Dungeons & Dragons é um fenômeno cultural há décadas - o jogo de tabuleiro fundado em narrativas de fantasia atrai milhares de jogadores ao redor do mundo, é tema de dezenas de canais de transmissão bem-sucedidos em todo tipo de plataforma, e se provou uma influência decisiva para os livros, filmes e séries de fantasia que vieram depois dele. Mas porque, então, D&D nunca encontrou sucesso nos cinemas? Hollywood tentou, em 2000 e 2023, mas ambos os filmes engasgaram nas bilheterias.
O Omelete conversou com o elenco de The Legend of Vox Machina, série animada do Prime Video que começou como uma campanha do canal de transmissão de D&D Critical Role, e fez exatamente essa pergunta. Para Matthew Mercer, que serve como dungeon master (espécie de narrador e “chefe” do jogo) em Critical Role desde 2015, a resposta é simples: Hollywood precisa ouvir os jogadores.
“Eu acho que o filme mais recente chegou perto de se conectar com o público, acho que ele teve um bom equilíbrio [de elementos incluídos para os fãs de D&D e os neófitos]. E acho que isso aconteceu porque eles pegaram deixas de séries como a nossa, e tantas outras, que encontram um público enorme contando histórias autênticas no mundo da franquia . Mas é um desafio, de qualquer forma, atravessar a engrenagem da indústria cinematográfica, mesmo munido com uma boa ideia, e chegar ao produto final com ela intacta”, refletiu.
Para ele, Vox Machina é um exemplo de como “confiar nos jogadores e criadores, na visão deles, é o que funciona para se conectar com o público”: “Algumas pessoas vão olhar para aquilo como um pedaço de arte, de narrativa, e é importante confiar nelas e se manter honesto a isso, ao invés de ouvir as pessoas que estão prestando mais atenção nos lucros e nos investidores, em como maximizar essa ou aquela margem. Não são esses cálculos que vão te levar ao sucesso”.
Laura Bailey, outra integrante original do time de Critical Role - em Vox Machina, ela dá voz à personagem Vex -, acrescentou que talvez o formato longa-metragem não se adapte bem a D&D: “É difícil capturar a magia de uma campanha de tabuleiro, em que você permanece com esses personagens por tanto tempo e conta uma história tão expansiva com eles, em um filme de duas horas. É difícil criar essa mesma conexão com o público. Filmes são filmes, e eles são incríveis, mas acho que - e digo isso até baseado no nosso caso - contar uma história de D&D através de uma série de várias temporadas já ajuda muito”.
Quem arrematou a discussão foi Travis Willingham, voz do bárbaro Grog em Vox Machina. “De certa forma, acho que é uma questão de adoção. Acredito que muita gente não entende que, por exemplo, quando você está assistindo a Game of Thrones - você está assistindo a uma campanha de D&D. E há espaço para todo mundo nesse universo”, comentou. “Se você está aqui pelos dragões, temos dragões. Se está aqui pelo sexo e pela violência, temos isso também. Você pode fazer o que sua imaginação permitir”.
“Para nós, especificamente, acho que a receita do sucesso foi misturar a fantasia clássica com um pouco de linguagem moderna, sabe? Assim parece um pouco familiar, conforme você vai entrando nesse mundo, e fica mais fácil fisgar as pessoas novas a ele”, completou Willingham. “E daí,uma vez que você está aqui dentro, a boa notícia é que tem muito mais de onde isso veio. Há milhares de canais por aqui, centenas de milhares de horas de conteúdo para você aproveitar - então, para mim, é só uma questão de abrir um espaço para as pessoas entrarem nesse mundo”.
A terceira temporada de The Legend of Vox Machina estreia hoje (3) no Prime Video, com seus três primeiros episódios. O restante dos capítulos serão lançados semanalmente, sempre às quintas-feiras, pela plataforma.