Mark Millar é um dos mais respeitados quadrinistas da atualidade. Criador de franquias como Kick-Ass, Kingsman e diversos outras HQs de sucesso, recentemente ele negociou o seu selo, o Millarworld, com a Netflix e prepara diversos novos projetos com o serviço de streaming que envolvem as mais diferentes áreas, como séries, filmes e, também, quadrinhos.
A relação entre os protagonistas de The Magic Order
A história foca especialmente uma família que conta com vários problemas shakespearianos. Fala sobre o lado obscuro de um pai e a relação com suas três filhas e como manter todos juntos, pois tudo que defendem está em jogo. É uma relação complicada, pois eles realmente se importam uns com os outros, mas não quer dizer que eles se amam do jeito que uma família se ama. E acho que o público conseguirá se identificar com essa história, pois todos nós somos filhos ou pais de alguém e isso ajuda a entender as relações deles mais facilmente.
O submundo protegido por mágica
Eu adoro a ideia de um submundo não ser exatamente do jeito que nós pensamos que ele seja. E pensei que seria muito interessante que se as coisas que acontecem nas sombras fossem coisas mágicas e estão bem embaixo do nosso nariz.
Diferença para outros heróis
É diferente, pois muitas HQs são sobre indivíduos que não são casados e não precisam lidar com os pais ou os filhos. Em HQs de heróis como o Tony Stark você não vê muito a relação dele com os pais. Então, essa é uma história muito mais real com uma ligação muito forte com o O Rei Lear [obra de Shakespeare] – pois é sobre um homem velho preocupado com seu “reino”, tendo de lidar com seus filhos, de olho no futuro e uma eventual queda de seu império. Essa estrutura clássica está presente na história.
“Uma parte do acordo que fizemos com a Netflix, quando ela realizou a compra no ano passado, é que além de preparar novos conteúdos para séries e filmes dentro do serviço de streaming, eu também continuaria trabalhando com novos projetos em quadrinhos, que é a minha grande paixão”, afirmou em entrevista EXCLUSIVA ao Omelete.
Projetos em filme, HQ e série
Eu provavelmente farei sete projetos por ano e três ou quatro deles serão quadrinhos. Eu ainda sou apaixonado por HQs e quis continuar fazendo isso. O contrato que assinei junto com minha esposa me proporcionou a oportunidade de criar seis novas franquias e algumas delas serão lançadas em HQ e o resto funciona melhor como uma série ou filme
Inspiração em Quentin Tarantino
Eu sempre admirei pessoas que conseguem trabalhar com vários gêneros, essa é uma das coisas que eu amo sobre Quentin Tarantino. Ele trabalha com filmes de terror, de artes marciais... e eu gosto do desafio de tentar coisas diferentes. E eu amo super-heróis, eu amo sci-fi e também amo coisas mágicas. Então quis tentar algo no estilo Harry Potter, para pessoas que cresceram com o Harry Potter e mundos mágicos e agora procuram algo mais complexo.
Magic Order pode ser uma série?
Com certeza, quero dizer existe uma conversa para uma possível série de televisão. Então sim, para o futuro é possível.
Importância do desenho de Oliver Coipel
O Oliver [Coipel] é definitivamente um dos melhores desenhistas com quem tive uma parceria – e eu trabalhei com artistas acima da média como Frank Quietly e Dave Gibbons. Ele é fantástico pois independente do gênero que ele desenha, ele consegue imprimir a sua marca, então nessa HQ ele consegue capturar as nuances, o realismo e a violência brutal dela. Então, ele consegue levar ao papel tudo que imagino na minha cabeça.
Magic Order em outros países
Estamos falando com a editora Panini sobre a possibilidade de lançar a HQ em outros países. Pois uma coisa que gostamos da Netflix é que ela chega em todos os países e queremos fazer o mesmo com o quadrinho. A ideia é sempre pensar internacionalmente, pois a audiência está crescendo cada vez mais em locais como a América do Sul e a Ásia.
Futuros projetos
Estamos preparando algumas franquias diferentes de diversos gêneros que estamos preparando para o próximo ano. Todos os dias estamos estudando possíveis nomes para roteiro e direção, pois temos milhares de horas de material original e pretendemos produzir o máximo em breve. Se você for comparar, outros [estúdios] produzem algo em torno de 24, 25 horas de material por ano e na Netflix estamos tentando fazer tudo o que planejamos, o que é extremamente animador. Em três ou quatro anos teremos a verdadeira dimensão de tudo isso, pois nosso material estará disponível ao redor do mundo.
Personagem brasileiro?
Eu estou criando um personagem brasileiro neste momento e será algo muito legal. O Brasil é um país muito interessante com fãs apaixonados e outros criadores de quadrinhos tem me falado que preciso ir para a convenção que é realizada por aí [CCXP] e falam que ela é a melhor do mundo. Então, pretendo um dia participar dela. Além disso, gostaria de visitar para fazer uma pesquisa sobre o personagem e ter mais ideias claras de como ele pode ser.
Marvel x DC x Millarworld
Acho que é uma coisa geracional. Quando era mais novo os personagens da DC dominavam: Batman, Superman, Mulher-Maravilha... o imaginário popular era dominado por esses personagens. Porém, tudo mudou nesta geração por conta do trabalho da Marvel [no cinema] e as crianças estão mais interessadas no Homem de Ferro, Capitão América e outros heróis [da Casa de Ideias]. E, quem sabe, os personagens da Millarworld não podem ser o futuro.
Encontros da Millarworld em filmes ou séries
Sou um grande fã de pequenos encontros, pois acho que eles funcionam muito bem. Como a Marvel fez recentemente com o Thor e o Hulk [em Thor: Ragnarok], que apresentou os personagens juntos. Outro bom exemplo é Homem-Aranha: De Volta ao Lar, onde colocam o Aranha junto com o Homem de Ferro. Eu acho que pode ser uma coisa gradual e construir algo para que em alguns anos possamos reunir todos [os personagens da Millarworld] em um filme. Podemos construir devagar, mostrando como eles se conhecem e eventualmente eles vão precisar um do outro.
O primeiro lançamento com a Netflix será The Magic Order, publicação que conta com os desenhos de Oliver Coipel e mostra que o submundo é protegido por cinco famílias de mágicos – que juraram proteger o mundo ao longo de suas gerações. De dia, eles vivem como vizinhos, amigos e cidadãos comuns, mas a noite eles são feiticeiros, magos e mágicos que nos protegem das forças do mal ao mesmo tempo que precisam lidar com problemas verdadeiramente humanos.
Na galeria abaixo, listamos como foi a conversa com o quadrinista, que falou sobre o novo projeto, a relação com a Netflix e a possibilidade de vir ao Brasil. Confira: