Na quarta-feira, a Marvel Comics anunciou que passará a distribuir seu material de livraria – coletâneas, graphic novels etc. – através do maior grupo editorial dos EUA, a Penguin Random House. A Penguin já distribui todas as revistas da Marvel para comic shops desde outubro.
Tratei do primeiro acordo Marvel/Penguin numa coluna de março de 2021. E eu tinha avisado: a PRH não queria as revistas, e sim o mercado de livrarias da Marvel. Feito. O próximo passo é acabar com as revistas, um mercado chato de trabalhar e que dá cada vez menos lucro. E isso pode mudar o jeito de publicar quadrinho, de contar histórias, de colecionar etc.
O avanço numa notícia que a coluna discutiu em março me lembrou de vários assuntos que as colunas levantaram em quase dois anos e que também tiveram desdobramento. É uma coisa que eu acho que nós, jornalistas, devíamos fazer de vez em quando: ver o que aconteceu com aquele monte de pautas já noticiadas, de coisas que iam acontecer ou que podiam se desdobrar para lá ou para cá. E aí, aconteceu? E aí, como ficou?
Esta é a 80ª Enquanto Isso, então tivemos bastante assunto que eu nunca retomei.
Na verdade, se eu contar a coluna número 0, que foi um teste, esta é a 81ª coluna. E lá na coluna zero, em julho de 2020, uma das notícias era que Mayara & Annabelle, série de Pablo Casado e Talles Rodrigues, ia ser relançada em formato digital pela Conrad.
Muita água sobrenatural rolou desde lá. A série não só está disponível completa em versão digital, mas também ganhou duas Edições Definitivas, impressas, também pela Conrad. E esta semana teve outra novidade: Mayara & Annabelle vai virar série live-action.
(Um orgulhinho: falo de Mayara & Annabelle para você desde 2015.)
O assunto principal da coluna zero era o cancelamento de Warren Ellis. Já retomei este assunto em duas colunas, em junho de 2021 e em abril deste ano. Ellis está construindo uma narrativa curiosa a respeito de quanto dura a “pena” de um cancelado. Mas, fora retomar contato com fãs em newsletter e blog, não publicou nada além de um conto independente. E é difícil ler o nome manchado.
Le: Mönet
Na coluna 34, em março de 2021, falei do golpe que vários artistas estavam levando na criação de uma HQ chamada Avanthunt. Tinha um golpista se passando por editor e por escritores, e fazendo contratos falsos. Muito artista levou prejuízo.
Um dos lesados, o brasileiro Bräo, puxou o assunto comigo e com outros canais da imprensa, como o Universo HQ, assim como no Reddit.
A novidade é que Bräo encontrou um jeito de reverter o prejuízo. Como já havia sugerido na coluna, ele criou outra HQ a partir das páginas que desenhou e vai lançá-la este ano com o nome Le: Mönet. O projeto levantou mais de R$ 20 mil no Catarse em poucos dias e você pode apoiar até 4 de agosto.
Quanto a localizar o golpista ou outras providências, não houve avanço. No Reddit, depois da coluna, artistas de outros países comentaram que também levaram o golpe no ano passado.
Este ano também circulou pelas comunidades de design e ilustração o documentário Jobfished, da BBC, com um golpe muito parecido: um sujeito que contratou dezenas de pessoas para uma agência de design/publicidade que não existe. Estelionato nunca sai de moda, infelizmente.
A DC Comics não morreu. E realmente se falava na morte na época da coluna número quatro, de agosto de 2020. De lá para cá, a editora e a Warner passaram por mais trocas de comando e não parou de sair gibi do Batman, de alguns outros aí e do Batman. E a DC vai completar 90 anos bem tranquila em 2024.
Eu estava errado na coluna 37, de abril de 2021, sobre NFTs: ainda se encontra gente falando de NFTs em 2022.
Nesta terça-feira foi anunciado que Berserk vai voltar sem Kentaro Miura – cuja morte foi tema da coluna 43, de maio de 2021.
Suicide Squad: Get Joker, aquela minissérie que gerou uma briga entre autores por retratar o personagem Cão Raivoso como invasor do Capitólio – uma das pautas da coluna 48, de agosto de 2021 – atrasou pra caramba e concluiu suas três edições no mês passado com uma história violenta pra caramba. Mas sem outros papos sobre as predileções políticas do personagem.
Wander Antunes, o quadrinista goiano que foi um dos temas da coluna 5, de agosto de 2020, está anunciando trabalhos novos quase todo mês no Facebook. L'Homme Qui Corrompit Hadleyburg, sua adaptação de Mark Twain, sai em agosto na França pela La Boîte à Bulles. Claire and the Dragons, projeto infantojuvenil que ele fez para a Scout Comics, sai em coletânea este mês nos EUA. Antunes também lançou, no Brasil, Contos de Honra e Sangue (pela Ultimato do Bacon) e deu uma entrevista longa e emocionada na Live de Quadrinhos que vale a pena assistir.
“Li e asseguro que não é um dos melhores quadrinhos brasileiros do ano, mas sim um dos melhores deste ano no planeta”, escrevi a respeito de Escuta, Formosa Márcia em agosto passado, na coluna 49. O álbum de Marcello Quintanilha ganhou o Fauve d’Or do Festival d’Angoulême em março, o Prêmio Grampo 2022 em abril e o Prix Bédélis de melhor HQ estrangeira no Festival BD de Montréal na semana retrasada.
Já tratei duas vezes de “Generations”, a HQ de Daniel Warren Johnson que é a melhor história do Superman em muitos anos – na coluna 50 e na 66. A história teve duas indicações no Eisner Awards deste ano e, se não ganhar, tem algo de errado com o prêmio. Sai este mês no Brasil, dentro da coletânea Superman: Vermelho e Azul.
A Idade de Ouro volume 2, de Cyril
Alguns quadrinhos estrangeiros que comentei na coluna antes de serem lançados ou anunciados no Brasil:
Perramus, de Juan Sasturain e Alberto Breccia, citado por Paulo Ramos na coluna 15 em outubro de 2020 como um dos cinco quadrinhos argentinos que ainda precisam chegar no Brasil, saiu pela Figura em dezembro de 2021 (com tradução de Ernani Ssó). Os outros quatro argentinos continuam sem edição brasileira.
A Adoção, de Zidrou e Arno Monin, comentado na coluna 23 em dezembro de 2020, acabou de sair pela Nemo (com tradução de Renata Silveira). “São vinte, trinta minutos de leitura em que você entra, afunda no quadrinho, duvida com ele, sofre com ele, baba na arte e, quando termina, é como se você tivesse morrido”, escrevi na época. Continua assim.
Jack Kirby: a Épica Biografia do Rei dos Quadrinhos, de Tom Scioli tema da coluna seis, de agosto de 2020, saiu pela Conrad em janeiro de 2021 (com tradução minha)
Muito material DC/Marvel que já se previa que a Panini ia publicar passou antes pela coluna, como Mulher-Maravilha: Terra Morta (coluna 7) e Estranhas Aventuras (coluna 8). Supergirl: A Mulher do Amanhã (nas colunas 59 e 68), de Tom King, Bilquis Evely e Matheus Lopes, que concorre ao Eisner, foi agendada para agosto.
Tem outros por sair: Lore Olympus de Rachel Smythe (coluna 64), chega este mês pela Suma HQ; A Idade de Ouro, de Cyril Pedrosa e Roxanne Moreil (coluna 19), no mês que vem pela Nemo (com o volume 2 em outubro); A Rússia de Putin, de Darryl Cunningham (coluna 68), em agosto pela QS Comics.
Outros foram anunciados mas não têm data: Matadouro 5 de Ryan North e Albert Monteys (coluna 14) pela Intrínseca, Monstros de Barry Windsor-Smith (coluna 19) pela Todavia, Regreso al Edèn de Paco Roca (coluna 22) pela Devir e All of the Marvels de Douglas Wolk (coluna 61) pela Conrad.
Contos da Selva, de Odyr
Quanto a quadrinhos nacionais, é possível que eu tenha criado uma maldição na coluna nove, de setembro de 2020, quando falei de dez trabalhos de autores brazucas que estavam em produção. Só quatro saíram de fato – sendo que dois já estavam prontos.
Desculpas aos envolvidos, não foi minha intenção.
Os Cães ou A Tragédia dos Cães, de João Pinheiro ainda não tem previsão. Embora tenha sido mais do que compensado por Depois que o Brasil Acabou e Barrela, duas outras HQ de Pinheiro que, respectivamente, já saiu e está prevista para este mês.
Já quanto a Contos da Selva, de Odyr, Pigmento, de Aline Zouvi, HQ de Briga 2, de Silva João, Crônicas da Calavera, de João Ferreira e Diego Vieira, e aquela prometida HQ autobiográfica da Laerte, nunca mais tive notícia.
Também gostaria de ler Haya e o Tempo, de Pedro Cobiaco (coluna 24); Banca Jeong, de Ing Lee (coluna 25); Apartamento 501, de Brendda Maria (coluna 26); os longos projetos do Thiago Souto e da Bianca Pinheiro (ambos na coluna 28); além de Djou, de Flávia Lins e Silva, Renata Richard, Cora Ottoni, Leo Finocchi e Lola de Nuncio (coluna 44).
O que não é uma cobrança aos caríssimos autores brasileiros, mas apenas uma manifestação de que eu continuo interessado. E que não sou o único. Torço que esses projetos aconteçam quando tiverem que acontecer.
VIRANDO PÁGINAS
Thereza Saidenberg, roteirista que trabalhou em quadrinhos como Turma do Lambe-Lambe, Pererê, Fofura e Zé Carioca, faleceu ontem aos 83 anos, segundo informações da filha Lucila (também roteirista de HQ) no Facebook. Ela era viúva de Ivan Saidenberg (1940-2009), um dos maiores nomes dos quadrinhos Disney no Brasil.
A primeira versão de Canário Negro estreou na revista Flash Comics n. 86, que chegou às bancas em 9 de junho de 1947, há 75 anos. O mais próximo que eu vi de comemoração foi o desenhista Mike Norton criar um brush para desenhar digitalmente as meias-arrastão da Canário. O filme solo da HBO Max em que Jurnee Smollett retomaria o papel que fez em Aves de Rapina ficou para 2023.
Wolverine ganhou sua primeira revista solo em junho de 1982, há 40 anos, com a estreia da minissérie homônima por Chris Claremont e Frank Miller. Segundo o site League of Comic Geeks, já saíram 2643 gibis com o nome Wolverine nos EUA, o que dá mais ou menos 5,5 gibis por mês desde 1982.
O número 1 de Our Army at War, série de guerra e patriotada da DC Comics, chegou às bancas em 11 de junho de 1952, há 70 anos. A revista durou mais de 400 edições, sendo que as últimas cento e poucas saíram com o título do herói de maior sucesso a estrear nas suas páginas, o Sargento Rock.