Alias é a história de uma super-heroína fracassada que trabalha como detetive particular. A primeira edição contem cenas de sexo entre ela e Luke Cage, mas nada que não se veja na televisão. Bendis, revoltado com a arbitrariedade da gráfica, citou o seriado Família Soprano como exemplo de seriado de TV com imagens de mesmo teor.
Para não perder o prazo de lançamento - 5 de setembro - a Marvel trocou rapidamente de gráfica, enviando o título para a Quebecor, uma empresa de Montreal, Canada, bem longe do Alabama.
Em nota oficial, Arnold T. Blumberg, o editor-sênior da Marvel, declarou:
É de se pensar que voltamos cinquenta anos ou mais no tempo, mas, quando olhamos ao redor, vemos que ainda estamos no início do Século XXI. Apesar do cenário moderno, a Marvel Comics experimentou o gostinho de um tipo de repressão e censura que marcou a crusada contra os quadrinhos nos anos cinqüenta.
A Marvel soube, na quarta-feira, 22 de agosto que a American Color Graphics, situada em Sylacauga, Alabama, decidiu não imprimir a nova ALIAS 1 um dos títulos que inaugura a nova linha madura da Marvel, MAX devido a seu conteúdo "ofensivo". A gráfica literalmente parou as máquinas que produziam esta nova HQ policial do vencedor do prêmio Eisner, Brian Michael Bendis, e do ilustrador Michael Gaydos, apesar da ausência de qualquer material que pessoas de bom senso considerariam ofensivos (os comentários editoriais, é claro, são meus). Felizmente, para a Marvel e os leitores, a empresa canadense Quebecor Printing apresentou-se para imprimir a primeira edição de ALIAS, salvando a pátria.
"Eu estou literalmente chocado", disse Bendis. "Eu não consigo imaginar que coisas assim ainda aconteçam. Não há nada em Alias que não se veja em The Sopranos. Talvez, eles tenham reagido desta maneira, porque a história está no formato de um gibi".
Graças à Quebecor e ao Departamento de Manufatura da Marvel, a data de lançamento de Alias não foi alterada. A primeira edição ainda será posta à venda em 5 de setembro. Supõe-se que as queimas públicas de Alias organizadas por aqueles que pensam que os quadrinhosão aquelas "coisinhas de bichinhos divertidinhos para crianças" vão começar em 6 de setembro
Essa é uma das formas de censura mais antigas e lamentavelmente eficazes dos Estados Unidos: a gráfica, o distribuidor ou o patrocinador de um gibi, filme ou programa de TV recusa-se a fazer sua parte por considerar o produto imoral.
Durante os anos
negros do macartismo, foram principalmente os patrocinadores que induziram as
tevês a colocar roteiristas, diretores e atores na lista negra enquanto
que, no caso do cinema, as distribuidoras tiveram papel preponderante.
O famigerado Comic Code, de quem a Marvel se desligou recentemente, foi
criado pelas editoras como um mecanismo para defendê-las da fúria
podadora das gráficas e distribuidoras (É claro que houve também
uma sacanagenzinha básica com a EC Comics, mas não é disso
que estamos falando agora)
Quase cinqüenta anos se passaram, mas alguns hábitos dificilmente
são postos de lado de maneira definitiva. Lembro que, há alguns
anos, a mini-série Black Kiss de Howard Chaykin foi devolvido
pela gráfica incumbida de imprimir suas edições. Este mesmo
que vos escreve viu-se num cortado quando uma letrista devolveu uma das edições
de Druna intocada.
Com o episódio de Alias, a Marvel vem confirmar o que todo mundo
já sabe de velho: que os quadrinhos, principalmente nos Estados Unidos,
ainda padecem do estigma de sedutores de inocentes. Esta forma de arte está
indelevelmente associada à de um entretenimento destinado apenas a crianças.
Daí, ser alvo frequente de atitudes retrógradas e intolerantes.
No entanto, como bem nos lembra nosso colaborador, Pedro Hunter, a Marvel
imprime grande parte de seus gibis no Canadá, cujas gráficas jamais
encrencam com material algum. Mesmo assim, a editora decidiu enviar essa revista,
que tem uma cena, descrita pelo próprio Bendis como depreciativa, com
sua protagonista branca e tipicamente anglo-saxônica, fazendo sexo com
um negro, o super-herói e ex-presidiário Luke Cage, ao
Alabama, um dos estados mais preconceituosos dos Estados Unidos. Duvido que
a Marvel seja tão ingênua assim. Chama atenção também
a presteza demasiadamente conveniente da Quebecor em resolver uma situação
tão crítica, não&qt;& Além disso, como sempre alertou
Frank Miller, escrever na capa de um gibi "recomendável
para leitores adultos" ou coisa que o valha longe de proteger os quadrinhos
da acusação de atentar contra menores torna os gibis mais polêmicos
alvos fáceis de fanáticos conservadores.
Como eu disse, ingenuidade demais para uma indústria tão escaldada
em caça às bruxas. Só posso dizer que bafafás assim
sempre aumentam as vendas, não é mesmo&qt;& Que melhor maneira há
de se estreiar uma linha para leitores "maduros"&qt;&
Tirem suas próprias conclusões.