Um Príncipe em Nova York 2

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Entrevista

Como Um Príncipe em Nova York 2 leva mulheres para o centro de Zamunda

Atriz sul-africana Nomzamo Mbatha fala sobre como o longa aprofunda o legado do primeiro filme

05.03.2021, às 10H00.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H48

Quando o primeiro Um Príncipe em Nova York estreou em 1988, o mundo foi impactado por um retrato de uma nação africana absolutamente diferente do que Hollywood estava acostumada. O país fictício de Zamunda, criação de Eddie Murphy, deu ao público ao redor do mundo uma imagem majestosa do continente, sem animais selvagens fora de controle ou povos miseráveis. Zamunda ainda provou ao mundo que um longa inteiramente conduzido por um elenco negro poderia ser bem sucedido ao redor do globo. Apesar de ter sido recebido de forma morna pela crítica da época, Um Príncipe em Nova York foi um dos maiores sucessos comerciais daquele ano e hoje tem status de cult e uma legião de fãs. 

Com uma revolução já estabelecida pelo primeiro filme, a sequência, que chega mais de 30 anos depois, tinha a responsabilidade de honrar um legado, mas ela foi além. Em Um Príncipe em Nova York 2, ao invés de simplesmente se apoiar no sucesso do primeiro, o roteirista Kenya Barris e o diretor Craig Brewer decidiram atualizar a história de Zamunda. Isso, em 2021, significa mudar as leis do reino, reimaginar o primeiro e trazer mulheres para o centro do novo filme. 

Em Um Príncipe em Nova York 2, a personagem central nesse sentido é vivida pela atriz sul-africana Nomzamo Mbatha, estreante em Hollywood, que interpreta Mirembe, uma cidadã de Zamunda que questiona as leis do país. Ao invés de ser uma carregadora de flores ou uma banhista - função executada pela maioria das mulheres do reino - ela escolheu ser cabeleireira. Para Mbatha, a decisão de retratar vozes femininas que não fazem parte da nobreza foi fundamental: “Foi muito importante para mim retratar uma mulher que não teve acesso à vida mais luxuosa e aos benefícios do palácio”, disse ao Omelete.“O filme faz um paralelo com a minha vida.” 

Mbatha é uma atriz já estabelecida na África do Sul e porta-voz da Agência de Refugiados da ONU, e entende Um Príncipe em Nova York 2 como a sua própria viagem à América (a atriz fez a comparação usando o título em inglês, Coming to America).“Para mim, que sou da África do Sul, poder representar o meu país e meu continente tem a ver com quão verdadeira, quão real e complexa eles queriam que a sequência fosse”. Ela continua: “Mirembe tem orgulho de quem ela é e de onde veio, e eu também. [...] Eu falo em nome de pessoas marginalizadas, em nome de refugiados, e foi importante para mim emprestar da minha própria vida, sendo um reflexo e uma voz de algo que eu sei que existe muito nas mulheres”. 

E enquanto Mirembe é o maior exemplo de independência feminina, o novo longa é repleto de mulheres fortes que circundam a vida de Akeem, ajudando-o a perceber o quanto a voz feminina foi importante na sua formação. Apesar de tratar de diferentes questões - de relação pai e filho, busca de identidade e propósito, e comunicação - o empoderamento feminino é o maior tema de Um Príncipe em Nova York 2: “este filme é atual, ele fala de hoje em dia, e coloca mulheres poderosas na linha de frente”, diz Mbatha, elogiando as decisões do diretor: “eu amo que ele deu às mulheres a agência para torcer por elas mesmas”

O Papel de Hollywood 

Discussões sobre o papel das mulheres na sociedade, como em Um Príncipe em Nova York 2, é algo que faz parte de um movimento claro do entretenimento atual, que questiona papéis rasos femininos e já não deixa mais passar tão facilmente o retrato questionável das mulheres em grandes produções. Para Mbatha, este é um dos papéis da indústria, e Hollywood tem uma responsabilidade de estar no centro dessa conversa. “Por muito tempo a gente construiu esse sistema, mas a gente nunca conseguiu se beneficiar dele. Finalmente estamos conseguindo.” 

Além de dar voz a jovens e construir um retrato poderoso das mulheres de Zamunda, Um Príncipe em Nova York 2 concilia essa mensagem muito bem com o elemento da comédia, algo que para Mbatha está acima de tudo. Para a atriz, é exatamente o gênero do longa que pode fazer diferença nos dias de hoje:“a comédia não ganha tanto crédito. Mas esse filme é unificador, e é o que as pessoas precisam. A gente quer rir de novo. E esse filme é o antídoto perfeito para o período difícil que estamos passando”.