Mort Walker, o criador e desenhista do personagem Recruta Zero há 58 anos, tem uma coleção de quadrinhos avaliada em US$ 20 milhões. São mais de 200 mil peças que ele juntou ao longo das últimas décadas, entre revistas, pôsteres, reportagens, gravações e arte original. E não tem onde exibir todo este material.
Mort Walker
Em entrevista ao Wall Street Journal, Walker revela que sempre se preocupou com o status dos quadrinhos como arte - algo para o que editoras, jornalistas e fãs só despertaram em décadas recentes.
"Esta é a arte mais popular do mundo. Todo mundo lê gibis, desenhos animados, tirinhas. Todo mundo lê, sejam adultos ou crianças. E eu disse 'alguém precisa começar a guardar essas coisas'", relata o cartunista, que tem desenhos originais de Mickey Mouse por Walt Disney e dos Peanuts por Charles Schulz.
Em uma história típica dos anos 50, Walker diz que os escritórios da King Features Syndicate, que distribuía suas tiras, eram cheios de originais do Krazy Kat, de George Herriman, pelo chão para absorver água das goteiras. Uma página dessas, hoje, não sai por menos de US$ 5 mil e pode chegar a dez vezes este valor. Walker recolheu as páginas e levou-as para casa.
Em 1974, o cartunista criou o primeiro museu dos quadrinhos, o National Cartoon Museum, para exibir sua coleção. Ele só conseguiu manter o local por dois anos. Entre 1976 e 1992, o museu ficou na cidade de Rye Brook, Estado de New York - até o teto começar a cair. Em 1996, o museu ganhou um magnífico espaço em Boca Raton, Flórida - mas os patrocinadores foram à falência e o local teve que ser desativado em 2002.
Walker teve que vender algumas de suas peças, como um desenho de Mickey Mouse que alcançou US$ 700 mil em leilão, e decidiu guardar toda a coleção em um depósito da cidade onde vive, Stamford, Estado de Connecticut.
Esta semana a coleção fará uma nova mudança: Walker aceitou a proposta da Ohio State University de guardar sua coleção junto à vasta coleção de cartuns da universidade - uma das poucas no mundo que dá séria atenção às HQs. O criador do Recruta Zero ainda mantém o direito, porém, de reaver suas peças para exibições - quando alguém quiser exibi-las.
No site do jornal, é possível ver fotos e ouvir o próprio criador falando sobre seu trabalho de quase seis décadas nos quadrinhos. Aos 84 anos, Walker acaba de fazer (mais) uma contribuição inestimável para a história da Nona Arte.