paris em março de 2020. Otimistas, eles confiavam que a crise sanitária não duraria mais de duas semanas, logo para que trocar telefones? Eles poderiam ter um grande reencontro poético e apaixonado na estação de trem, a caminho de casa. Quem sabe, então, ter seu primeiro beijo. Entretanto, como narrou a romântica inveterada dessa história na coluna Modern Love, do jornal New York Times, “às vezes um plano romântico não é suficiente”.
A história, escrita em não mais de 100 palavras, virou episódio na segunda temporada da antologia do Amazon Prime Video. Um dos mais aguardados, diga-se de passagem, por colocar os atores Kit Harington e Lucy Boynton para encarnar o dilema que solteiros do mundo inteiro conviveram no último ano e meio, isto é, ceder ao desejo ou ser responsável e seguir as normas sanitárias. Claro que, na série, com um tom muito mais próximo de Antes do Amanhecer, do diretor Richard Linklater, do que da realidade sedenta (e, nem por isso, menos realista) de “Sexting”, do especial pandêmico do comediante Bo Burnham.
Ainda que tratar da COVID-19 seja por si só um elemento novo e interessante para a produção criada e produzida por John Carney -- assim como seu jeitinho de retrospectiva bem-humorada de eventos que gostaríamos de esquecer, como Gal Gadot e outras celebridades cantando “Imagine” --, “Stranger on a Train” é sintomática de outra mudança interessante da nova temporada: Nova York não é mais o centro de todas as histórias de amor. Nesse caso, a capital irlandesa Dublin foi o cenário do flerte interrompido, mas Londres também ganhou uma chance de mostrar seu romantismo em outro episódio, estrelado por Tobias Menzies e Sophie Okonedo.
“Nós definitivamente procuramos histórias fora de Manhattan ou de determinada classe social [...] e tentamos ser mais inclusivos, [contemplando] diferentes tipos de pessoas, amores e mundos”, explicou Carney à Entertainment Weekly.
De fato, o criador e showrunner atentou às críticas recebidas na primeira temporada. Dessa vez, por exemplo, a representação de relacionamentos LGBTQIA+ tem uma tímida expansão, aparecendo em dois episódios: um explorando o processo de descoberta de uma pré-adolescente sobre sua orientação sexual, e outro ao retratar pontos de vistas diferentes de um primeiro encontro. De modo análogo, diferentes fases dos relacionamentos também ganham mais espaço em tela, com capítulos desenvolvendo reencontros de casais já separados, recomeços após traições e amizades que são mais que simples cumplicidade -- e não só distintos cenários de início de paquera, como predominou no ano de estreia.
Com lançamento marcado para 13 de agosto, a segunda temporada de Modern Love promete retomar o tom acolhedor e romântico que conquistou tantos fãs em 2019, mas com mais maturidade narrativa e menos obviedades. Se a primeira temporada já representou um abraço para muitos espectadores, não é absurdo pensar que as novas histórias de amor improváveis serão novamente uma boa válvula de escape para os românticos, quer eles estejam isolados em casa com seus parceiros, vivendo o luto em razão da pandemia ou tentando manter a chama acesa com estratégias das mais variadas no Whatsapp.