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Diário do Festival Internacional de Banda Desenhada de Amadora - Parte 2

Diário do Festival Internacional de Banda Desenhada de Amadora - Parte 2

03.11.2006, às 00H00.
Atualizada em 15.11.2016, ÀS 01H01

Leia aqui a parte 1 deste diário

OK, admito que estou mandando este diário com um atraso significativo, mas eu tenho motivos para isso, como vocês verão mais à frente.

Neste fim de semana, estiveram no Festival os franceses Etienne Davodeau (vencedor de três prêmios no Festival de Angoulême deste ano com sua HQ Les Mauvaises Gens!), Frédéric Boilet e sua bela namorada (também desenhista) Aurélia Aurita, os (ex-)iugoslavos TBC (que desenhou um dos melhores volumes dO Decálogo) e Zograf, e por fim, a grande estrela do fim de semana: Mauricio de Sousa! Sim, ele mesmo!

Sem palestras significativas no sábado, me concentrei nos autógrafos. Dos franceses, apenas Davodeau já fora publicado em Portugal. Boilet ainda tinha algumas edições da Conrad à venda em um estande do festival e a Aurita ainda mal foi publicada mesmo na França. Lá ela tem apenas uma HQ publicada, Fraise et Chocolat, em que conta como se mudou de mala e cuia para o Japão só para transar com o Boilet - metade da história é só mostrando com detalhes o quanto eles fazem sexo! Sério! O diabo desse francês deve ser muito bom de cama...

Enfim, compreensivelmente a fila de autógrafos do feliz casal era bem curta, o que me permitiu conseguir desenhos de ambos para meu exemplar de Japon, antologia organizada pelo Boilet em que diversos artistas (parte da França, parte do Japão) mostram sua visão do país. Todos os três artistas tinham participado do coletivo e deixaram suas marcas em minha edição. Legal!

Já o Maurício de Sousa me desenhou um Cebolinha no livro de meu amigo Sidney Gusman (vulgo Sidão), que, surpresa das surpresas, também apareceu no Festival, acompanhando o Mauricio! Aproveitamos para colocar a conversa em dia e eu fiz minhas recomendações de material europeu para ele comprar (fico me perguntando se levei o coitado à falência...).

Pra completar o dia comprei um exemplar do Garotas de Tóquio da Conrad para o Boilet autografar (curiosidade: O Brasil é o único lugar onde essas histórias foram publicadas em álbum!), um exemplar da nova edição francesa de Asterix e os Normandos, com uma capa nova e superior à original, feita especialmente para comemorar o lançamento do filme (sim, eu comprei só por isso mesmo! Não me arrependo!) e só. Eu deixei para comprar mais no dia seguinte.

Mal sabia eu.

Ao chegar em casa, descubro que o cano dágua do vizinho de cima estourou e alagou minha sala! Meu computador parou de funcionar (e só pude consertar durante a semana, daí a demora na entrega deste diário) e muitas coisas minhas foram estragadas pela água (poucas HQs, felizmente, eu guardo a maioria em aixas de plástico à prova dágua!).

A desagrdável experiência prejudicou bastante minha curtição do festival no dia seguinte, mas ao menos um acontecimento merece ser mencionado.

Entrei na (longa!) fila de autógrafos do Mauricio para conseguir um desenho dele para meu exemplar comemorativo dos 30 anos da Mônica (que é a MELHOR edição individual da Turma da Mônica jamais feita, sem exagero!). Meu longo tempo de espera (no dia anterior eu tinha chegado cedo e sido um dos primeiros da fila) me permitiu observar o Mauricio desenhando. Antes de mais nada, ao contrário do que dizem as más línguas, ele não só ainda desenha como desenha muito bem! Além de ser uma pessoa estremamente simpática e solícita! Já ouvi falarem de tudo sobre o homem, mas o que eu VI foi isso!

Ao chegar minha vez, pedi que ele me desenhasse o Cebolinha de novo, mas o Cebolinha "clássico", "bicudo", como era quando eu era pequeno. Mauricio fez ainda melhor: Desenhou duas encarnações do Cebolinha - o "clássico" e a primeira versão do personagem! - e ainda explicou como foi a evolução do desenho do personagem! Ora, o Cebolinha no início tinha mais cabelos, parecendo mesmo uma raiz de cebola, mas o Maurício na época trabalhava sozinho (ainda sem o estúdio) e começou a simplificar o desenho do personagem para ganhar velocidade, daí a redução da razoável cabeleira do Cebolinha "oliginal" para os cinco fios da versão atual! Mais: A necessidade de simplificar a arte foi o que fez com que personagens posteriores como Cascão, Mônica e Magali nem sequer usassem sapatos! Mais um mistério das HQs revelado...

Essa ganhou o meu dia! A seguir eu fui para a conferência de Boilet e, sem mais o que fazer, voltei para casa para acabar de arrumar os estragos da "enchente".

Semana que vem tem mais, se não acontecer outra tragédia!

Hunter (Pedro Bouça)