Tendo jogado a proverbial titica no ventilador, Morrison não nos deixa outra alternativa a não ser tentar entender o que está acontecendo. Afinal qual a importância de uma nova tendência para o mercado&qt;&
Uma olhada atenciosa nas últimas décadas de quadrinhos americanos nos faz crer na existência de um movimento pendular que conduz o teor das aventuras de super-heróis. Foram anos que oscilaram entre fases ingênuas e momentos mais cínicos, violentos, nem sempre exaltando o heroísmo.
O clímax do realismo veio, porém, na década de 80, quando Frank Miller , Alan Moore e John Byrne , entre outros, encarregaram-se de desconstruir o mito dos super-heróis. Foram obras memoráveis que influenciaram toda uma geração de artistas; nem sempre de forma positiva, haja visto a multiplicação de histórias e personagens violentos, pouco originais e desprovidos de personalidade, tão comuns no início dos anos 90.
SUPER-HERÓI RETRÔ
Foi, em tal cenário pouco animador, que tomou forma mais um redirecionamento ideológico e criativo por parte dos roteiristas, o que nos levou ao chamado “super-herói retrô”, um tratamento que renovou o gênero buscando inspiração no passado de magia e glória das Eras de Ouro e de Prata dos quadrinhos.
Nesta tendência, o nome que mais merece crédito é certamente o de Mark Waid, que iniciou a reação em cadeia ao assumir a revista mensal do Flash e consolidou de vez seus efeitos com a mini-série Reino do Amanhã. Outros que entraram na dança foram Kurt Busiek, Jeph Loeb, Jerry Ordway, Ty Templeton, Mark Millar, Alan Moore e o próprio Grant Morrison. Ele que, aliás, alçou o topo das paradas de vendas com JLA, título que resgatou o espírito original da Liga da Justiça com tramas grandiosas e uma proliferação frenética de idéias.
Quais seriam, então, os motivos da repentina mudança em sua atitude&qt;& O fator que entrego de imediato diz respeito à obra de outro escritor britânico, hoje um dos mais notórios no ramo, mas até recentemente associado a obras de pouca expressão: Warren Ellis. Suas principais criações, as séries contínuas Transmetropolitan, Planetary e The Authority, estão entre as de maior impacto no mercado e mais requisitadas em qualquer loja de quadrinhos.
O caso que requer especial atenção é The Authority, criado por Ellis como evolução da antiga série StormWatch, da Wildstorm, cuja reformulação ele havia iniciado tempos antes. O resultado foi uma versão refinada e perturbadora da JLA, pois Ellis, assumidamente, nunca foi lá grande fã de super-heróis. Mantendo a ação em larga escala – como nas sagas mais recentes da Liga – este notável roteirista recriou arquétipos consagrados. Apollo e Midnighter, que respectivamente equivalem a Super-Homem e a Batman, por exemplo, além de exterminar seus oponentes, formam um casal gay. Warren esteve à frente do título por 12 edições, escolhendo Mark Millar como seu sucessor. Este, até então, era mais lembrado como colaborador de Grant Morrison, possuindo também experiência tanto em temática adulta (Monstro do Pântano), quanto na vertente retrô, onde se destacou por Superman Adventures, inspirado no desenho animado da Warner, desenvolvido por Bruce Timm e Paul Dini.
Em seu arco inicial de histórias Millar, decidiu levar às últimas conseqüências a proposta da série, mostrando os membros da equipe se opondo aos verdadeiros vilões que existem no mundo, assassinando ditadores e tomando em suas mãos os rumos da humanidade. Como dito pelo líder da Authority em resposta a um aflito presidente dos Estados Unidos, eles não são um supergrupo de revistas em quadrinhos enfrentando supercriminosos num mundo onde tudo permanece igual. A polêmica, portanto, vai longe.
MUITAS CABEÇAS, INÚMERAS TENDÊNCIAS
Na Gorilla Comics, outro selo estreante, Kurt Busiek, Mark Waid, Karl Kesel, Joe Kelly e George Pérez, entre outros, juntaram-se para gerir, livres de restrições editoriais, projetos pessoais que diferem inteiramente de tudo o que já produziram. No círculo dos super-heróis, o já citado selo Marvel Knights é boa fonte de novidades, entre as quais aponto a premiada série Inhumans, de Paul Jenkins. Seu texto complexo e intimista não nega o passado na linha Vertigo do escritor. Em Powers, da Image, Brian Michael Bendis vai encarar o desafio de mostrar detetives normais investigando crimes ocorridos num meio de super-heróis. E esses são apenas alguns exemplos.
O estilo retrô nos super-heróis pode ainda não estar, de fato, esgotado. Kurt Busiek, em seu Astro City, e Mark Waid, assumindo agora as rédeas de JLA, ainda hão de escrever uma quantidade considerável de histórias dignas de nota, e por um bom tempo.
A MELHOR CHANCE