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Crítica

Thermae Romae #1 e #2 | Crítica

A admiração dos romanos e dos japoneses pela banheira

22.11.2013, às 16H59.
Atualizada em 12.11.2016, ÀS 03H07

Thermae Romae é, para usar palavreado bem técnico da crítica de quadrinhos, um bicho estranho. É um mangá, o que traz embutido tudo que se espera comumente do quadrinho japonês. Mas é um mangá sobre as águas termais, os banhos públicos e sobre a arquitetura no Império Romano. Não só isso, mas também trata de viagem no tempo. E, a partir da viagem no tempo, faz a relação entre o prazer dos romanos com seus banhos para relaxar quase 2 mil anos atrás e o prazer dos japoneses com seus banhos para relaxar nos tempos modernos.

Isso se dá em meio a uma premissa pirada na qual, a cada episódio, o arquiteto Lucius Modestus, de 128 d.C., viaja no tempo para descobrir uma invenção moderna relacionada às banheiras, aos banhos e ao lazer com água. Chegando quase ao ápice da bicho-estranhice dessa HQ, ela ousa ser didática: dá uma aula sobre sociedade romana e sociedade japonesa. Aí, no ápice mesmo da estranhice, ela ousa ser didática sem ser chata.

Enquanto para o leitor japonês as comparações entre Roma antiga e Japão atual possam ter um significado - a cultura das casas de banho, por exemplo, não é estranha para eles -, a autora Mari Yamazaki tem noção de que seu mangá vai ter leitores no mundo inteiro. Por isso, além das várias cenas em que Lucius vai conhecendo os estranhos "caras-achatadas" e suas manias no banho (cozinhar ovos na banheira, tomar leite fermentado para se refrescar), cada história é finalizada com um texto divertido sobre a pesquisa da autora para as histórias.

Nos textos, também fica claro que Yamazaki estava longe de querer um mangá didático. Com formação cosmopolita, tendo morado em várias partes do mundo, casada com um italiano e atualmente morando nos EUA, Yamazaki mostra que o tema das águas termais, e toda a cultura em torno delas, é algo que a encanta - da mesma forma que o Império Romano. Bastou ter uma ideia pirada para juntar os gostos.

A piração rendeu. Thermae Romae já foi publicada nos principais mercados de quadrinhos do planeta e chamou atenção em todos - este ano, por exemplo, estava entre os concorrentes do Eisner Awards nos EUA e do Festival d'Angoulême na França. Fora isso, no ano passado virou filme com bom investimento de produção - cenas gravadas na Cinecittà, na Itália - e que circulou com ótimas bilheteria no Japão e outros países asiáticos (aqui no Ocidente, só em um e outro festival).

Fugindo do seu habitual, a editora JBC direcionou a edição brasileira para livrarias e usou papel um pouco melhor nas páginas internas e na capa. É realmente um mangá diferenciado da linha tradicional da editora. O único excesso da edição está nas notas de rodapé - embora seja tradicional aos mangás traduzidos usarem-nas bastante devido às diferenças culturais, há páginas em Thermae Romae que se enchem de explicações sobre cultura, história, textos no cenário, anotações da autora e anotações da tradutora que prejudicam um pouco o ritmo da leitura. Assim como se adota em outros mangás, parte dessas explicações poderia ficar para uma página à parte da HQ.

Nota do Crítico
Bom