tintim
Tintim no Congo, o álbum que despertou toda uma controvérsia nos EUA e na Inglaterra no ano passado, acaba de ser republicado no Brasil pela Companhia das Letras. E a editora não viu motivo para atenuar o trabalho de Hergé.
A HQ, na verdade, já foi revista pelo próprio autor 15 anos após sua primeira publicação, em 1931. Em 1946, na segunda edição, Hergé retirou as referências ao colonialismo belga no Congo. Foram mantidas cenas, porém, "ecologicamente incorretas", como a em que Tintim explode um rinoceronte.
"Colocamos uma nota na edição, como fizeram os ingleses, se não me engano, avisando que o livro é edição histórica, e que por isso retrata a mentalidade de um período e não a opinião da editora", explica Thyago Nogueira, editor responsável pela linha Tintim no Brasil.
"Pessoalmente, acho estranha essa censura travestida de atitude politicamente correta. Segundo essa lógica, não poderíamos publicar quase nenhum livro de Tintim, porque afinal a visão é sempre eurocêntrica, francofonocêntrica. Visto hoje, o preconceito de Tintim é tão caricato que pode servir para ilustrar justamente o seu oposto, como o preconceito pode ser ridículo e descabido."
Pela lógica da controvérsia na Inglaterra, boa parte da literatura brasileira também deveria ser censurada. "Como bem lembrou o tradutor dos Tintins, o Eduardo Brandão, ao aplicar a mesma lógica do politicamente correto, teríamos de tirar das livrarias metade dos livros do mundo: obras de Monteiro Lobato, O Triste Fim de Policarpo Quaresma, Macunaíma e tantas outras...", completou Nogueira.
Junto a Tintim no Congo, a editora também lançou mais dois álbuns: Tintim na América e As Jóias de Castafiore. Ainda restam 4 álbuns para a Companhia das Letras completar a coleção de Tintim no Brasil.