HQ/Livros

Artigo

Diário do Festival Internacional de Banda Desenhada de Amadora - Parte 3

Diário do Festival Internacional de Banda Desenhada de Amadora - Parte 3

13.11.2006, às 00H00.
Atualizada em 05.01.2017, ÀS 17H04

Veja aqui os artigos anteriores: Parte 1 | Parte 2.

Cheguei ao festival no sábado pronto para cruzar a reta final.

Entre os artistas convidados, nenhuma novidade excepcional. O belga Stassen já tinha aparecido no festival passado, o prometido Horacio Altuna não veio (grande ausência!) e, francamente, as maiores atrações eram mesmo as "pratas da casa", em especial José Carlos Fernandes e Luis Henrique (que desenhou o primeiro volume de Black Box Stories com roteiros de Fernandes, lançado no próprio festival).

Por outro lado, até foi bom, porque sábado foi o dia do cosplay - e a HORDA de geeks fantasiados que invadiu o festival se apresentava em um palco EXATAMENTE ao lado das mesas de autógrafos! O movimento e a barulheira (os microfones dos apresentadores estavam em um volume muito acima do que seria suficiente para o salão inteiro ouvir...) destruíram os nervos dos artistas.

O mais curioso é que o espaço do festival no ano passado (no metrô da Amadora) fora criticado por ser quente (até aí o novo era igual) e reduzido, mas NELE as apresentações de cosplay foram realizadas longe dos artistas! Se no ano que vem o festival acontecer nesse mesmo espaço, espero que sejam feitas mudanças radicais na disposição! (Algumas sugestões: Mudar os espaços com maior movimento de pessoas - comercial, palco, autógrafos - para a garagem, que não é tão quente e separar o palco da zona de autógrafos.)

Sobre o cosplay em si, os portugueses em geral ainda não têm o "know-how" dos brasileiros no assunto. Algumas fantasias eram pouco elaboradas e os concorrentes muito tímidos, o que prejudica muito o interesse primário de se ver o cosplay (que é ver gente pagando mico). Os jurados não colaboraram, premiando apenas dois caras e uma menininha (esta na categoria iniciante), prejudicando assim o interesse secundário do evento (que é ver mulheres bonitas com roupas sumárias!). Continuando assim, o evento não tem futuro!

Enfim, quem realmente gostou do cosplay foram os vendedores, que acusaram um movimento bem maior que o normal na zona comercial. Não sei se eles realmente VENDERAM mais, mas o movimento aumentou! Eu colaborei, comprando uma pilha de material português e brasileiro na Devir (incluindo o famoso Black Box Stories e alguns álbuns dos gêmeos Bá e Moon), mas gastei dinheiro mesmo foi no inesperado e bem-vindo estande da Nova Livraria Francesa, que deu as caras lá nesse dia (porque não nos outros, eu não faço idéia!). Comprei por lá o segundo volume da porralouca série francesa James Dieu (sobre um cara que encontra Deus morando em uma lata de Coca-Cola - e o Todo Poderoso é um maluco gordo e beberrão que foi Elvis Presley no passado!), uma encadernação dos álbuns do detetive mané Jack Palmer (que recentemente teve um álbum adaptado para o cinema, A Investigação Corsa) de Petillon e, o melhor, uma encadernação em formato pequeno dos álbuns da série Donjon Parade, dos mestres Lewis Trondheim, Joann Sfar e Manu Larcenet!

Só deixei de comprar um livro interessante que havia por lá: O Guia Fênix dos Mangás, livro que se propõe a descrever TODAS as séries de mangá publicadas na França (1100 até o ano passado, segundo o próprio guia) e ainda fornecer uma detalhada explicação sobre a indústria de mangá, sua influência na França e biografias de 40 autores importantes (mais uma detalhada do Osamu Tezuka, claro). O calhamaço de mais de 600 páginas vinha ainda acompanhado de um DVD com 4 episódios de animes famosos e outros tantos curtas-metragens mais experimentais. No total, um pacote impresionante, digno dos 20 euros do preço da capa. Não comprei por um motivo prosaico: Eu já sabia que a nova edição saía esta semana na França e não ia pagar essa baba por uma antiga!

Enfim, de volta ao festival, eu aproveitei o final do dia morno para ver as exposições que me faltavam.

*****

O dia seguinte foi bem mais curto. Meu cansaço acumulado por semanas bateu e eu precisei literalmente me forçar para ir no Festiva (aliás, para fazer qualquer atividade naquele dia, aí incuindo sair da cama). Só cheguei lá no final da tarde, a tempo apenas para assistir ao debate sobre a finalidade do Festival. Para explicar esse debate, preciso antes mencionar que muita gente criticou as últimas edições do evento, por diversos motivos que podem ser resumidos em um fator: falta de organização!

Ora, falta de organização não é surpresa, uma vez que é um evento organizado pelo Estado (nominalmente pela Câmara Municipal da Amadora). Até porque se não houvesse participação do Estado, o Festival NÃO EXISTIRIA, já que a iniciativa privada ignora solenemente o evento e as editoras são desunidas e estão (ou dizem estar) sempre em crise. Então qual a solução?

Bem, ninguém lá achou uma real solução, então acho que vai continuar tudo na mesma. Apesar dos pesares, o Festival da Amadora é excepcional para o tamanho (minúsculo) do mercado português, bem maior e melhor do que qualquer evento que eu vi no Brasil desde as saudosas Bienais dos Quadrinhos do Rio de Janeiro (jamais igualadas!).

Que ele dure ainda por muitos anos, com ou sem problemas!

Hunter (Pedro Bouça)